Lory não acreditava no que tinha acabado de acontecer, foi impulsiva, ignorante, devia ter ouvido os conselhos que as pessoas do castelo haviam dado a ela. Mas não, ela preferiu agir de cabeça quente e se aventurar para buscar a planta que o pai precisava para se curar. Agora ela estava presa numa caverna, com um gigante limpando uma ferida em sua perna, causada pela queda do cavalo.
— Eu não devia ter feito isso – Pensou em voz alta.
— O que você disse? – Perguntou o gigante, enquanto lavava o ferimento na perna esquerda da princesa.
Diferente dos cuidados que ela tinha no castelo, dessa vez sua ferida estava sendo tratada com, literalmente, um banho em sua perna, com direito a muita água e sabão caseiro.
— Nada, pensei alto – Explicou ela, batendo o queixo devido à baixa temperatura da caverna.
— O que você está fazendo fora do castelo? Nunca em minha vida vi um ser humano saindo daquele castelo, exceto aqueles com armaduras.
— Os guardas.
— O quê?
— Esses homens armados e com proteções de metal, eles são guardas, tem o dever de proteger o castelo – Disse Lory, antes de dar um grito, quando Nerval pegou um punhado de sal e jogou em sua ferida aberta. – É que eu precisei sair do castelo. Não tinha mais nenhum guarda que se dispusesse a sair para procurar a planta chimyons.
— E qual o motivo de você querer essa planta? – Perguntou Nerval, secando com um pano limpo a perna da princesa.
— Meu pai está muito doente, e, se ele não for medicado o quanto antes, ele morrerá.
— E você acha que pode entrar na floresta e pegar essa planta?
— Tenho que fazer isso, não por mim, mas pelo meu pai, o reino precisa do seu rei.
— Você é filha do rei?
— Sim, sou a princesa do reino.
— E seu irmão, já está preparado caso seu pai venha a falecer?
— Eu não tenho irmãos, a herdeira sou eu e ele não vai morrer.
— Mas é impossível você ir à floresta.
Lory ficou um pouco pensativa, aquele gigante tinha razão, ela não poderia ir para a floresta cheia daqueles pássaros, sua morte era certa.
— Mas você pode – Disse ela, quebrando o silêncio. – Você já me salvou uma vez dos pássaros, mesmo eu tentando te matar, você quis me salvar. Você faria isso por mim?
Nerval estava ainda de cabeça baixa, fazendo um curativo com uma folha verde grande. Ao ver que a folha tinha estava presa à perna da princesa, Nerval levantou o rosto e respondeu:
— Sim, eu faço isso por você.
Lory não tinha olhado diretamente nos olhos do gigante e agora, com seus rostos a dois palmos de distância, ela pode ver melhor os traços dele. Ele tinha um rosto completamente humano, na verdade, todo o seu corpo era humano, a exceção era o tamanho consideravelmente grande. Ele tinha um colar de barbante pendurado no pescoço, que trazia um pingente tão azul quanto o gelo que revestia aquela caverna subterrânea.
— Obrigado! – Agradeceu ela.
Nerval pegou a capa dela que foi preciso tirar para fazer o curativo e a cobriu de volta, em seguida pegou na mão direita de Lory e a encostou ao pingente.
— Ai! Isso queima – Gritou Lory quando o objeto entrou em contato com a sua mão.
— Esse pingente é revestido de gelo para que o calor não pare o nosso coração, não sabia que te machucaria. Perdoe-me.
— Existem outros como você?
— Mais três, o Marx, o Carlos e o Alex – Contou ele. – A propósito, meu nome é Nerval, ainda não nos apresentamos.
— Lorena, mas todos me chamam de Lory.
— É um prazer, Lory – Disse Nerval, abraçando-a e novamente encostando o pingente nela.
— Ai!
— Perdão, de novo – Ela riu.
— Bom, Lory, posso perfeitamente ir a floresta pegar as ervas para você, isso não demorará nem mesmo uma hora, mas você precisa se esconder, se os pássaros descobrirem que tem um humano aqui, eles podem te matar. Então fica quieta até que eu volte.
— Pode deixar.
E com a aprovação da princesa Nerval saiu correndo da caverna, fazendo com que o chão tremesse com seus pés tocando o chão.
- - -A corrida até a floresta foi rápida, o barulho das asas dos araruís no céu era o único som que se ouvia no caminho. Chegando à floresta, o primeiro gigante que ele avistou foi Alex, que estava colhendo inúmeras cestas de uma fruta que só se encontrava naquela floresta. O outro estava tão focado no serviço que nem percebeu que o amigo se aproximara.
— Alex, você sabe me dizer onde encontro a planta chimyons? Preciso de algumas folhas – Perguntou Nerval.
— Que susto! – Exclamou Alex, virando-se para a direção de Nerval. - É aquela planta pequena ali, para que você quer isso?
— A princesa, filha do rei, está procurando.
— E como você sabe disso?
— Ela saiu do castelo a procura, quase foi morta pelos araruís. Eu a abriguei na nossa caverna e. . .
— TEM UMA GAROTA NA NOSSA CAVERNA?
— Tem sim, e ela está precisando urgentemente dessa planta para curar o pai dela.
— Tem uma garota na caverna e você está agindo como se isso fosse normal? A única garota que a gente conheceu foi a. . .
Nerval tampou a bola de Alex para que ele não continuasse a falar a frase, o gigante não contrariou e se calou no mesmo momento.
— Não vamos falar dela, ela está morta, ficar lembrando não nos ajuda em nada.
— Mas como você vai fazer para levá-la de volta ao reino?
— Eu não sei, só não podemos deixar outra mulher morrer em nossas mãos. Chame os outros, salvar a princesa dos araruís é uma missão impossível.
E colocando um fim no assunto Nerval andou rumo à planta de chimyons, colheu umas folhas e colocou dentro do bolso para levar para a princesa.
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Criaturas do Inverno
Fantasia"O gelo, apesar de frio, queima. Então tenha cuidado ao mergulhar nessa história que as feridas podem nunca mais cicatrizar." No reino em que o pai de Lory governa o inverno é sinônimo de resguardo. Ninguém entra ou sai do Palácio que ela mora, tod...