Capítulo XIX

120 10 1
                                    




           

O problema é que o tempo não passava. Eu já estava ficando com sono, ouvindo a conversa de Ben com os outros rapazes do terceiro ano. Não era tão ruim, mas isso não impedia que eu começasse a ter dor nos pés.

            Eu me sentia uma verdadeira prisioneira, apesar de que as minhas algemas eram braços fortes que pareciam mais me abraçar do que me prender, e a minha cela era tão confortável que acho que conseguiria dormir ali recostada como estava sobre o seu peito.

             Sem querer, peguei-me fazendo carinho no seu braço. Maldita síndrome de Estocolmo. Ele agora me prendia com apenas um braço dele, e com o outro segurava a cerveja que ele não queria dividir comigo, não importando quanto eu implorasse.

Peguei-me olhando para Mô se beijando com um daqueles meninos, amigos do João. Eu tinha esquecido de perguntar o que tinha acontecido com Melo, mas era provável que ela tivesse enjoado dele. Mô era tão inconstante como as demais. As únicas exceções eram Luci e eu. Pelo menos eu costumava ser a exceção. Agora eu não seria mais.

            — Você quer sentar? – falou ele no meu cabelo, despertando todas as borboletas.

            — Sabe que não seria má ideia? – espreguicei-me.

            Sentamo-nos no sofá ao lado de Regi, cercada de admiradores que, por mais que soubessem que não a teriam, continuavam ali. Ter uma mínima possibilidade de algo com Regi era melhor que nada. Regi os atraía com sua beleza, mas eles ficavam pelo seu magnetismo. Quando ela queria ser charmosa, conseguia vender gelo para esquimó. Tadinho do Tui, ele nunca teve chance.

             Benjamin não precisava mais me manter presa, eu estava completamente sóbria e ele, sem rivais. Acontece que ficáramos tanto tempo abraçados que, quando nos movemos, além da rigidez que eu percebia nas pernas, senti um arrepio de frio no momento em que ele se afastou.

            Já me amargurava pela distância que manteríamos agora sentados no sofá, até que ele passou despreocupadamente o braço pelos meus ombros e eu estava aquecida novamente.

            Quando o último de seus pretendentes a abandonou, Regi se voltou para mim, e eu perguntei:

            — Não vai dar a rosa para nenhum dos cinco? Que programa mais sem final feliz!

            Ela ria.

            — A gente tem de dificultar um pouquinho, não é mesmo?

            Ela olhava, agora, acusadoramente, para o braço no meu ombro que bloqueava nosso campo de visão.

            — Não sei do que você está falando. – eu disse, falsamente ofendida.    Não era eu quem estava dificultando as coisas, não mais, pelo menos. Ela riu.

            — Quanto bebeu antes de a gente chegar aqui? – disse com a mão sob seu queixo e o braço apoiado no colo.

            — Por quê? – perguntei acanhada.

            — Para dançar daquele jeito com o Tui, você precisaria de algum estimulante.

            Pelo menos ela tinha percebido o Tui.

            — Você quer que eu conte só aqui ou precisa incluir a vinda?

            Ela gargalhava, jogando a cabeça para trás, mas não era em mim que tínhamos de nos focar. Eu precisava fazê-la ver o Tui como eu o via.

Herança de Sombras - Livro 1 - LuxúriaOnde histórias criam vida. Descubra agora