Capítulo 3

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Quando entrei na grande sala real o baile já havia começado, vários corpos se movimentavam ao som da flauta, todos estavam em sintonia. Contive minha vontade de dançar, deveria esperar alguém vir me convidar, porém estava tão animada com o som que poderia sair dançando sozinha.
Algumas meninas já estavam sentadas, pareciam cansadas e ansiosas, outras estavam a mil dançando com elfos e até alguns gnomos, felizes e radiantes, a música fazia isso com nós.
Me sentei ao lado de Nasia, ela estava inquieta, se mexendo na cadeira branca observando o local, as vezes esticava a cabeça, como se procurasse alguém ou algo.
Depois de um tempo ela percebeu que eu estava do lado dela e deu um largo sorriso, mostrando que estava alegre por eu estar ali.
- Oi! – Ela falou, os olhos estavam brilhando, depois voltou a procurar alguém pela multidão de vestidos e ternos.
- Olá. – Disse, dando um pequeno sorriso. Olhei para os lados para tentar entender o que ela estava procurando, porém não vi nada que parecia lhe interessar e nem me interessar.
- Eu estou... – Nasia fez uma pausa, possivelmente pensando se deveria me contar ou não. – procurando uma pessoa, mas acho que ele ainda não chegou.
- É alguém da sua família? – Perguntei com pouco interesse.
Nasia soltou uma pequena risada, a franja caindo sobre os olhos:
- Se ele fosse da minha família com certeza eu não estaria aqui.
Me calei, esperando ela explicar o que estava dizendo, entretanto ela não quis dar nenhuma explicação, ela continuou sorrindo, procurando o tal garoto pela imensa sala.
Um elfo de longos cabelos loiros e porte atlético me convidou para dançar, como não tinha nada melhor, tive que aceitar, meio receosa por deixar Nasia sozinha, entretanto ela apenas sorriu e me deu um aceno com a cabeça.
Dançamos por longos minutos, mesmo que não estivesse gostando do meu par, eu era obrigada a dizer que ele dançava muito bem. A música era maravilhosa, nos levando a dançar como nunca, girando e girando por entre todos, sorrindo e rindo.
- Povo de Avalore!! – Um homem alto e com voz grave gritou, seu rugido assustou a todos parando rapidamente tudo, a música murchou como uma flor que fica seca por conta do árduo sol.
Observei Nasia se movimentar e sair do seu lugar, indo em direção para os tronos adornados com folhas e flores de pedras preciosas, ouro e prata. Segui ela, abandonando o meu par sozinho. Paramos juntas, estávamos próximas agora do trono majestoso.
- O grande rei Maloh os saúda! – O homem gritou novamente e os elfos guardiões abriram as altas portas de ouro mostrando o rei Maloh e sua família.
- Abram caminho! Abram caminho! – Um gnomo falava para a multidão, todos abriram caminho obedientes, ninguém queria ver a ira do rei.
Alguns davam urros de vitória, enquanto outros gritavam “Viva ao Rei!”, todos estavam animados com a chegada da família.
Nasia estava mais inquieta que antes, nos afastamos para abrir caminho a Rei Maloh, ele estava majestoso, com uma longa capa nos ombros preta e uma imensa coroa sobre a cabeça.
- Viva a Rainha Elisea! – Alguém gritou e todos começaram a gritar juntos, soltando assobios.
A rainha estava mais sorridente que o normal, acenando para todos e agradecendo pela homenagem, era conhecida com a “Bondosa”. E realmente era, diferente do esposo, que era insensível.
- Viva ao sucessor do trono! – Ouviu-se outro grito quando um jovem rapaz adentrou seguindo sua mãe, os cabelos negros caiam como cascatas sobre os ombros, ele sorriu com o brado da pessoa. Parecia ter a mesma característica que a mãe, era simpático e alegre, pelo menos de início parecia ser.
A menina ao meu lado soltou um pequeno gritinho. Observei Nasia, os olhos começaram a brilhar de emoção, o sorriso não cabia em seu rosto, de tão largo, era ele que ela estava procurando.
Como não pensei nisso?
Junto com o príncipe herdeiro havia um pequeno menino, ele estava segurando a mão do irmão mais velho, mesmo assim tentava parecer o mais velho que podia, erguendo o queixo o máximo que pode para parecer alguém a se temer. Chegava a ser fofo.
- Então é ele que herdaria o reino se algo acontecer com Axel... - Ouvi alguém falar atrás de mim. Foi algo tão baixo que parecia ter sido sussurrado para mim, contudo quando virei para trás não havia ninguém.
- Eu, o Rei de Avalore, os saúdo, meu povo – O rei falou em pé antes de se sentar em seu trono, a rainha e seus filhos o seguiram, sentando em seus determinados lugares.
- Salve o rei de Avalore! – Todos bradaram.
Após o rei se sentar em seu trono, uma taça com um líquido azul foi lhe dado e ele bebericou rapidamente.
- Todos sabem por que estamos aqui, então vamos resolver logo isso – O rei falou impaciente, estalando o dedo e chamando um pequeno homem.
- Será que ele irá anunciar agora? – Nasia sussurrou, os olhos cheios de esperança.
- Possivelmente sim – Respondi, observando a elegante família.
Meu olhar se prendeu ao príncipe mais velho, ele estava mais normal que os outros, nada de terno ou coisa do tipo, ele estava com apenas uma camisa branca e fina, e uma calça preta, nada que lhe chamasse a atenção como os outros da família real, só a coroa o diferenciava de nós.
Ele percebeu que eu o estava fitando e me olhou por alguns segundos que pareceram minutos, acenou de leve a cabeça como se fôssemos velhos amigos, desviei o olhar rapidamente com vergonha de ter sido pega.
- Ele está mais lindo que o normal. – Nasia suspirou ao meu lado, observando o mesmo lugar que eu observava a segundos atrás.
- Já falou com ele? – Sussurrei para ela, um pouco curiosa para saber o por quê de tanto interesse pelo príncipe.
Ela apenas balançou a cabeça devagar, parecia indecisa, o olhar ainda estava sobre o herdeiro.
- Há cada dez anos uma jovem fada é escolhida para uma missão muito corajosa – O rei Maloh começou com sua explicação. -, visitar o reino dos humanos e descobrir se ainda podemos viver entre eles e se ainda creem em nós. Essa fada é escolhida por mim e enviada imediatamente para cumprir seu dever e voltar, relatando o que viu.
- Isso acontece desde primórdios, é uma tradição, então devemos cumpri-la para o bem de todo o povo de Avalore – A rainha falou com a voz doce e cheia de convicção.
- Porém, a cada década a incredulidade vem tomando conta dos humanos, os levando a crer que nós não existimos, por conta disso raramente vemos humanos em nossas terras, algo que era extremamente comum se tornou escasso e isso nos preocupa. – O rei voltou a sua fala, mostrando que realmente sentia uma dor por saber que havia poucas pessoas que ainda criam em nós.
Um silêncio tomou conta de todos, o povo mostrando solidariedade para com o rei e tristeza por causa da realidade. Não pude deixar de ficar triste também, era nossa vida que estava em jogo, se não pudéssemos fazer nada, não só nós morreríamos, mas o reino de Avalore seria destruído.
- Todas as jovens fadas plebeias venham aqui, em frente ao trono – Ordenou o rei.
Todas fomos, Nasia estava tremendo ao meu lado, o rosto ansioso pela resposta do rei. Ficamos ao lado uma da outra, todas com lindos vestidos e ansiosas.
- Então, precisamos de alguém preparada e poderosa para mandarmos para reino dos humanos, alguém leal e que daria a vida pelo seu povo, que não negaria nada por nós – O príncipe falou pela primeira vez, a voz firme, observando todos nós com olhos cortantes como minhas espadas.
Bom, posso ser isso tudo, ah... Eu já sou.
- Já foi decidido quem será mandada para o mundo dos humanos – O rei por fim falou – Anos observando todas vocês, testes e provas foram feitas com essas jovens para saber quem deve ser a escolhida.
Todos os anos passávamos por provas físicas, mentais e intelectuais sobre a raça humana. Desde o nosso nascimento fomos ensinados línguas humanas, sabendo que, um dia quem sabe, poderíamos ser mandadas para lá. Os treinos físicos eram todos os dias, expondo situações de diversos tipos, revelando terras humanas em que poderíamos ficar sem comida ou água, ou lugar inóspitos, tudo para ficarmos como rocha, inabaláveis.
- Giada, querida – A rainha a chamou, sorrindo como se Nasia fosse a sua filha – Todos viram a sua perseverança para com os desafios que eram colocados em sua frente, em nenhum deles você ousou desistir, pensando sempre em servir seu rei e seu povo. Seu poder assim como pode ser delicado como uma flor, também pode ser como um furacão.
Não.
- E, temos certeza absoluta, que nenhum humano negaria algo para você – O príncipe falou, sorrindo para Nasia, pude perceber que ela estava ficando mais corada que o normal, a pele morena, vermelha de vergonha e nervosismo.
Não.
Ela não, por favor!
- Por isso, eu declaro que Nasia Giada, a segunda filha de Emir Giada, é a nova escolhida para a missão no Reino dos humanos – O rei falou, sorrindo pela primeira vez, demonstrando sua alegria por falar quem era a escolhida.
Não. Não pode ser.
Urros de alegria e festa soaram em meio à multidão, as meninas que perderam se retiraram, algumas chorando e outras xingando, porém eu continuei ao lado de Nasia, incrédula no que acabei de ouvir.
Os familiares dela logo vieram abraçá-la, a mãe a encheu de beijos e sorrisos, enquanto os irmãos riam de alegria, o pai dava tapinhas em suas costas e sorria dizendo palavras de vitória.
Não.
- Não – Eu sussurrei, com raiva, os olhos cheios de lágrimas, porém os enxuguei logo – Os Cien não aceitam derrota.
- Leigh? – Fernyn apareceu ao meu lado, mas não liguei para a presença dela, nem para sua mão em meu ombro, parti em direção a Nasia.
- Nasia Giada! – Chamei o mais séria possível.
- Leigh!? – Ouvi meu pai me chamar, ele estava por perto, sempre está, o ignorei seguindo meu caminho.
Os olhos de Nasia se cravaram em mim, ela continuou sorrindo, inocente pensando que iria lhe parabenizar, logo seu sorriso desmanchou percebendo que eu não estava nada feliz.
- Eu lhe desafio. Lhe desafio para uma luta! – Falei tentando soar calma, eu estava tremendo de raiva, mataria ela agora mesmo, não pensei em nada além de matá-la. Porém essa ideia logo sumiu da cabeça, ela não merece a morte, Nasia era uma fada jovem e alegre, merecia viver, mas não merece a missão.
Eu mereço!
Todos ficaram em silêncio, observando nossa guerra silenciosa, ela tinha que aceitar, era a escolhida, poderia mostrar seu poder e eu, o meu.
- O que? – Nasia ficou surpresa com minha proposta, arregalados os olhos castanhos.
- Vejo que temos uma pessoa que não está satisfeita com a minha escolha – O rei falou me fulminado com o olhar.
- De modo algum, alteza. Porém quero saber se ela realmente é tão poderosa e nada melhor que uma luta, não é mesmo? – Falei o mais calma e ereta possível.
A multidão urrou de emoção, eles queriam ver nós duas se matando por uma chave e uma missão, é isso que o povo gosta.
- Meu esposo – A rainha lhe chamou, pondo delicadamente a mão em seu braço -, deixe que Nasia tenha o direito de escolher o seu destino.
- Pois bem – Maloh falou por fim – Decida.
Houve um momento de silêncio, Nasia manteve seu olhar fixo em mim, tentando saber o que eu queria.
Eu quero a chave e a missão, me dê!
- Está bem – A escolhida falou, ainda meio indecisa – Eu aceito seu desafio.
O povo que estava no cômodo gritou de emoção, uma batalha ao vivo iria ocorrer ali por causa de uma missão.
Todos se afastaram de nós, revelando um lugar bem maior do que eu imaginava, só havia nós duas no meio, a notícia ia se espalhar tão rápido, “Menina doida de cabelos azuis desafia a nova escolhida do rei”.
Fechei os olhos, imaginando minhas espadas voando pelo ar e atingindo algum órgão de Nasia, atingindo algo nela que a fizesse desmaiar, ficar inconsciente por algum momento. Eu não queria isso para ela, mas era preciso, não vou matá-la, isso causaria uma revolta entre as famílias, só machucá-la um pouco.
As espadas apareceram tão rápido que nem as havia visto ao meu redor, espadas de todos os tamanhos e tipos, voando e prontas para machucar, matar. Era o meu poder, pura destruição.
Nasia, contudo, continuou parada, possivelmente esperando meu ataque, mas eu era uma pessoa sem pressa sabia esperar meu inimigo, então poderia ficar ali a vida toda lhe esperando, porém os olhos do Rei estavam impacientes.
- Mostre o que sabe, Nasia – Falei, lhe dando um sorriso cínico.
- Pode deixar – Ela falou fechando os olhos castanhos e respirando profundamente – Me desculpe.
Antes que pudesse dizer algo a terra começou a tremer, o cômodo ficou como se fosse mole, tremores para todos os lados, o chão se abriu em algumas partes, revelando uma grande porção de terra. Esse era o poder dela.
Controlar a terra.
Nasia abriu os olhos e levantou a mão em direção à mim, e em alguns milésimos bolas de terra vieram para cima de mim, corri o máximo que pude para o lado contrário, porém as bolas me seguiam, me alcançando e me levando em direção a parede com um grande baque.
Bati na parede meio zonza, caindo no chão, vendo duas, três Nasia na minha frente com várias bolas de terra sobre a sua cabeça, o meu vestido ficou rasgada e sujo, uma dor subiu sobre meu tórax quando levantei, as espadas tremeram.
Enquanto Nasia iniciava novamente o ataque com a sua terra maldita, ergui um muro com a terra que ela havia jogado em mim. Se ela queria guerra teria que esperar um pouco, usaria seu poder contra ela mesma.
Dei uma risadinha baixa, era tão bom poder construir muros com todas as matérias, qualquer coisa podia ser utilizada por mim para minha defesa, mas a proteção não durava muito, ela consumia muito minha energia.
- Não vai durar muito tempo – Sussurrei, sentindo meu poder se esvair por conta do muro.
Apontei diversas espadas na direção de Nasia, mesmo não a vendo sabia que ainda estava no mesmo lugar, enviando diversas bolas de terra para destruir o meu muro.
- Peguem ela! – Falei e as espadas partiram contra atacando, o muro balançou por conta da terra que estava sendo jogado por Nasia, permaneci parada esperando algum tilintar.
Sai de trás das muralha que poucos segundos depois virou pó, correndo em direção a Nasia. Mandei mais duas espadas em direção a ela, uma lhe cortou o lado da barriga e ela logo fez uma cara de dor, mas mesmo assim ergueu uma das mãos novamente, fazendo uma tempestade de terra vir para cima de mim.
Não pude fazer muita coisa além de ficar parada, já que ela prendeu meus pés com a terra no chão, minhas espadas começaram a voar junto com a tempestade terra.
Tentei olhar para os lados, procurando alguma solução, nada. Várias bolotas começaram a me atingir de todos os lados, a dor começou a invadir meu corpo, tentei me concentrar e esquecer a dor.
Espadas.
A tempestade diminuiu e pude sentir que a pressão, por conta da terra que estava prendendo em meu pé, diminuiu. Nasia estava correndo, minhas espadas estavam atrás dela, fazendo ela fugir desesperadamente.
Vi algumas taças de vidro sobre a mesa imensa do baile, além de alguns cacos de vidros no chão de mármore.
Ergui minha mão e rapidamente as taças se transformaram em uma pequena muralha que pararia Nasia. Entretanto, Nasia foi mais esperta e invocou bolas de terras e atacou o vidro que não era muito forte, o derrubando com poucos ataques.
Espadas!
Uma a acertou na panturrilha, fazendo Nasia cair no chão com uma cara nada feliz, minhas espadas não puderam fazer mais nenhum machucado, pois Nasia fez um casulo de terra se protegendo dos meus ataques.
- Ficará aí para sempre? – Gritei, chegando mais perto – Não durará muito aí! Sua perna está sangrando muito, você deve tirar minha espada de sua panturrilha, relaxe, ela não vai gerar nenhuma infecção, são muito bem cuidadas. Sai logo daí. Prometo que não lhe matarei, juro pela minha família.
Um juramento de fada nunca é quebrado, principalmente quando é envolvido a família. Várias pessoas falam que, caso se quebre a promessa, toda a sua família morre instantaneamente.
Cuidado!
Gritos de animação surgiram na plateia que nos observava ao longe, estavam doidos para ver alguém morrer, porém era proibido matar uma fada no reino de Avalore, principalmente no castelo do rei Maloh.
O casulo de Nasia se desmanchou aos poucos, revelando uma menina ensanguentada e com os olhos apreensivos, com medo que eu a atacasse. Mas eu sei quando devo parar e agora é a hora de parar.
- Nasia – Comecei, chegando mais perto e observando o machucado, a espada ainda estava cravada na panturrilha e havia feito um estrago muito bom -, vou tirar esta espada, está bem?
- Sim – Ela falou fechando os olhos e gemendo de dor – Confio em você, Leigh.
Dei um sorriso, tentando parecer gentil.
- A vitória vai para a nobre Leigh Cien!! – Gritaram algumas pessoas na sala. Fadas, elfos e todos os seres na sala começaram a bravejar palavras de vitória e glória a família Cien.
Olhei para a profunda ferida que minha espada causou na perna de Nasia. Ergui um pouco a mão, fazendo a espada se movimentar um pouco, tentando se liberta da carne, jatos de sangue saíram voando e Nasia deu um belo de urro de dor.
- Calma, já vou tirar – Falei tentando acalmá-la.
A espada se movimentou mais um pouco, saindo por completo rapidamente e ficando ao meu lado gotejando o sangue da fada.
Nasia suspirou de alívio, dando um sorriso de sofrimento:
- Obrigada.
Ela não teve tempo para falar mais nada, em milésimos tudo se perdeu e ela não pode mais pensar em nada, uma espada foi cravada em seu peito, fazendo ela morrer imediatamente, Nasia continuou com os olhos castanhos abertos, antes estavam cheios de vida, agora estavam mortos, ela toda estava, o corpo moreno perdendo a cor.
Fiquei paralisada, chocada tentado entender o que havia acontecido, fechei os olhos e abri novamente, continuava ali, não era minha imaginação. Olhei para os lados tentando entender, me ajoelhei observando o pequeno corpo da fada morta.
- Traição! – Uma voz feminina soou entre todos os gritos de alegria e todos ficaram quietos vendo a arma cravada no peito da fada de terra.
- Minha filha!! – A mesma voz falou, indo em direção a Nasia, com os olhos cheios de lágrima, a jovem mãe abraçou a filha morta e olhou pra mim mortalmente – Traidora! Você e sua família!
- Mas eu não fiz nada – Falei chocada com tudo o que havia acontecido em menos de um minuto, observando todos me olhando com ódio. Olhei para o rei que me olhava atônito, seu rosto vermelho demonstrava a raiva que sentia.
- Veja! Esta é a espada da Cien! – A mulher retirou a espada que estava cravada no coração de Nasia.
Minha espada.
Não pude conter meu espanto, realmente era a minha, as estrelas, os tons vermelhos, tudo dizia que era minha, e era. Mas não fazia sentido, eu não ordenei nada para elas, não fui eu!
- Não! Não pode ser – Sussurrei, olhando o corpo de Nasia sem fôlego.
- Traição! – Outra pessoa gritou fazendo um alvoroço na multidão.
Em milésimos de segundos tudo aconteceu: Espadas voaram em direção ao rei e a rainha, fadas e elfos corriam com medo de várias espadas, e tudo começou a virar uma bagunça, todos usando seus poderes para se defender de um inimigo invisível.
Me levantei, largando o corpo de lado e lutando pela minha vida. Lutando contra o que parecia ser eu mesma. Porém, como? Era eu que estava fazendo aquilo?
Gelo começou a ser formado por todos os lados, a família real ainda estava inteira pelo o que eu consegui ver, vários elfos protegendo a família e morrendo.
- Matem todos! – Ouvi alguém gritar, um mar de sangue começou a aparecer, sangue de elfos e fadas, gnomos correndo e derrubando vários pessoas enquanto tentavam fugir.
Correndo para salvar minha vida, usei minhas muralhas para me defender de alguns ataques da espadas, porém elas ultrapassavam com rapidez minhas barreiras. Nunca vi nada assim, nada nunca as atravessou com tanta facilidade.
Isso é impossível!
- Fernyn!? – Berrei em meio a multidão de elfos lutando contra outras pessoas. Agora eu pude perceber, não estávamos sozinhos, havia pessoas aqui no baile que eu nunca os havia visto, eles estavam lutando contra nós, contra o seu próprio povo.
Uma espada se cravou em meu braço, me deixando com uma dor agonizante, ela se movimentou dentro do meu braço, me deixando com mais dor ainda.
Saia!
A espada me obedeceu, porém com relutância, coloquei a mão sobre o ferimento, tentando estanca o sangue. Eu estava tão confusa, estava um mar de poderes, sangue, guerra.
- Leigh! – Um garoto gritou meu nome.
Tentei saber de onde estava vindo, contudo não poderia ficar tanto tempo parada, então continuei correndo, porém todas as saídas haviam sido trancadas.
Espadas!!
Minhas espadas não abriam a porta por nada, era como vento, nada servia, anos de treinamento para chegar aqui e morrer.
Os Cien não aceitam a derrota!
- Leigh! – A voz me chamou novamente, estava mais perto.
- Fernyn! – Gritei. Precisava achar minha irmã, mas ninguém respondia, estava ficando desesperada. – Fernyn! Por favor, me responda.
- Leigh!? – Alguém me puxou com força segurando o meu braço que não estava machucado, dei um soco em seu estômago o mais rápido que pude, o homem de cabelos negros se contorceu de dor – Você é forte, heim?
- Oh, pelas minha flores! Príncipe Axel! – Observei o menino a minha frente, cortado e sujo de sangue, nada parecido com o que eu havia visto antes.
- Não se preocupe – Axel falou com calma, me segurando novamente e me puxando em direção ao trono – Não vou lhe matar, sei que não foi você!
Nós corremos em direção onde deveria estar o rei e a rainha, os tronos vazios e solitários, as pedras que antes estavam claras e vivas, agora estavam escuras revelando que o reino não estava nada bem.
- Faça uma muralha – Ele falou puxando um cordão que estava em seu pescoço, revelando a chave para o mundo dos humanos, dourada e pequena, tão simples e tão poderosa.
Fiquei assustada a princípio, porém a dor em meu braço não dava descanso, com o resto da força que tinha fiz uma muralha de pedras que nos protegia na frente e nos lados, nos prendendo ali.
- Eu irei abrir o portal e você irá – Axel falou com convicção. Esticando a mão pálida em que a chave estava e encostando na parede. Um leve brilho começou a aparecer.
As minhas forças estavam se indo tão rápido que nem pensava direito no que ele estava falando, a muralha estava consumindo muito de mim e o ferimento estava muito aberto, as dores da batalha que tive com Nasia ainda estavam ali, marcas por todo o meu corpo.
Me sentei no chão, demonstrando o quão cansada estava. Uma mão apertou meu ombro, não tive força para fazer nada, precisava me concentrar para manter aquilo de pé.
- Você levará Leif com você – Gritou o príncipe fada enquanto a porta ainda se formava em sua frente – Cuide dele, por favor.
Ele me ergueu, e minha cabeça pendeu para o lado, mostrando minha fraqueza, meus olhos estavam quase fechados, senti a muralha se desmoronando aos poucos, juntei o resto de força que tinha e forcei para que continua-se de pé.
- Leigh, não foi você, eu sei que não foi – Ele falou me abraçando e acariciando meus cabelos – Você nunca deve esquecer quem é, lute por Avalore.
Ele falou tudo de forma como se fosse suas últimas palavras, eu não consegui esboçar nada, não havia forças para falar, se eu o fizesse com certeza seria a última coisa que eu faria.
- Leif, não a largue por nada, me ouviu? – Axel se dirigiu a um pequeno menino que estava do seu lado, segurando sua camisa branca rasgada e cheia de sangue de fada.
- Mas, A - Ele puxou a camisa do irmão, revelando sua fragilidade e medo do mundo em que iríamos entrar –, você não vem?
- Tenho que cuidar do reino de Avalore – O príncipe sucessor falou por fim, os olhos tentando parar algumas lágrimas, secou elas rapidamente, enquanto mantinha uma mão na minha cintura para eu não ir ao chão.
Ele me levou em direção a porta de madeira que reluzia, me segurando o máximo que pode, e seu irmão o seguia, segurando sua blusa.
Gemi de dor, o braço latejava demais, a muralha estava rachando, apenas uma espada ali e tudo seria desmoronado.
- Cuide dela – O irmão mais velho falou para o pequeno príncipe, o menor apenas balançou a cabeça. – Leve isso com você e volte com eles, poderão lhe ajudar, irão nos ajudar a lutar contra esse povo manipulador.
Axel falou tudo rápido, com pressa, sabia que minha muralha duraria pouco. Colocou o colar da chave do portal em meu pescoço e abriu o portal.
- Segure a mão dela – Ordenou para o Leif, que rapidamente segurou minha mão, uma pequena mãozinha suave.
O príncipe mais velho me soltou e eu me segurei na folhagem perto da porta, esperando que ele falasse mais algo, porém ele não se virou.
- Vá! – Ele gritou para mim, enquanto quebrava minha barreira revelando uma praça de guerra e sangue, todos lutando e se matando, correndo tentando salvar a vida.
Não tive muito tempo para pensar, uma espada de cravou do meu lado, quase me acertando. Leif me puxou, entrando no portal sem medo, eu o segui, apenas parando para dar uma última olhada, vendo apenas uma cabeça de longos cabelos negros voando direto para o chão.
Depois disso não vi mais nada.

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