Minha casa

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Um dia, um amigo que lia algumas das minhas palavras, me afirmou, ” … o que vc escreve é um grande ponto de interrogação…”. Simples não? A principio eu imaginei que ele, de uma forma culta estava querendo me dizer que não estava entendendo patavinas do que estava escrito. Minutos depois estava mais ou menos esclarecida a sua afirmação. Tudo são perguntas, e a maioria delas não tem ou não podem ter respostas ou uma resposta apenas. O Emissor e o recebedor são absurdamente diferentes, constituidos de moléculas de conhecimento tão distintas e tão diversamente combinadas que não não conseguimos passar mais do que o sentido geral. O ponto de vista de cada um é tão próprio e tão cheio de detalhes, tão vasto quanto as possibilidades de combinações dos átomos, de que afinal, somos formados. Atomos em moléculas, moleculas em visceras, vísceras em seres humanos. Pois isso é o que acabamos por ser no final das contas. Viscerais.Mas ainda acredito que parte do que ele falou foi o que eu entendi no primeiro momento. Ele, nem ninguém pode entender o que eu escrevo, da forma que eu escrevo. E isso é um aprendizado, como a escrita, o o sentido e o sentimento é exatamente da mesma forma. As palavras saem das nossas bocas e podem alegrar ou machucar, e nem sempre conseguimos ter a tranquilidade de respirar e pensar antes de exprimi-las. Então o rasgo foi feito e a costura raramente se iguala ao cisal. São palavras, olhares e atitudes, Uma jogados, muitas vezes sem a menor responsabilidade, e captadas e processadas, fazendo tanto estrago quanto um caminhão sem freio. A paciencia, a atenção e o respeito aos limites e as capacidades das pessoas que convivemos é, no meu ponto de vista limitado, em muitos momentos mais importantes do que o meu próprio, por que são eles que me fazem o que sou. Isso, um conjunto, absurdamente misturado, de várias horas de convivio com um pessoas, que em muitos casos, passagens tão rápidas pelos seus caminhos que sequer chego a me lembrar de todos. Mas a balança precisa se manter equilibrada por isso o respeito é exigido de uma forma natural dos outros com relação a mim também. Como os espaços que ocupamos na estrada. Não importa que eu esteja de moto e que esta seja menor que um carro. Ela necessita do espaço. Uma vez invadido, ultrapassando os limites de segurança podemos perder o controle e talvez, provocar um acidente. Os sinais são claros na estrada, mas na vida nem tanto. A confusão pode nos cegar e tranformar uma caminho inocente numa viagem para a morte. Pelo que fazemos, então, somos tão responsaveis pelo que exigimos dos outros. Como na estrada precisamos preservar os nossos limites tanto quanto precisamos nos preservar a não invadir os limites de outros, que como nós, procura uma boa estrada pra viajar. Minhas paredes precisam ficar em pé para que abrigue o meu coração e este poder pulsar, viver, ajudar e amar.

Este texto foi postado no meu outro blog em outubro de 2008, mas estava pensando nesse assunto e resolvi transcrer uma adaptação para o Parto de Idéias por ainda ser um assunto que não sai da minha cabeça. Nem da sua, talvez. Usei a metáfora da moto pra discutir uma questão tão polêmica. Limites.

Sobrevida - Um parto de idéiasOnde histórias criam vida. Descubra agora