Capítulo 2

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No primeiro quiosque vimos Normani aos risos com um loiro surfista que conhecemos na praia
aquela tarde. Eles falavam bem juntinhos e o rapaz não tirava os olhos dela, que jogava charme.
Normani era mais atirada do que Ally e Beatriz. Ela dava confiança pra qualquer cara que
passasse a sua frente e, como Ally contara, não conseguia viver sem sexo. Ally brincava
chamando-a de cachorra, pois parecia viver no cio. Mas Normani nem ligava e ainda achava engraçado. Adorava também contar suas aventuras sexuais. Eu, que a conhecera somente no dia anterior, já a escutara dizer que até mulher ela topava.

- Hei, vadia, vamos logo! Deixe pra paquerar amanhã! – Beatriz puxou Normani pelo braço ao
passarmos por ela e sorriu para o loirinho, falando: - Amanhã ela continua te dando mole, gatinho.

- Tchau, amor! –Normani acenou para o rapaz, rindo, dando o braço a Beatriz .

- Hei, Mani... – Começou a reclamar o rapaz abandonado, nada satisfeito.

- Amanhã! – Normani mandou-lhe um beijo e nos afastamos.

- Ele ficou puto. – Disse Ally.

- Amanhã faço um agrado e ele me perdoa. E aí, meninas? Vamos para qual restaurante?

- O único que tem pista de dança, é claro. – Respondeu Beatriz.

- E os maiores gatos do lugar. Dizem que é cheio de riquinhos que vem das enormes casas de
veraneio e das ilhas aqui perto. – Explicou Ally. – Lembra quando viemos no ano passado e
conhecemos aquele pessoal de Santa Catarina?
-
Se lembro!- Mani suspirou dramaticamente. – Cada loiro lindo! Ficamos uns cinco dias na casa deles, vivendo de festas, champanhe e orgias!Olhei-as,  sem saber se mani exagerava. Mas elas pareciam saudosas, sorrindo.

-Até esquecemos da nossa barraca.

- Lembro até hoje do Felipe, aquele loiraço que ficou caidinho por mim. – Disse Beatriz. – Às
vezes ainda falo com ele pelo facebook.

- Você é que ficou caidinha por ele. – Riu Mani.
- Cale a boca! – Betriz deu-lhe uma cotovelada.

Normani era tão morena quanto Beatriz, só que mais alta e magra, com cabelos cacheados e
Pretos. Era a mais velha de nós, com vinte e três anos. Beatriz e Ally tinham vinte e dois anos,
com diferença de apenas um mês. Eu era a caçula do grupo.
Entre brincadeiras e risadas, chegamos ao belo restaurante em frente ao píer. Era espelhado, de
dois andares e cercado por plantas exóticas. Era o preferido pelos jovens e turistas, por isso era mais caro. Por ser perto de praia, era informal, mas cheio de gente bonita.
Como chegamos cedo, foi fácil conseguir uma mesa. Mani correu para uma perto da enorme pista de dança. Pedimos uma rodada de chope e logo todas brindaram ao meu aniversário, rindo e me
dando os parabéns. É claro que nossa mesa logo chamou a atenção dos outros. Éramos quatro jovens sozinhas,
bonitas e alegres. Em poucos minutos alguns rapazes tentaram se aproximar e puxar assunto, mas as meninas não deram muita bola. Allu falou para mim:

- Esses garotos não estão com nada. Depois que o restaurante encher, aí sim a gente escolhe o
melhor.

Não falei nada, um tanto deslocada entre elas. Eram livres, seguras, acostumadas a flertar. Eu era uma simples suburbana acostumada demais a ficar em casa, romântica e sonhadora demais parameu próprio bem. Tomei um grande gole de chope, pensando o que elas deviam pensar de mim. Ally já me conhecia há um ano e sabia muita coisa ao meu respeito. Costumava dizer que eu devia relaxar mais e aproveitar a vida. Por isso insistiu tanto para que eu acampasse com elas. Segundo Clara, se eu começasse a me soltar, seria muito mais feliz. Eu queria mudar e sair de meu mundinho solitário. Não tinha família, vivia para trabalhar,
estudar e ficar em casa. Vivia de lembranças tristes, com medo de sofrer, de me envolver com as
pessoas. Mas já há algum tempo pensava em mudar, assumir minha idade, viver tudo o que eu podia.O passado me mantinha triste e por isso eu queria um presente que me trouxesse alegria. Por isso estava ali.
Pedimos tira-gostos e logo o local começou a encher. Normani correu para a pista de dança e seacabou sozinha, pulando e se requebrando sob as luzes coloridas, no meio de desconhecidos.

- É doida mesmo! – Riu Ally, que preferia dançar só mais tarde. Ela se debruçou na mesa e disse para mim e para Beatriz :

- Repararam naquelas duas gatinhas na mesa aqui em frente?

- E você acha que eu não ia notar? – Beatriz sorriu. – Mas são filhinhas de papai. Caras
riquinhas.

Olhei para a mesa em questão. Duas moças morenas conversavam, muito à vontade, tomando cerveja e observando a pista de dança. Eram mesmo muito bonitas e bem tratadas, com cara de gente rica. Deviam ter por volta de vinte e cinco ou vinte e sete anos.Naquele momento, mais três moças se aproximaram da mesa delas e todas se cumprimentaram animadamente. Beatriz  falou:

- Nossa, o negócio está melhorando. Uau!

Sorri, mas foi naquele momento em que a vi.Ela era uma das três que acabara de chegar. Quando meu olhar se fixou nela, senti algo se revolver dentro de mim, como se tivesse vida própria. Fiquei hipnotizada, com um frio na boca do estômago.

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