Carne nova é sempre mais gostosa

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POV DANIELLE
-Se não tiver bebida eu nem vou. - Josh declarou.
Todos reviramos os olhos. Joseph só saia se tivesse bebida envolvida, e sempre acabava a noite caíndo de bêbado. Infelizmente, era um bêbado aberto. Se você quer saber de algum segredo é só esperar ele beber que ele vai se abrir com você como se estivesse se confessando com um padre.
-É uma festa em um bar. Se não tiver bebida é porque estamos no lugar errado. - murmurei.
-O que tá rolando? - a voz grave de Nate soou atrás de mim, não antes que eu pudesse sentir o cheiro almíscarado de sua pele ou o calor que emanava do seu corpo. Porra, o que estava acontecendo comigo? Estava tão obcecada por ele que até sabia quando Nate está presente.
Ninguém pareceu perceber que ele chegara. Diferente de mim que estava quase pulando encima de Nate, e Phoebe continuou com a discussão.
-Eu vou levar o Paul.
-Mas é claro que vai... -Daniel debochou. Franzi as sombrancelhas, estranhando aquele comportamento. Daniel sempre gostou tanto de Paul, mas foi só ele começar a namorar a Phoebe que ele começou a ver o cara como a própria encarnação do satanás.
-Juro que não entendo essa sua implicância com ele. Ele nunca fez nada a você.
Daniel apenas a encarou, calado. Um clima meio pesado se instalou, então, com o timing mais perfeito de todos, Nate interveio.
-Que festa é essa de que estão falando? - falou, dessa vez mais alto.
Todos suspiraram, aliviados pela mudança de assunto. A inimizade recente de Paul e Daniel era um território minado por algum motivo que ninguém entendia.
-Estamos organizando uma festa no bar dos pais da Leah. Eles tem um pub no centro que todo mundo tá doido pra conhecer. E também para conhecer um certo namorado de certa pessoa. - Phoebe respondeu, sorrindo para mim.
Nate, que me olhava de soslaio, perguntou:
-Namorado de quem?
-Da Danielle, óbvio. - com a cara mais cínica possível, Phoebe levou as mãos a boca e arquejou - Ah é, esqueci que você é o novato.
Nate parecia ter levado um chute, mas não por causa da provocação.
Ele se recuperou em segundos, e sorriu com deboche para ela.
-Carne nova é sempre mais gostosa.
Todos arquearam as sombrancelhas, menos eu, que concordava que ele era uma carne muito gostosa.
-Então... Você tá convidado. Vamos acertar os últimos detalhes e enviar por mensagem.
-O que que vocês estão fazendo parados ai? - o diretor chegou, nos espantando como se fossêmos um bando de baratas - Andem, vão encontrar o que fazer. Está quase na hora de começar a gravação.
Dispersamos para todos os lados.
-Você também tá convidado pra festa - Phoebe gritou para o diretor.
-E vai ter bebida - Josh completou e desapareceu em um dos corredores.

-A Julie tá te procurando. - o diretor disse para mim.
-Sabe onde ela tá?
-Não faço a mínima ideia - ele saiu andando e me deixou ali perdida.
Saí andando pelo set procurando pela loira. Passei por uma Phoebe concentrada no roteiro que indicou o corredor ao meu lado.
-Quem você procura está ali.
-Que enigmática. - murmurei.
-Sério? Eu tava pensando em dar um tom de suspense pra personagem, deixar ela mais misteriosa e...
-Vai ficar ótimo - interrompi antes que a avalanche de palavras começasse - Falo com você depois.
Atravessei o corredor e vi Julie conversando com alguém de costas. Peraí. Eu conhecia aquele cabelo castanho e aquelas costas largas. Merda.
Me aproximei de Nate e de Julie, que me abraçou assim que me viu. Parei ao lado de Nate, que ficou rígido no mometo em que cheguei.
-Eu pedi para os dois virem aqui para propor uma atividade que vai ajudar com a atuação de vocês como casal na série.
-O que você propõe? - Nate perguntou. Ele não tinha me olhado uma vez sequer depois da conversa sobre a festa, me evitando como se evita uma doença.
-Que tal um exercício de entrosamento para os dois entrarem no clima? - Julie perguntou, animada.
Merda denovo. Exercícios como esse tendiam a ser muito íntimos, e a última coisa que nós dois queríamos era um momento desses.
Nate suspirou profundamente ao meu lado. Com certeza ele estava tão receoso quanto eu. Mas seríamos colegas e precisávamos aprender a trabalhar juntos e dar o nosso melhor no romance entre o Kol e a Davina.
-Eu acho que deveríamos fazer isso. A série merece que façamos o melhor para simular uma química entre os personagens.
-Concordo - Nate assentiu, me observando - Eu acabei de chegar e não estou familiarizado com algumas pessoas. Como vamos contracenar como casal eu acho importante nos conectarmos. Em um nível profissional é claro - completou, meio sem jeito.
-Claro. - emendei, rapidamente.
-Perfeito. Venham - Julie saiu na frente, praticamente saltitando pelo caminho, e nós a seguimos.
Entramos em algum camarim que eu nunca tinha visto antes. As coisas na mesa, maquiagens básicas como pó, base, blush, estavam perfeitamente alinhadas em frente ao espelho. Algumas jaquetas masculinas jaziam no pendurador da porta. Uma arara de roupas masculinas estava escondida no canto entre a mesa e a porta. Era um lugar básico e vazio.
-Aqui no meio por favor.
Ficamos onde Julie mandou, olhando para ela, que se deslocou até a parede oposta a nós.
-Primeiro, quero que se olhem nos olhos.
Merda. Olhos não. Aquelas órbitas negras e profundas que me encaravam, esperando que eu mergulhasse nelas. Depois de segundos de exitação me virei. Nate já me olhava e assim que eu o encarei me perdi em seus olhos. Como alguém podia manter uma conversa inteligente com esse homem?
-Agora, deem as mãos. - a voz de Julie parecia distante, quase sussurrante.
Nossas mãos se encontraram no meio do caminho. Como que lembrando de seu toque todo meu corpo ficou estático.
-Eu vou fazer perguntas e quero que as respondam sucintamente em apenas uma palavra. Dani, como está em seu ambiente e consequentemente mais confortável, você começa. Prontos?
Assentimos. Ela começou.
-O que estão sentindo nesse momento? Falem apenas um para o outro.
-Ansiedade. - sussurrei.
-Calor - Nate murmurou. Nossas respirações se misturavam de tão perto que estávamos.
-Qual a coisa que mais prezam na vida?
-Amigos.
-Família.
-Com sinceridade. Qual foi a primeira coisa que pensaram do outro quando se conheceram?
-Misterioso.
-Uau. - exclamou.
-Isso não é uma palavra Nate. - Julie reclamou.
-Mas foi a primeira coisa que pensei quando a vi. - disse, olhando nos meus olhos. Eu derreti como uma manteiga. Uma manteiga muito feliz e satisfeita.
-Ok... Maior desejo?
-Realização.
-Amor.
Oh,uau.
-Maior medo?
-Solidão.
-Solidão. - dissemos juntos.
-Como um fez o outro se sentir?
-Exposta.
-Nervoso.
-Ok. Acho que já está de bom tamanho. Podem soltar as mãos agora.
Quando olhei para baixo, percebi que nossos dedos estavam entrelaçados com força. Eu não fazia ideia de quando aquilo tinha acontecido, só sabia que era muito bom. Soltei sua mão quando percebi que estava indo longe demais, cruzando os limites do profissional e da amizade. Precisávamos parar por aí.
Julie franziu o cenho. Olhei para Nate e só então percebi que ele ainda me encarava. Seus olhos brilhavam mais do que antes e com algo indetectável e perigoso. Desviei os olhos rapidamente para o chão.
Eu tinha feito esse exercício com o Sharman, e mesmo que tenha sido um pouco íntimo, eu não me senti nem de perto o quão vulnerável eu me senti agora, olhando nos olhos dele, respirando o mesmo ar que o seu.
Ela nos olhou, desviando os olhos de um para o outro rapidamente, e seus olhos brilharam. Julie bateu as mãos, intusiasmada.
-Essa parceria vai dar muito certo.
Minha pele estava arrepiada, minha mente estava bagunçada e meu corpo agora era uma gelatina. O que está acontecendo comigo?

The RooftopOnde histórias criam vida. Descubra agora