A encomenda

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- Bom dia, Thomas - Tony diz chamando minha atenção. Eu nunca fucionei muito bem pela manhã, mas não posso negar nada ao Tony, tenho uma dívida com ele e enquanto eu não pagar não terei como me livrar dele. Ele me conheceu pouco tempo depois da morte dos meus pais, eu estava confuso e acabei roubando uma das casas dele. Ele me pegou roubando, mas decidiu não me denunciar em troca de alguns favores como motorista. O Tony trabalha com algumas coisas obscuras, por assim dizer, mas logo eu estarei livre dessa dívida e poderei seguir em frente com a minha vida...
- Thomas? Você está aí - ele diz retomando minha atenção.
- Eu estou ouvindo tudo, Tony. Não se preocupe tudo vai dar certo.
- Assim eu espero, garoto. Anda, vai pegar a encomenda que eu te pedi nesse endereço.
Ele me entrega o papel com o endereço e eu sigo.
- Tony, essa é a última vez - digo confiante.
- Eu sei Thomas, depois dessa você está livre.
Pego o carro e vou pegar a tal encomenda. O trabalho é fácil, já transportei as coisas do Tony várias vezes, sem problema nenhum. Não teria porquê ser diferente dessa vez...

(...)

Cheguei na casa e toquei a campainha. Uma garota de uns 13 anos atende a porta. Ela tinha o cabelo curto e liso, era alta para a idade dela, pele branca, uma típica adolescente.
- Oi! Vim buscar a encomenda do Tony - disse.
- Encomenda, sei rs - ela disse debochada.
- Vai pegar o pacote, garota.
- Eu sou o "pacote" e meu nome é Samantha.
- Como assim você é o pacote? O Tony não disse que eu tinha que transportar uma garota.
- Isso você resolve com ele. Vamos, quero chegar logo em casa, motorista.
- É Tom! Meu nome é Tom.
- Tá que seja - ela disse irônica.
Pego as malas dela coloco no carro e seguimos viagem.
- De onde você conhece o Tony? - ela pergunta.
- Da vida - eu respondo seco.
- Você é bem calado hein.
- Eu não gosto muito de falar.
- Percebe-se - ela diz a contragosto.
- Posso ligar o rádio?
- Não - eu digo sério.
- Como você é chato, não gosta de falar, não deixa ligar o rádio, não deixa fazer nada - Samantha diz indignada.
- Tá bom! Pode ligar esse rádio.
- Obrigada!
- Olha Samantha, a viagem será longa então é melhor a gente se dar bem. Do Rio de Janeiro para Porto Alegre são vários quilômetros, então vamos ficar de boa. Certo?
- Certo - ela responde.
- Por que o Tony pediu para eu te levar de carro? Não seria mais fácil uma passagem de avião?
- Isso é coisa da minha avó. Ela odeia aviões desde que meus pais morreram em um acidente de helicóptero.
- Sinto muito - eu disse.
- Sem problemas, eu já superei isso.
- Quantos dias até chegar lá? Ela perguntou.
- Uns três dias se a gente não parar muito.
- Como você conheceu o Tony?
- Longa história, outro dia eu te conto.

(...)

Eu não sou a pessoa mais comunicativa do mundo, mas era bom ter alguém com quem conversar, sempre fui tão solitário, uma companhia mesmo que temporária era bem vinda. Dirigi durante todo o dia e decidi parar em um hotel de beira de estrada para podermos descansar um pouco.
- Finalmente! Estou morrendo de fome - Samantha diz suspirando.
Entramos no restaurante do hotel e sentamos em uma mesa esperando o atendimento.
- Boa noite! Já decidiram o que vão pedir? Diz a moça que nos atendeu.
Ela é bem bonita. Pele morena, cabelo cacheado, uma beleza magnética. Não tinha como não reparar. Fiquei prestando atenção na moça e me distraí. Samantha me cutucou e eu voltei ao normal.
- Ah! Boa noite. Você tem alguma sugestão?
Antes que ela respondesse, Samantha respondeu me deixando sem graça.
- Pizza. Nós queremos uma pizza média de calabresa, ela respondeu.
- Bom - a moça pigarreou sua amiga já respondeu por vocês rs.
- Sou prima dele, Samantha disse me deixando perdido.
- Ok então... já vou pedir a pizza de vocês.
- Obrigada.
- Que história é essa de prima? Eu pergunto a Samantha.
- Ué? É muito mais fácil acreditar que eu sou sua prima do que sua amiga.
- Você tem razão.
- Você ficou babando pela garçonete - ela disse rindo da minha cara.
- Ficou tão visível assim?
- Sim. Acho que até ela percebeu.
Depois de uns vinte minutos nossa pizza chegou.
- Aqui está. Bom apetite.
- Obrigada. Traz um refrigerante para a gente, por favor.
- Certo. Já volto.

(...)

Depois de terminarmos nossa refeição peço a conta para a garçonete que nos atendeu.
- Aqui está - ela me entrega a conta e eu pago.
- Obrigada por tudo... você não disse seu nome ainda - eu disse.
- Pensei que não fosse perguntar nunca - ela disse rindo.
- Eu me chamo Michele. E você é?
- Thomas, mas todo mundo me chama de Tom.
- Tom... gostei - ela disse arqueando a sobrancelha esquerda.
- Eu sou Samantha - ela disse pigarreando para chamar nossa atenção.
- Oi Samantha, desculpe ter esquecido de você - Michele disse rindo.
- Aqui está o seu troco, Tom espero que vocês aproveitem a estadia aqui.
- Obrigada, Michele. Tenho certeza que a gente vai adorar.
- Tchau - ela deu um beijo na minha bochecha e nos despedidos.
- Até mais - eu disse.
Eu e Samantha subimos para o quarto e quando peguei o recibo percebi que Michele anotou o número dela no papel. Quem sabe isso não foi um sinal...



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