Capítulo VIII

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A festa já começara na casa do Rodolfo, o som tocava alto, e era possível ouvi-lo assim que colocamos os pés para fora da casa de Tami. Esse era um dos momentos em que Rodolfo podia agradecer por morar na cidade nova, pois praticamente não havia vizinhos.

A piscina, na frente da varanda, estava cheia de poltronas de ar, macarrões de isopor e toda sorte de boias, e já havia quem estivesse sentado nelas bebendo cerveja. Haviam colocado uma pista de lona com sabão e água para incitar os mais corajosos a dar um mergulho na piscina não tão larga quanto as medidas de segurança encorajariam. Isso seria usado mais provavelmente no final da festa. Só estando muito fora de si para escorregar naquela pista mortal e correr o risco de se machucar nas margens da piscina, apesar de que eu estava com uma curiosidade sedenta para saber a sensação.

As varandas estavam apinhadas de gente e havia pufes coloridos espalhados por todo lugar. Casais já os ocupavam e não mostravam sinais de sair dali tão cedo, a não ser que fosse para um lugar com mais privacidade. As sacadas do segundo andar também estavam cheias, com muitas pessoas sentadas no beiral, o que podia ser desastroso, levando-se em conta a quantidade de bebida que Rodolfo comprara.

A casa estava completamente transformada. Havia um globo espelhado no teto da sala e luzes coloridas que giravam incessantemente por todos os lados, aquisição de Luci, com certeza. Conhecendo o interior da casa, parecia que tinha acontecido um arrastão, pois não havia mais os sofás, o rack, a mesa de jantar, as cadeiras, ou qualquer outra mobília. Tudo fora substituído por um mar de pessoas. Eu não conhecia nem a metade, o que não era algo digno de se surpreender, já que eu sou péssima em guardar rostos e pessoas.

Apesar de toda a bagunça, a nossa entrada nas festas sempre é sentida. As pessoas pareciam ainda mais ávidas por nossa atenção do que na escola, dando-nos passagem, e alguns nos cumprimentavam com abraços calorosos. Mal entramos e começaram a tocar algumas de nossas músicas favoritas, e resolvemos dançar. Não demorou para Rodolfo e Tui nos acharem. Tui, numa tentativa de me proteger do assédio de garotos que nunca vi antes na vida, acabou por me sequestrar e parou apenas quando chegamos ao quarto da empregada, inutilizado há anos. Eu imaginei que ele queria perguntar de Regi ou de Sy. Não era novidade o relacionamento quase aberto entre Sy e ele, mas o que poucos sabiam, ou ainda comentavam, era sobre um beijo que, supostamente, aconteceu, há anos atrás, entre ele e a outra irmã gêmea. Fofocas à parte, fato é que ele sempre me fazia perguntas sobre ela quando estávamos sozinhos, com quem ela estava, ou o que ela ia fazer e se comentara alguma coisa dele.

Mô tinha uma teoria sobre isso, mas parecia absurda demais. Tudo bem que Tui e Regi dançaram por algum tempo quando ela ainda frequentava o CTG (Centro de Tradições Gaúchas). Diga-se de passagem, a forma como eles dançavam deixava qualquer um de queixo caído, mas inferir que houvesse qualquer coisa entre os dois era difícil de acreditar, mesmo com a fofoca do beijo. Era mais provável que ele fizesse parte do vasto fã clube de Regi, e como tantos outros, tinham-na alçado à posição de inatingível no seu altar de adoração.

E ainda havia quem achasse que ele sentia alguma coisa por mim. Trouxas.

Hoje, não se tratava de nada disso. Ele me mostrou uma garrafa de rum que trouxera de casa, e não demorei a me lembrar de que, há duas semanas, na sua casa, tínhamos aberto a garrafa. Agora, tinha apenas um restinho. Como ele sabia que eu gostava, quis dividir comigo. Após algumas provocações e conversa fiada, não tardou a ele começar o interrogatório.

— Então, você e o Martin voltaram?

— Não.

— Vocês já conversaram desde o luau?

— Também não. — Entornei mais um pouco da garrafa na minha boca.

— Então, vocês não terminaram – disse ele se lamentando.

Herança de Sombras - Livro 1 - LuxúriaOnde histórias criam vida. Descubra agora