Balancei a cabeça tentando me livrar das lembranças em meio ao choro, caminhei até a cozinha, onde larguei o saquinho que ainda estava na minha mão.Senti meu estômago queimar e uma bile intensa subiu pela minha garganta. Corri até o banheiro e joguei meu corpo na direção do vaso. Vomitei — mesmo estando com o estômago vazio —, meu desespero aumentou ao constatar que havia sangue e aos poucos a única coisa que eu colocava para fora eram coagulações vermelhas.
Eu estava morrendo.
Senti todos àqueles sentimentos que estavam reclusos dentro de mim. Uma tristeza tão grande que era quase palpável, a dor se intensificou, gritei por socorro, mas ninguém me ouviu.
Não tinha ninguém para me ouvir!
Merda. Eu queria tanto que alguém me ouvisse.
Cada espasmo que meu corpo dava, era um motivo para que as lágrimas caíssem cada vez mais incessantes molhando todo meu rosto.
Caí fraca no chão.
E ali permaneci.
Minha cabeça começou a doer e não era uma dorzinha daquelas como quando chegamos exaustos de um dia cansativo. Eram pontadas fortes. Por um momento pareceu que eu estava ouvindo o eco do meu desespero gritando, enquanto sentia o efeito do veneno percorrer cada pedaço do meu ser.
Meu coração distribuía socos em meu peito, protestando em taquicardia. Um terremoto acontecia dentro de mim e eu fui a causadora do choque entre as placas tectônicas. Meu estômago doía como se algo me rasgasse de dentro para fora. Rezei, supliquei, implorei.
Eu não queria morrer!
E, por incrível que pareça, houve um motivo que fez minha dor aumentar ainda mais.
Ouvi o barulho da porta da sala se abrindo.
— Ana Luiza, eu trouxe as coisas — a voz da minha mãe ecoou pela casa, fazendo eu me odiar ainda mais — não pense que eu vou fazer sozinha, hein!
Percebi que ela caminhou até a cozinha com as sacolas. Alguns segundos de silêncio.
— O que esse veneno está fazendo aqui, Analu? — sua voz soou exasperada e consegui ouvir os passos vindo em direção ao corredor — Não me diga que apareceu outro rato?!
Ela passou direto pela porta do banheiro.
Parou.
Voltou.
Me olhou.
Soluçou. Ficou pálida. Gritou.
— Não! – correu até o canto do banheiro onde eu estava, abaixou-se no chão frio e passou a mão em meu rosto, chorando e balançando a cabeça em negativo — Você... o veneno? Oh, meu Deus!
Ela pegou o celular e ligou para uma ambulância. Tentei dizer que era perda de tempo. Mas eu já não conseguia mais falar.
Colocou minha cabeça no colo dela, enquanto com uma toalha limpava o sangue que escorria do meu nariz. Arqueei de dor, soltando gemidos de suplica.
— Você prometeu que ficaríamos juntas — as palavras dela me perfuraram como facas afiadas.
Ela continuava balançando a cabeça, descontroladamente, como se aquilo pudesse negar o que estava bem diante dos seus olhos.
— Me desculpa — sussurrei. Inaudível, apenas meus lábios se moveram.
Meu peito gritava. Meus braços ficaram dormente. Estava frio, tão frio.
O restante aconteceu em câmera lenta e de forma embaçada:
Meu namorado apareceu na porta. Olhou para meu corpo estirado no chão e apoiado na perna tremula da minha mãe. Revisou o olhar entre o meu – que estava vago, por sinal – e entre minha mãe que continuava balançando a cabeça em negativo, recitando uma sequência de nãos de maneira dolorosa e doentia.
Ele veio em minha direção, abaixou-se e segurou minha mão. Chorou e aquilo me destruiu ainda mais, eu nunca o havia visto chorar.
— Não acredito que você fez isso comigo — sussurrou, derramando-se em lágrimas.
Ele estava me achando a pessoa mais egoísta do mundo, eu sei.
— Por que, Analu?
Olhei para ele. Meus olhos marejados e o rosto contorcido de dor. Me odiei por não conseguir pedir desculpas.
— Porra! Eu te amo tanto, cara! — Math gritou — Eu te falei para me contar as coisas! Eu queria te ajudar. Eu não fui o suficiente, é isso? — ele respirou fundo — o que será de mim sem você...
Parei de ouvir.
Minha visão ofuscou.
Sempre achei mentira o fato de falarem que o mundo um dia acabará. A dor se tornou absurdamente insuportável. Meus olhos fecharam. Afundei na mais profunda escuridão. Sofri e não valeu apena o que eu fiz. E o mundo acabou... só para mim.
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Desculpa, não consegui
Storie breviAos dezessete anos de idade, Ana Luiza, chegou à conclusão de que cometer suicídio não era, necessariamente morrer; mas sim acabar com a dor. Mas, à conclusão veio tarde demais e já não havia como voltar atrás. Desculpe escrever isso no passado, mas...