Eu estava cansado. Sem expectativas.
Depois de séries de problemas, contas, relacionamentos quebrados e abandonos, eu queria esvaziar.
Insônia não me deixava dormir decentemente durante a noite, o que dificultava meu trabalho pela manhã, e me fazia estar sempre cansado durante a tarde.Peguei meu copo de café e resolvi olhar o tempo lá fora. No prédio ao lado, na varanda perto da minha, havia uma pessoa. Ela estava de costas, com os cotovelos apoiados no vidro de proteção da sacada, tinha o cabelo tingido chamativamente de verde e usava moletom rosa, calça de moletom verde e tênis de caminhada rosa. Era estranhamente combinado.
Eu o encarei por alguns segundos e, repentinamente ele se virou. Eu fiquei tão nervoso que quase derrubei a caneca de café.
Ele sorriu e acenou. Seus olhos eram de cores diferentes, um castanho e o outro mel. Ele se inclinou para frente e então falou comigo.— Você estava me espionando?
— Não! Eu só estava tomando um café na sacada.
— Tudo bem, tudo bem — Ele riu, então percebi que estava tirando com a minha cara.
— Há quanto tempo mora aí? Nunca vi você antes.
— Há bastante tempo, na verdade. E eu também nunca vi você. Qual o seu nome?
Ele era do tipo que falava bastante e conversava bem, totalmente o oposto de mim, que mal conversava com as pessoas.
— Magnus Chase.
Ele me observou de um jeito diferente por um segundo quase imperceptível, e então se esticou, como se não fosse importante.
— Legal. A gente se vê, cara. — E saiu da sacada.
Depois de teminar o café, pensando seriamente sobre o assunto, percebi que ele não havia me dito seu nome.
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— Bom dia. — Cumprimentei a funcionária da biblioteca educadamente.
— Bom dia... — Ela torceu o nariz. Parecia o tipo de garota que odeia qualquer cara que não seja um modelo de revista adolescente.
Andei pela biblioteca até o fundo, onde ficava a ala de leitura. Tinham alguns livros especiais ali.
Olhei atrás da estante e puxei o livro que escondi quando era criança. O mesmo livro que me inspirara a ser escritor.
Passei a mão pela capa vermelha e toquei a gravura dourada com os dedos."Natalie Chase"
— Esse livro é especial. — Alguém disse atrás de mim. — Essa autora... Ela é incrível. As pessoas não o procuram muito, já que, bem, estão interessadas em ficção adolescente e romances de autoajuda, mas o jeito que ela vê o mundo... É magnífico.
Virei-me e vi o mesmo cara de cabelo verde de dias atrás. Ele usava um avental rosa com o desenho de uma coruja em um dos bolsos — o uniforme da biblioteca.
— Você não me disse seu nome. — A frase soou esquisita até aos meus próprios ouvidos.
Ele bateu com o indicador no crachá preso ao avental. Me senti um pouco estúpido de não ter lido antes.
"Alex."
— Você gosta desse tipo de livros?
— Sim. — Respondeu. — Sua mãe sempre foi minha escritora favorita.
— Eu nunca disse que ela era minha mãe.
— A julgar pela sua aparência, seu nome e o carinho que tem por esse livro... Não é difícil descobrir.
Eu suspirei.
— E eu sei quem você é — Continuou —, li alguns dos seus livros. Você se parece um pouco com ela.