O primeiro impacto do veneno no meu corpo foi mental e emocional. Minha mente virou um ninho emaranhado de sentimentos e arrependimento, lembranças me atingiram como uma lufada de vento gelado, arrepiando cada parte do meu corpo.
Comecei a retroceder.
Pai.
— Filha, você tem que cuidar da sua mãe, — assenti — eu jamais deixaria vocês sozinhas. Mas não consigo controlar essa doença dentro de mim. Promete que você vai cuidar dela?Eu tinha nove anos de idade quando o câncer me tirou o meu pai.
— Prometo — falei com a voz embargada.
Desculpa pai, não consegui. Falhei miseravelmente no quesito cumprir promessa.
Mãe.
— Agora somos só nós duas - ela disse quando chegamos em casa, após o sepultamento do meu pai. Lembro-me que eu só chorava e não conseguia dizer nada — Temos que ser fortes, minha filha.Eu não consegui ser forte... desculpa mãe, não consegui.
Aaah, mãe. Como me doí te deixar sozinha. Você fez tanto por mim e olha só a única coisa que consegui fazer por mim mesma!
Namorado.
- Eu sei que é estranho falar em viver juntos para sempre, mas eu sinto que é isso que quero quando se trata de você, sabe Analu? — O Math perguntou. Ele estava tão tímido, que se tornava extremamente fofo.Eu assenti e apertei a mão dele para que continuasse.
— Às vezes você é tão na sua e eu não sei o que se passa. Quero deixar claro que seja o que for, pode contar comigo. Eu quero cuidar de você e te fazer sorrir mais vezes... seu sorriso é tão lindo.
— Conseguiu me deixar com vergonha, Math — falei sentindo meu rosto queimar — para de enrolação e fala logo.
Ele respirou fundo e olhou nos meus olhos. Naquele momento eu enxerguei o amor.
— Quero te pedir em namoro. Estamos ficando há dois meses, e, eu quero poder andar de mãos dadas com você, quero poder te chamar de namorada e ter motivos para passar mais tempo ao seu lado. O que me diz? — ele ficou me olhando, enquanto eu ponderava - Sei que só temos quinze anos...
— Eu aceito.
Ele riu, enquanto fazia movimentos circulares com o polegar na minha mão.
— Namorar comigo inclui me assistir jogando aos domingos e eu sei que você odeia futebol.
— Eu aceito — falei com um sorriso enorme, ao mesmo tempo que ele me abraçava tão apertado que minha vontade era que aquele momento se eternizasse.
Depois de amanhã é domingo, Math.... eu queria tanto te ver jogar mais uma vez. Me desculpe, não consegui ser forte.
Olhando para trás e vendo tudo que deixei, me caiu a ficha de que eu fiz a pior escolha da vida. Me precipitei em dar um fim trágico aos meus dias melancólicos e sombrios. Pensei que havia atingido o meu limite, estava em completo torpor, uma bolha sem emoções. Caindo em um poço dilacerador de tédio.
Eu sei que precisava procurar por ajuda, gritar e tentar tomar outro rumo. Porém, na prática foi o oposto e eu deixei-me definhar. Gostaria de voltar atrás e procurar soluções positivas, sempre tem uma opção melhor e eu sinto-me péssima por não ter pensado assim antes.
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Desculpa, não consegui
KurzgeschichtenAos dezessete anos de idade, Ana Luiza, chegou à conclusão de que cometer suicídio não era, necessariamente morrer; mas sim acabar com a dor. Mas, à conclusão veio tarde demais e já não havia como voltar atrás. Desculpe escrever isso no passado, mas...