Capítulo VI: Alyssa

39 6 1
                                    

           
Alyss revirou-se na cama a noite inteira, inquieta.

Seus sonhos alternaram-se entre a mãe, que morreu ao dar à luz ao filho natimorto, e as lembranças da sua infância, que sempre envolviam Max e Ryan. Os três antigamente estavam constantemente juntos.

Quando Max foi embora sem avisar, ela chorou. Exigiu ao pai que ordenasse a volta do garoto. Ele não era rei, afinal? Porém não havia nada a ser feito. Ela passou, então, a ter apenas Ryan como companhia. O que era a mesma coisa que dizer que mal tinha alguém, visto que Ryan sempre preferiu manter certa distância. 

Depois do seu aniversário de 13 anos, que marcou o início da sua mocidade, Ryan fora designado como o seu guarda-costas pessoal. Ele tornou-se bem azedo e mal trocava algumas palavras com ela. Somente falava algo quando era para insultá-la ou irritá-la. No fundo, ela sabia que preferia que ele agisse dessa forma a se distanciar de vez.

E agora, Max retornará.

— Não creio que uma garota que acaba de completar 16 anos tenha tantos problemas para ficar tão pensativa e séria assim.

Alyss levantou a cabeça.

Ela estava na biblioteca, parada no centro do local, e nem havia percebido que estava fitando o chão com intensidade. O livro jazia esquecido na sua mão, servindo apenas como um enfeite.

Max encontrava-se encostado em uma das portas de entrada à sua direita, encarando-a. Ele ainda usava roupas parecidas com as da noite passada, porém a blusa estava limpa e branca dessa vez. A única diferença era a espada que ele carregava presa ao cinto.

— Não creio que os homens entendam de problemas femininos. Faltam-lhes uma certa capacidade para tal — ela respondeu e sorriu.

Max sufocou uma risada e continuou onde estava, observando o ambiente e as diversas estantes que alcançavam o teto.

— É um local impressionante. A arquitetura, digo — e diante do silêncio dela, ele continuou. — O efeito que o teto oval confere à sala retangular é incrível. Intensifica a profundidade. Não é por acaso que a ideia de imponência é muito bem transmitida aqui.

Alyssa permaneceu em silêncio, fitando-o. Após alguns segundos, perguntou:

— Você estava a minha procura para falar de arquitetura?

— O que te faz pensar que eu estava procurando você? — Max retrucou.

— E não estava? — ela rebateu.

— Eu estava preocupado. Não te vi no desjejum e fiquei surpreso pela falta de perguntas da sua parte. Imaginei que fosse despejá-las assim que me encontrasse, o que seria o mais breve possível.

— Resolvi adotar uma outra tática — ela sorriu.

— E qual seria? — ele levantou uma sobrancelha, divertindo-se.

— Ignorá-lo.

Max riu.

— Achei que isso funcionasse com as mulheres, e não o contrário — ele deu de ombros, sorrindo.

— Não com as mais evoluídas intelectualmente.

— E eu devo supor que você é uma dessas? — após a risada dela, ele continuou. — O que te faz pensar que eu lhe contarei alguma coisa por livre e espontânea vontade? 

— É simples — ela caminhou até ficar bem próxima à ele. — Os homens gostam de se gabar, mesmo que discretamente — ela sorriu. — E eu não consigo imaginar você fazendo algo minimamente desinteressante por tanto anos. Então, você deve ter alguma história interessante para contar.

MáscarasOnde histórias criam vida. Descubra agora