20.1 - O imperador

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Emagrecido, sudoreico, com uma longa barba descuidada, seus olhos vermelhos como sangue, há 45 dias impossibilitado de movimentar-se dentro de uma espaçonave de guerra, pelos seus cálculos em algumas horas aquele sofrimento poderia acabar. Pensara em suicídio por 3 ou 4 ocasiões. Dores abdominais, dores articulares já não o incomodavam mais, em suas alucinações ele já discutia sozinho com seus pensamentos, cicatrizes em seus braços pareciam ser auto infringidas, tanto cicatrizes antigas que pareciam ter se fechado a semanas como algumas muito avermelhadas e abertas.

Estava num estado de semi-consciência, suas funções vitais estavam rebaixadas artificialmente para economizar energia corporal, os nanobots naquele ponto funcionavam perfeitamente para proteger o corpo humano.

Em um relâmpago de luzes as estrelas começavam a aparecer novamente no céu, percebeu que estava reduzindo sua velocidade aos poucos, o espetáculo de luzes da hipervelocidade mudara drasticamente. Quando Shitiro percebeu que iria desacelerar, acordou num susto, ativou os cinturões de segurança que se fecharam em X prendendo seu tórax e quadris no assento, colocou o capacete espacial. As roupas e os tecidos acolchoados dentro do capacete já tinham um odor característico, como se um animal tivesse vivido ali por um mês, mas seu olfato não funcionava como antes.

Sentia a desaceleração atingindo o Sabre, aquela pequena nave não tinha sido projetada para aquele tipo de viagem, se segurava nas estruturas, com o corpo já enfraquecido não conseguia recrutar forças suficientes para manter-se posicionado sem se machucar. Ligou os sistemas de defesa da espaçonave e ativou, com dificuldade a cada movimento, redirecionou toda a força da nave para os escudos cinéticos, acelerou os motores ao máximo na tentativa de manter algum movimento após a frenagem do túnel hiperpropulsor, tentava segurar o impacto mas sabia que suas chances eram baixas.

Sentiu a desaceleração num solavanco violento, o caça Sabre emergiu no outro lado do THPE acompanhado de relâmpagos e estalos, o objeto foi cuspido do túnel em rotação, descrevendo uma trajetória completamente anômala. Shitiro usou toda a força do pescoço para erguer a cabeça, a inercia da rotação da nave estava ocasionando o que os pilotos chamam de "lock out", o sangue corre todo para fora do cérebro e o piloto desmaia até que a circulação cerebral seja restabelecida. Conseguiu segurar os comandos da espaçonave enquanto prendia a respiração com forca no tórax com o objetivo de aumentar sua pressão sanguínea intra-craniana, aquela era uma manobra treinada por pilotos para casos de emergência. Ativou a estabilização automática. Os propulsores externos do Sabre atuaram sozinhos jogando a nave numa trajetória retilínea de novo. Durante um minuto ou dois Shitiro estava apagado, mas com a estabilização da nave recobrou a consciência gradativamente.

A sua frente o que viu o fez temer novamente por sua vida. O Sabre não estava sob seu controle, uma atração gravitacional o puxava, ele tentou ativar os motores, mas o Sabre estava completamente inoperante, como se alguém estivesse o guiando, e provavelmente era aquela nave.

Era a maior nave Borck que ele já vira. Uma gigante vermelha com grandes tentáculos, parecia um animal marinho em carne viva, uma comporta de carga se abriu e o Sabre entrou por ela. O canopi e os cintos do Sabre se abriram sozinhos, Shitiro não sabia se era sua imaginação ou se realmente aquilo estava acontecendo, durante os 45 dias que estava em viagem ele tinha visto muitas naves Borck através do canopi do caça, mas nenhuma era real. Aquela em especial parecia muito real.

O interior da nave possuía atmosfera porém não gravidade, ele flutuou até a porta aos fundos, grandes bracos fixaram seu Sabre no centro do convés cargueiro, Shitiro se aproximou e a porta se abriu, o corredor a frente iluminou-se de luzes vermelhas emitidas por estruturas biologicas por quimioluminescência.

Conforme ele flutuava adiante as luzes se acendiam e as portas permitiam sua passagem, ao fundo ele escutava o pulsar característico de uma nave viva. Avançava e via salas com tritonianos em casulos, crianças humanas, adultos, alienígenas que nunca tinha visto. Até que a última porta se abriu, ele tinha visão completa da cabine da nave Borck, e no centro uma poltrona individual, como um trono, localizava-se em frente ao gigantesco coração da espaçonave viva.

Órfãos de Olimpus [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora