Impetuosos Ventos

Capítulo 3

Grace não percebeu que ele já tinha notado a presença dela ali. Talvez pelo seu perfume.

__Faz tempo que me observa? Senhorita Grace. Você parece alegre, o choro pode durar uma noite mas a alegria veio pela manhã mesmo.

__Não, parei aqui nesse instante e fiquei alegre por você ter achado o que comer. Eu lhe trazia três pães e dei para uma criança e para mãe que me pediu, não sabia como seguir por aqui e não lhe der nada. Mas eu fiz pela fé e graças à Deus deu certo.

__Que bom! Gostei do que fez, continue ajudando o próximo principalmente se for uma criança.
Você gosta de crianças?

Grace abre um leve sorriso antes de responder.

__Sim, mas não tenho filhos ainda. Acho que o dia mais feliz da minha vida foi quando eu fiz um parto de gêmeas, mesmo eu sendo enfermeira eu não estava preparada. Tudo foi acontecendo e eu sem entender, derrepente cheguei naquela casa e nunca mais eu soube à respeito daquela mãe e das meninas.

__Isso acontece é o vento impetuoso soprando. Fique preparada, logo você será mãe, mais rápido do que você imagina. Não se assuste se isso acontecer à qualquer hora.

__Como eu não vou me assustar com você dizendo essas palavras?
Eu não tenho nem namorado e nem pretendente. Sendo assim, como vou ser mãe à qualquer hora?

Ainda mastigando o pão, o mendigo olha nos olhos de Grace e abre um leve sorriso.

__Na hora certa você saberá, não sei de nada, apenas uso a fé que tenho se ela estiver certa não sei te dizer. Creio por meio dela que sim.

__Você deve ter muita fé mesmo pra dizer uma coisa dessa. Você é Cristão?

__Sim. Eu já fui levita quando jovem e praticante assíduo da fé.

__Nossa! Eu nem usando toda fé do mundo ìa imaginar que você fosse levita. E porque não é mais?

__Acha mesmo que eu vou entrar nas igrejas na situação que eu vivo? Não. Algumas nem me aceitariam e ainda pregam que Jesus não faz acepção de possoas, a igreja deve seguir esse exemplo e acabam contrariando o que prega sem mesmo examinar sua própria consciência.

__É verdade por mais lamentável que seja, o ser humano é muito falho. Você deve ser um ótimo cantor e está aqui sem oportunidades. Às vezes eu me pergunto porque tem que ser assim, mas eu não tenho respostas.
A gente já conversou tanto e eu ainda não perguntei seu nome, poderia me dizer?

__Nome é uma coisa que eu não tenho. Mas se não quiser me chamar de mendigo ou morador de rua, fala o primeiro nome que vier na sua mente e esse será meu nome daqui pra frente.

__Não consigo lembrar de outro nome sem ser Joshua. Você se passará a chamar Joshua e ter o mesmo nome de um homem que salvou meu pai do trabalho escravo, um herói...

Grace fala como se já soubesse.

__O que está dizendo? Não pode ser, por acaso você é filha do senhor Mason? Não pode ser, não é possível.

__É possível sim. De onde você conhece meu pai? Nunca mais sabemos a seu respeito do Joshua nem mesmo sobre o aconteceu com o pai dele. Você o conhece?

Grace olha ver lágrimas descendo sobre aquele rosto daquele homem barbudo e cheio de marcas de expressão.

__Responde, você à conhece? Por que chora?

__Esse que você está falando sou eu. Esse Joshua sou eu mesmo, foi eu quem denunciou o próprio pai e dei liberdade ao senhor Mason e tantos outros, foi eu e hoje pago por trair o meu próprio pai para que muitos de seus escravos tivessem liberdade de viver livres daquela pedreira lá eles se sentiam no inferno, pra mim ainda continua sendo vivo preso ao meu passado.

Grace estava diante de Joshua o herói perdido que perdeu tudo por lutar contra o próprio pai pra libertar dezenas de homens. Mason era o mais judiado de todos por ter perdido a fala e sua capacidade de realizar o trabalho pesado por causa de um AVC. O pai da Grace ficava até dois dias sem comer, era uma única refeição por dia e muito trabalho à começar pela manhã e terminar só no fim da tarde onde todos famintos iam comer, Mason como já não aguentava trabalhar, apanhava muito e deixava sua comida pra quem trabalhava de forma mais esforçada, ao todo seriam trabalho pra mais de ano, mas Joshua desconfiava do pai, escondeu-se na caminhonete dele e acabou chegando no lugar que seu pai tanto lhe negava levar, aquela situação feriu o jovem que já sofria perseguição religiosa do pai ateu, naquele mesmo dia Joshua denunciou o próprio pai e pôde libertar dezenas de homens que tinham direito de apenas cinco dólares por semana, justo a mesma quantia que Grace queria dar de esmola para Joshua.

Em silêncio sobre emoção Grace queria abraçar fortemente o Joshua. Mas ele à recusou por estar sujo ela insistiu e ele à mostrou que ela seguisse seu caminho rumo ao trabalho, ela implorava por um abraço e se distanciou até cobri na esquina ainda olhando pra trás.

Chegando no hospital que trabalhava Grace, continuava calada. Era uma longo dia pela frente, uma menina muito querida por todos ali no hospital que havia tido uma recaída, Grace não conseguia nem vê-la mais durante o passar das horas e seu estado só piorava, ela não queria olhar para menuna e não puder ver um sorriso saindo da sua face como já estava de costume todas às manhãs, por volta das 16:00 horas da tarde, Grace avistou o médico que acompanhava a menina do lado de fora do hospital, não precisou nem mesmo perguntar, todas as vezes que alguma criança ou pessoa humilde dava seu último suspiro ele ìa para os fundos do hospital ao ver que nada mais restava e na menina ele incansavelmente não aceitava sua morte e tentou ressuscitar até quando viu que não adiantava. Grace se juntou à ele e acompaharam o sol se pôr lembrando da menina, mais um dia difícil se encerrava, mas a noite que logo chegava também lhe guardava surpresas.

Na volta pra casa já no crepúsculo que emitia vários tons de avermelhado, com alaranjado e amarelado nas nuvens. Grace encontra Joshua no mesmo lugar.

__Eu queria te fazer um pedido, um pedido de filha por um pai. Joshua, não é só pelo que eu descobri sobre você, mas eu não quero te ver mais pela rua. Quero que venha comigo.

__Você já deve saber que minha resposta é não. Você e nem o seu pai me deve nada.

__Você sabe de quem ele nunca se esquece? O senhor Mason pergunta sempre por ti. Ele teme que você já esteja morto e chega se esforçar pra falar o teu nome. Joshua é uma dos poucos nomes que ele fala que da pra entender, ele é praticamente mudo, mas seu nome nunca foi um problema pra ele dizer. Você fez tanto por ele, passa essa noite em casa.

__Eu queria vê-lo de perto, como já disse eu o vejo indo pra igreja, nunca consegui vê-lo de perto vejo de longe e nem mesmo desconfiei que era o velho amigo Mason. Mas acho que não é o momento, ele não me reconheceria e ninguém da sua pensão gostaria de me ver entrando lá.

__Faz assim, entramos pelos fundos e te arranjo uma roupa limpa e nova, você toma um banho e somente depois disso eu te apresento à ele.

__Está bem, não que eu queria ir, mas eu volto pra cá, ainda hoje.

__Torço para que você não sinta essa vontade e nem se sinta preso aqui.

Mason estava feliz naquela noite parecia saber que algo estava perto de acontecer, Grace tocou na porta do seu quarto e empurrou devagarrinho ele à observava até ela se aproximar, logo Leah também entrou e deu um beijo na testa do seu amado, sem entender Mason se assustou no meio daquele silêncio.

__Pai, eu tenho uma surpresa pra o senhor.

Continua...