Preparativos para a viagem

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Acordou já era umas dez horas da manhã.

O pessoal da loja da frente veio bater na sua meia-porta. A porta que havia serrado ao meio para fazer igual as dos bares dos cowboys que apareciam nos filmes.

- O que houve? Não foi para a feira hoje?

Ainda sonolento ele espreguiça.

- Não vou abrir hoje!

- Cara que é isso em sua cabeça? - pergunta um rapaz de cabelos loiros cortados bem rente a pele.

- Nada não! Se chegar alguém diga que vou ter de fechar por alguns dias. Faz o favor.

- Sério!? Espero que isso não te atrapalhe para pagar o aluguel no fim de mês. Mês passado já atrasou quase dez dias.

- Eu vou te pagar o aluguel. Confie em mim.

- Cê que sabe! - diz o rapaz e sai pela porta interna por onde tinha entrado na loja.

- Mais uma coisa para me preocupar. Merda de aluguel! Tenho que colocar uma tranca nessa porta aqui por dentro, senão esse urubus vão ficar entrando e saindo daqui a torto e a direito. - resmunga o rapaz ao fechar a porta.

Após tomar banho ele saiu e foi até o andar debaixo da casa na tentativa de encontrar Ricardo. Como imaginara o rapaz sumira.

Voltou até o sebo e acessou o computador e entrou em seu e-mail.

Procurou por algum e-mail estranho. Após olhar vários um lhe chamou a atenção. Fora remetido por alguém chamado Elisabeth Porto.

O assunto era "Ontem a noite".

"Caro Rani, Meu nome é Beth, Elisabeth, sou a secretária do Sr. Paulo de Almeida Pinto, e ele me pediu que lhe enviasse este e-mail com os documentos em anexo para o senhor imprimir.

O primeiro documento é o bilhete da passagem de Florianópolis a São Paulo e de São Paulo até Porto com escala em Frankfurt e de lá, de Frankfurt até Porto, Então são 03 passagens. Ele também pediu para lhe enviar 2 mil euros. Conseguimos localizar uma conta sua e depositamos esse valor. O senhor tem que pegar esse dinheiro, já que não tem espécie para viajar, segundo ficamos sabendo.

O segundo documento digitalizado é uma autorização para o senhor usar na alfandega caso tenha algum problema, mas se seguir as instruções isso não irá acontecer.

Assim, estamos aguardando o senhor em Porto na próxima Segunda-feira. Orientamos que aqui o fuso horário é de 4 horas a mais que seu Pais. Qualquer outra dúvida, nos consulte. Mas somente se não tiver entendido algo, pois o chefe acredita que nada mais é preciso falar. Passar bem."

Curta e seca.

Consultou o extrato do banco. Putz! O dinheiro estava lá mesmo. Caramba! Mas ele nem tinha passado número de conta algum. Como essa gente sabia essas coisas? E agora? O que fazer?

Sentou-se e ficou imaginando mil coisas.

Se desistisse de tudo o velho poderia muito bem lhe colocar na cadeia.

Ir para Portugal não lhe parecia tal ruim assim, afinal era um pais onde se faria entender e conseguiria entender as pessoas muito bem.

O problema era a loja. Deixar a loja fechada, por quantos dias? 10 dias? Talvez mais, talvez menos. O homem não havia lhe dito quantos dias queria que ele ficasse em Portugal.

Poderia deixar a loja para Kátia tomar conta, mas muitas coisas ela não dominava e por isso ele não tinha tanta confiança nos serviços dela.

Não via outra solução. Teria que fechar a loja.

Isso teria problemas na internet. Teria que avisar os administradores do site para bloquearem seu estoque para que o pessoal não acessassem seu acervo e fizessem novos pedidos.

Os pedidos? Rapidamente entrou e olhou se havia algum novo.

Dois pedidos.

Imprimiu os pedidos e com a folha em mãos correu as prateleiras atrás dos livros comprados.

Os separou. Pegou um saco bolha, cortou, cobriu os livros, cada um separadamente, com o plástico bolha e então os enfiou em um envelope, separadamente, pois cada um iria para um endereço diferente.

Então pegou o telefone e ligou para Kátia avisando a ela que teria que fechar a loja por duas semanas, mas que antes gostaria que ela lhe fizesse um ultimo favor.

Deixaria dois pedidos para ela entregar nos correios, com o pessoal da loja da frente. Se ela pudesse fazer isso na segunda a tarde ajudaria.

A garota disse que não teria problema algum em fazer isso. Podia contar com ela.

Ficou arrumando as roupas no sábado a tarde. A passagem era para Domingo ás 13:40 e tinha muita coisa para fazer.

Não levaria muita coisa, mais uma muda de roupa, cuecas e uns dois, tres pares de meia.

Pouco volume. Melhor para viajar, andara lendo.

No Domingo acordou cedo e foi até a igreja São Francisco no centro da cidade, bem próximo do sebo. Fazia tempo que não ia na missa. De repente se via perturbado por forças além de sua compreensão. Fé sempre faz bem. Rezar também.

Voltou para o sebo, pegou a mochila, conferiu o celular se tinha carga, contou as notas na carteira. Daria para comer algo no aeroporto. Descobrira que lá no próprio aeroporto havia uma casa de câmbio que poderia lhe trocar o dinheiro.

Saiu de casa umas 11 da manhã, pegou um táxi e em menos de meia hora estava no aeroporto.

Detestava andar de avião. Nos poucos voos que fizera, dentro do seu país, se sentia um palito dentro de uma caixa de fósforo. Não tinha visão alguma lá de fora. E acima de tudo, colocava sua vida, cegamente, nas mãos de um homem qualquer, chamado de Piloto. Como se já não tivesse problemas demais.

Ao sentar-se na poltrona do avião fez o sinal da cruz e uma moça do outro lado do corredor sorriu ao perceber o gesto. Ele virou o rosto.

O livro maldito  - Os Órfãos de DeusOnde histórias criam vida. Descubra agora