Capítulo 1 - Rosa em Selva de Pedra

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Acordar ao som das buzinas frenéticas e falatório intenso dos transeuntes que entravam pela pequena janela protegida por grades que ficava bem em cima na parede já havia se tornado uma rotina. A abertura por onde entrava um pequeno facho de luz ficava na altura da calçada e os passos apressados das pessoas ecoavam como marteladas na cabeça de Rosa.

Levantou-se com muito custo e foi se arrastando como um zumbi até o minúsculo banheiro, conjunto ao quartinho que alugava no fundo do mesmo pub onde a noite servia (e bebia) muitos shots das mais diferentes bebidas. "Mas que vida medíocre" qualquer um poderia falar. E quando não falavam, faziam cara de quem estava pensando exatamente nisto.

Mas muitos como ela estavam fadados a nadar e morrer na Praia. No Bronx, um lugar coberto de guetos e sonhos, eram poucos aqueles que podiam sair e brilhar.

Lavou o rosto e escavou os dentes com desgosto, sentindo na língua o toque amargo da ressaca. Dali pra frente engoliria duas aspirinas junto com o café que tomaria do outro lado da (pois apesar de já passar da hora do almoço, não tinha estômago nenhum para nada mais sólido do que grãos de açúcar baratos mal dissolvidos no líquido escuro e reconfortante).

Vestiu um jeans e manteve a camisa vinho que usara para dormir, calçou seu par de tênis surrados, vestiu sua inseparável jaqueta de couro preto e abriu a porta que dava para o bar, a esta hora silencioso e estranhamente pacífico quando a música alta e as discussões não enchiam o ambiente. Recordou de leve que Chuck, seu amado e barbudo patrão, havia lhe pedido para que ligasse para o fornecedor de soda e avisasse que o pagamento sairia ainda esta semana. Resolveu que faria isso após forrar o estômago.

Trancou a porta atrás de si e atravessou a rua com a mão na frente do rosto, evitando ser chegada pelo sol da tarde. Entrou na pequena lanchonete de esquina e sentou-se num dos banquinhos de frente ao balcão.

Todo o Bronx era povoado principalmente por negros, imigrantes e seus descendentes e o pequeno estabelecimento de George Linch e sua filha não era diferente. Ela mesma nascera longe na Colômbia, fugindo da fome e da pobreza junto aos pais e agora encontrava seu conforto ali.

- Que cara horrorosa! - Megan exclamou, do lado de dentro do balcão - Foi mais uma noite daqueles em que você enche a cara em algum tipo de aposta doida? - A melhor amiga aproximou-se dela, com uma jarra fumegante de café em uma das mãos.

Megan Linch tinha a pele escura e sem nenhuma imperfeição, lembrando a superfície de uma.pérola negra. Os olhos grandes e castanho esverdeados sobressaíam por entre os cílios longos. Os cabelos sempre muito fartos e bem cacheados permaneciam comportados dentro da touca que impedia o contato deles com a comida. Megan sorriu com os lábios fartos, sempre pintados com batom escuro, quando Rosa enterrou os dedos nos cabelos, massageando a cabeça.

- Você me lê como a um letreiro de led - Rosa respondeu - Eu tenho que parar de achar que posso exceder meus limites.

Megan colocou uma xícara a sua frente e encheu-a com o café. Debruçou-se sobre o balcão para sussurrar.

- Você tem que parar de buscar consolo em copos de bebida...

Rosa te virou os olhos, contrariada, mas isso não impediu a amiga de continuar.

- Não adianta fazer essa cara pra mim. Rosa...você é jovem, inteligente e linda! Pode sair dessa vida e arrumar algo melhor para si! Eu tenho certeza de que Chuck não se importaria de atrasar algumas cobranças de aluguel enquanto você procurasse...

- "...um emprego melhor do outro lado da cidade". Megan, esse seu sermão eu já sei de cor. - retirou as aspirinas do bolso da jaqueta, já fora do pacote e enfiou as duas de uma só vez na boca, engolindo-as com café - Em primeiro lugar: eu gosto dessa vida. Em segundo lugar: Vou sair daqui para ser babá? Assustar as crianças? E em terceiro lugar: já falei que adoro meu trabalho? Sou paga para beber de graça!

Megan balançou a cabeça, em negativa.

- Minha amiga, te amo demais e nunca lhe desejaria mal, mas saiba que seus comportamentos desleixados e excessivos ainda podem te reservar coisas ruins.

Rosa bebeu o resto do café em uma virada só e colocou a caneca de volta no balcão, junto a uma nota amassada.

- Seja lá o que me espera no futuro eu encaro de peito aberto. Sempre encarei e não será agora que darei uma de covarde.

Após dizer isso Rosa saiu da lanchonete, irritada.

Nada nesses vinte e quatro anos havia abalado sua confiança. Nem tudo o que havia enfrentado até chegar a América, nem o fato de seus pais terem trabalhado até a exaustão para que ela pudesse ter a melhor vida possível e que, nem mesmo após terem sucumbido cada um a seu tempo, ela fraquejou.

Olhou-se na vitrine de uma barbearia. Os longos cabelos ondulados e a pele bronzeada continuavam iguais, por mais que ela tivesse desejado ser diferente na infância. E o que era sua vergonha naquela época hoje se tornará motivo de orgulho. Esta força que trouxera consigo de seu país de origem não a abandonaram tão cedo, não importava que desafios ainda estariam por vir em sua vida.

N/a: Olha eu aqui mais uma vez! Bom, eu perguntei no Blog se vocês se sentiriam confortáveis com um livro sobre vampiros...bem, este romance fala sobre dificuldades, mas também vai ter ação, drama e amor (que não pode faltar). Estou sem PC e esse celular é HORROROSO para escrever (fica dando espaços sozinho e "corrigindo" tudo errado). Isso e mais algumas coisas colaboram para que eu não poste com muita frequência. Espero sinceramente que me entendam e que também se divirtam na medida do possível. Beijos mil!!!!

Predador (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora