Capítulo 7

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Ele estava com um brilho nos olhos, de um sorriso, o que me acalmou um pouco.

--- É íncrivel, porque tem medo que os outros leiam?

--- Não sei, hábito -- Dei um sorriso --- Mas seja sincero, ficou bom mesmo?

--- Claro, quando escreveu isso? Foi pensando em alguém? -- Perguntou ele.

--- Não, na verdade mais ou menos, escrevi quando leram meus poemas pra sala, esse foi o primeiro que leram, se eu pensei em alguém? Provavelmente no Igor, aquele idiota, mas isso já é passado -- Falei.

--- Posso ler os outros? -- Perguntou ele, como seu eu não tivesse falado no Igor, assenti.

Liam exagerou ao dizer que estava incrível aquele poema, disse isso porque é meu amigo, ou apenas pra me animar, mas acho que nem um dos meus poemas estão bons o suficiente. Fitei ele, que estava muito concentrado nos poemas, seu rosto estava inexpressivo, o que me deixava perturbada um pouco, fiquei impaciente pra que ele terminasse de ler logo, mas parecia que iria durar uma eternidade, nem acreditei quando ele levantou o rosto.

--- Estão perfeitos, alguns meio depressivos e tristes, mas estão verdadeiramente bons -- Disse ele.

--- Ótimo, agora que já leu, vem comigo -- Falei, me direcionando pra sacada, abri a porta e sai.

Me sentei no lugar onde sempre me sentava pra ver a lua, em cima da grade que protegia a sacada, senti um frio na barriga, pela altura, Liam apareceu do meu lado.

--- Não tem medo de cair daí?

--- Claro, mais minha ambição pela lua é mais forte, olhe -- Falei apontando pra lua --- Ela está linda hoje!

Ele fitou um pouco a lua e as estrelas, por um momento não me disse nada, apenas ficou com o rosto voltado pro céu.

--- Você deve estar achando que eu sou maluca, não é? -- Falei.

--- Não, pelo menos não pela lua, mais por estar sentada aí em cima, quer fazer o favor de descer daí? Não quero que você caia -- Disse ele, dei um sorriso e desci, ficando de pé ao lado dele.

Por longos minutos, fiquei apenas acariciando as pontas do meu longo e liso cabelo castanho e olhando pro céu, Liam não desviava o olho um segundo das estrela, o que me intrigava, certamente se fosse outra pessoa, o mínimo, me indicaria um psicólogo.

--- Posso te fazer uma pergunta? -- Sussurou ele, assenti --- O que voce faz com essa sua ambição, quando estamos em lua nova? --- Disse ele, se virando pra mim e rindo, não pude deixar de rir

--- Liam, voce é um mito, eu apenas passo vontade, esperando ela voltar -- Respondi.

--- É que, por um minuto, me pareceu que, se fosse possível, voce casaria com a lua, o que eu não entendo é que, porque ninguém tem essa ambição pelo sol?

--- Já tentou olhar pro sol? É impossível, não tem como observá-lo, por essa razão, ninguém adquire essa ambição. Olha só aquela constelação, parece um pterodátilo! -- Falei, apontando pra um amontoado de estrelas.

--- E se distorce-la, se parece com um homenzinho de para-quedas -- Disse Liam, ele pareceu ter perdido a vontade de olhar pro céu, ou ficou com dor no pescoço, pois ele olhava diretamente pra mim --- Sabe, você é a primeira pessoa nessa sociedade aleijada que gosta das coisas simples da vida, hoje em dia, ninguém liga pra isso -- Disse ele apontando para o céu. Dei de ombros.

--- Dizem que e sou esquisita, naturalmente, agradeço por ter nascido diferente das outras pessoas, odeio ter senso comum e um dos meus gostos é não usar coisas clichês, odeio algo que todo mundo conhece ou gosta -- Respondi.

--- Bom, já tentei pensar dessa forma, mais meu pai quer que eu jogue basquete e faça coisas normais, como todos os garotos do ensino médio, acho isso irritante -- Falou ele, voltei total atenção pra ele.

--- Liam, você sempre menciona seu pai, mas, nunca fala muito da sua mãe, porque? -- Perguntei, ele respirou fundo, entendi o que era --- Ah... Se não quiser falar, tudo bem! -- Me apressei em dizer.

--- Não, tudo bem, eu sempre digo que guardar algo pra si mesmo, sempre te destrói por dentro e te enfraquece, mas o que ninguém sabe é que eu tenho algo guardado dentro de mim -- Disse ele --- Nunca contei pra ninguém, mas, aconteceu um desastroso acidente, quando eu tinha dez anos -- Disse --- Minha mãe e eu, estávamos indo ao mercado, no dia, ela havia encostado o carro no outro lado da rua, quando fomos atravessar, um bêbado apareceu do nada, corri pra lateral do carro e me abaixei, ouvi um barulho estrondoso de quebra de vidros e em seguida, um alarme ressonante de carro disparou, sai de trás do carro, quando me virei, minha mãe, estava presa entre o carro do bêbado e o dela, o corpo dela tinha sido prensado, ela não aguentou o impacto, provavelmente nenhum ser humano aguentaria, ela morreu na hora -- Disse ele, por fim, visivelmente triste.

--- Ah, Liam -- O abracei --- Não é o tipo de pergunta que eu deveria fazer, me perdoe!

--- Tudo bem -- Disse ele, se desvincilhando dos meus braços.

--- E o bêbado?

--- Morreu também, com o impacto -- Falou ele --- Meu pai sente muita falta dela, já faz sete anos, e desde o acidente, ele nunca mais casou nem namorou -- Falou ele.

--- Poxa, que injustiça -- Murmurei.

--- Bom, a vida continua, não é mesmo? Porque todo mundo está tão ocupado com seus próprios problemas pra prestar atenção nos problemas dos outros, isso é natural dos humanos.

--- Quer mudar de assusnto?

--- Não, tudo bem!

--- Você sente falta dela? -- Perguntei, ele assentiu.

--- Muita, todos os dias, ela me mimava de mais, o que aumentou nosso vínculo, eu só tinha dez anos na época, fiquei meio sem entender quando minha mãe foi pro hospital e não voltou, mas depois, meu pai explicou que ela tinha ido, pra nunca mais voltar!

--- Nossa Liam, sinto muito -- Falei.

--- É, todos sentem -- Disse ele --- Mas nada vai traze-la de volta. Bom, nem se fosse possível, acho que não seria sensato traze-la de volta.

--- Não posso imaginar o que está sentindo, mais deve ser horrível.

--- Nem tanto, nada comparado ao que eu senti, quando entendi que minha mãe tinha morrido, fiquei vários dias chorando dentro do quarto -- Respondeu ele.

Seja lá o que ele estava sentindo, deveria ser bem mais difícil suportar do que eu, eu que sempre me julguei injustiçada e incompreendida pela sociedade, esquecida pela família e humilhada pelos colegas de classe, não era nada comparado ao que Liam deveria estar sentindo.

--- Bom, acho melhor eu ir embora, meu pai odeia que eu chegue tarde em casa -- Disse ele, assenti.

--- Eu te levo até a porta. 

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⏰ Última atualização: Oct 08, 2017 ⏰

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