Capítulo 1

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Eu olhei para o céu, mas o sol não estava mais lá. Sentada sobre a areia branca e macia, eu havia ficado tão imersa em meus próprios pensamentos que nem percebi que a noite caía e eu estava praticamente no escuro. Não me levantei ou tive pressa. A sensação estranha e paradoxal de paz e angústia fez com que eu continuasse a olhar o céu mesclado de cinza, prata e negro de mais uma noite que chegava. E a ouvir a suave marola das ondas.
Sempre gostei do sol, inclusive costumava lembrar de uma frase de um pintor inglês antes de morrer "O sol é Deus" e concordar com ele. Mas eu adorava a noite. Seus mistérios, os desejos que se realizavam mais facilmente tendo sombras para disfarçá-los,a ideia de que expunha os lados mais escuros das pessoas. E aquela noite não era uma qualquer; era a primeira dos meus vinte e um anos
de idade.
Meu aniversário, sexta-feira treze, 13 de julho. Alguns consideravam azarento um dia como aquele, mas eu já não acreditava em sorte ou azar. Se fosse assim, acharia que tanto treze na minha vida foi a causa de meus sofrimentos e perdas. Minha mãe me disse que também nasci em uma sexta- feira treze, faltando apenas treze minutos pra a meia- noite. E eu tinha treze anos quando minha irmã gêmea morreu. É, talvez fosse mesmo azar.
- Hei, Camila!
Ouvi meu nome e olhei para trás, mas na penumbra enxerguei pouca coisa. De qualquer forma,reconheci a voz de minha amiga Ally e vinha da direção das barracas de camping,alguns metros além de onde eu estava. Havia por ali umas sete barracas e uma delas era a que eu ocupava com Ally e mais duas colegas suas, desde a tarde anterior,quando chegamos. Íamos aproveitar um feriado longo e ficar ali 4 dias.

- Oi, estou aqui. – Respondi.

- Já está pronta?

- Já. Vão agora?

- Daqui a pouco.

Levantei, sacudindo a areia do simples vestido branco de alcinhas. Passei a tarde quente na praia e já estava com um leve bronzeado, apesar de ter a pele já bem morena. Peguei a sandália rasteira e amarela trançada do chão e caminhei devagar em direção às
barracas. Lá estava mais claro, com os lampiões acesos. Algumas pessoas conversavam, outras começavam a preparar fogueiras ou o jantar. Na barraca que eu ocupava, Ally estava sentada numa cadeira de praia perto do lampião aceso, se maquiando enquanto fitava-se em um espelhinho no seu colo.
Estava linda como sempre. Mesmo descabelada ou sem maquiagem ela continuaria linda, pois era um pouco baixa, cabelos loiros e um corpo bonito para sua altura. Usava um vestido florido, não muito curto, juntamente com um salto marrom. Sorriu para mim e perguntou:

- Estou bem ou parecendo um palhaço? É horrível me maquiar com essa luz fraca do lampião.

- Você está perfeita. – Sorri também, me agachando para tirar a areia dos pés e calçar minhas
sandálias. – Cadê as meninas?

- Beatriz está trocando de roupa dentro da barraca e a Normani já está pronta e esperando a gente na saída do camping. Ela se adiantou para bater um papo com aquele loirinho surfista que conhecemos hoje na praia. Sabe que ela não perde tempo. – Rindo, Ally começou a guardar seu batom na caixinha de maquiagem.
Na verdade, eu não conhecia Beatriz ou Normani direito. Elas eram amigas de Ally, que era minha colega de trabalho. Eu estava ali, acampando com elas, por convite de Ally. Quis passar aquele meu aniversário de vinte e um anos de maneira diferente do que estava acostumada. Por isso aceitei o convite.

- Vamos? – Beatriz abriu a lona da barraca e saiu, belíssima com short e blusa preta tomara-que-caia. Não era baixa como Ally, era mais alta que eu. Era o tipo que chamava a atenção onde quer que chegasse, Branquinha, com cabelos pretos, seios fartos, quadris redondos e uma cinturinha de pilão. Usava sempre roupas curtas e sapatos de salto. Equilibrava-se com dificuldade no chão arenoso.

- Já acabei. Vou guardar a maquiagem e podemos ir. – Allyentrou na barraca. Eu a
acompanhei para pegar minha bolsa. Lá dentro levaria uma lanterna, para iluminar o caminho na volta.

Guardamos o lampião, fechamos a barraca e saímos levando em nossas bolsas o que tínhamos de valor. O camping era seguro, mas era melhor prevenir e andar com o dinheiro quando a barraca ficasse vazia. Devido à luz de outros lampiões, não precisamos acender a lanterna.

Caminhamos em direção ao portão de saída do camping, que dava em outra extensa praia, essa bem maior e aberta a todos. Dali, chegava-se a diversos quiosques, ao píer cheio de barcos e a uns poucos restaurantes à beira-mar. Tudo era animado e cheio de turistas.

- Nossa, hoje vou dançar até de madrugada! – Beatriz exclamou animada, andando melhor sobre seus saltos agora que havíamos chegado ao calçadão iluminado. Rebolava, sacudindo os cabelos.

– Quero ver você também se acabar,Camila ! Hoje é seu aniversário! A noite é sua!

Sorri, sabendo que dificilmente eu me acabaria como elas. Era bem mais calma e tímida que as três. Mas sentia uma vontade louca de me divertir, sair da solidão que tantas vezes me engolfava, ri e esquecer os problemas. Dera o primeiro passo ao aceitar acampar com elas, coisa que nunca fiz na vida.

- Acho que vou me divertir muito. – Falei, desejando mesmo aquilo.

Adaptação de um livro da Nana Pauvolih. Espero que gostem

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