Filho da...

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(MENSSAGEM DANIELLE)
Louis, estou com medo. Estou apavorada. Sei que você já deve ter previsto isso, mas não entende o nível de terror que estou sentindo agora.
Sempre julguei mal as mulheres que escolhiam o aborto, até ter que decidir entre ele e a minha vida perfeita.
Segue o endereço da clínica nessa mensagem, se puder por favor venha me buscar. Não acho que seja capaz de sair daqui do mesmo jeito que entrei.
Dani.

PV DANIELLE
Clínicas de aborto não eram como eu esperava. Eu esperava uma casa escura, situada na parte mais pobre da cidade, entre um açougue e uma farmácia. Eu seria conduzida por um homem ou uma mulher com uma expressão carrancuda e roupas pretas para uma saleta com uma cadeira e aparelhos médicos. Lá dentro teria cheiro de sangue e morte e um médico com um jaleco manchado e rasgado viria até mim e me amarraria a cadeira.
Eu não esperava um estabelecimento arejado, pintado de branco e azul, situado no meio de uma das principais vias de Los Angeles, sem placa e de portas abertas. Nem uma atendente risonha vestida de branco e com os cabelos presos em um rabo de cavalo indefectível. Nem uma sala de espera com três fileiras de quatro cadeiras onde estavam três mulheres. Uma adolescente ansiosa acompanhada da mãe carrancuda. Uma mulher de idade com seu marido, ambos cabisbaixos. E uma mulher sozinha como eu, que batia os pés, ansiosa.
Dei meu nome para a atendente e fui me sentar na sala de espera.
Todas as vezes que o relógio batia os segundos eu pulava na cadeira, como se o som dos ponteiros se igualassem a tiros no comôdo.
A mulher sentada sozinha se sobressaltou ao ser chamada pela atendente risonha, como se estivesse em outra dimensão e só voltara a Terra quando ouvira seu nome. Ela se levantou e seguiu a outra corredor adentro, com as mãos torcidas nervosamente.
A sala pareceu cair sobre um silêncio ainda maior, quebrado apenas pelo digitar frenético da adolescente no celular.
O casal de idosos ao meu lado me lançou um sorriso amarelo. Eu provavelmente estava mais branca que papel no momento.
-O que está fazendo aqui querida? - a mulher me perguntou. Olhei em volta, desconfortável pelo modo como me olhavam, como se estivessem com inveja.
-Não estou pronta para isso. - murmurei, mais para mim mesma do que para eles, tão baixo que pensei que não tinham ouvido.
Eles assentiram, cabisbaixos. Pareciam cansados, esgotados até. Não estavam ansiosos ou nervosos, apenas... tristes.
-Vocês não parecem estar aqui por vontade própria.
-Oh não querida, não estamos. Eu estou grávida, mas não queria nem desistir desse bebê.
Arquejei, surpresa e curiosa.
-Mas somos muito velhos, e eu não tenho condições de gerar uma criança mais. Eu estou muito fraca por sair de uma luta contra o câncer há pouco tempo e isso reduz mais ainda as minhas chances de dar a esse bebê 9 meses. - seu marido limpou uma lágrima que escorreu pelo rosto dela e apertou mais forte sua mão - Não conseguimos ter filhos antes disso e quando finalmente engravido, é tarde demais. - ela se inclinou para mim, segurando minha mão na sua - Você é jovem minha querida, então ouça alguém que já viu de tudo na vida. As coisas acontecem por uma razão, e talvez, se você matar esse bebê agora, você nunca mais se perdoará, e passará o resto da vida se perguntando como teria sido se alguém tivesse te impedido de fazer isso.
As lágrimas escorriam pelas minhas bochechas. Eu estava abalada, e indecisa. O rumo da minha vida dependia daquele momento, mas eu não conaeguia sequer formar uma palavra.
-E-eu... e-eu estou com medo. Estou apavorada. Não sei o que fazer. Não faço a mínima ideia.
O homem me estendeu um lenço e eu o usei para secar as lágrimas, que ainda caíam.
-Faça o que o seu coração diz que é certo.
Se meu coração pudesse parar de bater descompasado em meu peito eu talvez pudesse entender o que ele dizia, mas eu não achava que ele fosse se acalmar tão cedo. Eu só sabia que eu tinha duas opções. Ou entrava em uma saleta com um médico e abortava ou saia pela porta e nunca mais voltava. E em algum lugar eu sabia, não no meu coração ou em minha consciência, mas em um lugar mais profundo, que eu não seria capaz de fazer uma dessas coisas.
Me levantei em um rompante. Olhei para o casal sentado ao meu lado, que sorria para mim.
Minha cara devia estar péssima, porque a loira sorridente caminhou na minha direção com a testa franzida.
-Tudo bem senhora?
Quis gritar "Saia de perto de mim e do meu bebe com esse seu sorrisinho medonho e essas suas mãos assassinas de merda " mas ao invés disso disse:
-Não, mas vai ficar.
E saí correndo porta a fora.

The RooftopOnde histórias criam vida. Descubra agora