Há dias em que o trânsito simplesmente nos impede de chegar em nosso destino. É estranho como minutos fazem a grande diferença no seu trajeto. Saindo vinte minutos antes do horário de pico, você encontra a avenida em sua grande parte livre, saindo no horário de pico, pode esquecer a velocidade.
Em um desses dias, fui pego pelo trânsito, o sol já havia abandonado o céu e a lua se escondia por entre as nuvens. Descer do ônibus e ir a pé não me incomodava, pois a quantidade de tempo que ganhava com isso era bem vantajoso, cerca de trinta minutos no mínimo.
Andar depressa, fones de ouvidos, olhar as pessoas nos seus carros imaginando suas histórias ou simplesmente as vendo presa ali era um passatempo, enquanto que o destino ficava mais perto a cada passada. Dado momento do percurso teria que passar por uma ponte que, a primeiro momento, parecia que servia somente para os carros, pois o espaço para os pedestres era de uma pessoa e meia de largura.
Pouco antes de atravessar a rua e iniciar sua travessia, aquela sensação estranha tomou conta de mim, aquele olhar suspeito para uma pessoa parada encostada no poste, aquele sentimento de que o perigo se aproxima, mas a obrigação de passar pelo único local possível de travessia era maior.
Segurança pública nunca foi um exemplo em nosso país e até aquele dia já havia sido roubado duas vezes e assaltado uma, então já sabia como seria perder alguma coisa e cá entre nós, também não estava em um lugar muito bom.
Estranho como sentimos quando estamos sendo seguidos ou com um olhar em nossas costas, é uma espécie de sexto sentido ou para os mais geeks, sensor aranha. Assim, quando me dei por mim, aquele homem estava ali do meu lado, falando para passar o celular e apontando a arma para minha barriga. Não sei se foi aquele pressentimento de que seria assaltado que tive antes ou simplesmente minha calma natural, mas simplesmente entreguei o meu celular a ele e seguimos nossos caminhos, eu atravessando a ponte e ele voltando, provavelmente para fazer uma nova vítima. Não posso dizer se a arma era de verdade ou falsa, mas em momentos assim quem liga não é mesmo?
Passado essa situação, ser abordado por alguém te faz se assustar facilmente, mas era somente um outra pessoa que tinha presenciado aquilo e perguntado como estava. Esses tipos de coisas acontecem todos os dias, no nosso país e no mundo, alguns mais outros menos, mas a vida continua. Eu mesmo continuei meu caminho, fui para a faculdade e segui minha vida.
Se tivesse ficado no trânsito e me atrasado, o resultado teria sido diferente, irônico isso.
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Palavras ao vento
Short StoryApenas um espacinho para refletir sobre situações cotidianas minhas, suas, das plantas, dos animais, dos seres fantásticos e tudo o que mais possa nos render uma boa crônica ou uma reflexão legal.