One

625 52 37
                                    

Dinah POV

Um mês depois.

-Chee, não acha que está exagerando com isso? - Camila me falava.

-Com o que? -Ela me olhou e apontou para o papel que eu escrevia.-Não, por que?

-Dinah você está fazendo uma lista para fazer antes de coisas para fazer entes de morrer! -Ela respirou fundo e continuou. -E ela só tem 5 itens, por favor, pare com essa besteira.

-Ela só terá doze itens, porque não me resta muito tempo! -Senti um tapa no meu braço.

-PARE com isso! - Ela gritava entre dentes. -Você só tem 18 anos, é muito nova para morrer. Eu estou lhe pedindo, você não pode me deixar assim, você sabe que vou me sentir sozinha, só você me entende. - Foi então que eu percebi que não podia falar da minha morte na frente da Camila.

-Desculpa, mas você tem que começar a se conformar. -Eu lhe dei um abraço apertado, sentindo suas lágrimas molharem meu ombro. -Calma Chan, não quero te ver chorando nunca, por favor.

Não importava o que as pessoas achavam, até mesmo Camila - minha amiga desde infância - eu tinha que me organizar eu sei que não falta muito tempo para mim. Tem coisas que eu ainda não fiz e que quero fazer, quero tentar aproveitar o máximo, quero fazer as pessoas sorrirem, e não chorarem. Os segundos passam, eu tento correr, lutar contra o tempo, mas é impossível,não posso evitar o inevitável.

-Eu preciso muito da sua ajuda, não posso realizar essa lista sozinha, Camila. -Minha garganta ardia, as lágrimas teimosas tentavam escapar, mas eu era forte, não podia me deixar abater.-Você me ajuda? -Ela apenas afrimou com a cabeça.

***

Minhas seções de Radioterapia, eram uma semana sim, e outra não, começando e terminando aos domingos. Nas semanas que eu não ia para o tratamento, eu ia para o colégio. Por mais tempo que eu economizasse eu queria qua as horas na escola passassem rápido, era sempre assim, contar os segundos para o fim das aulas era uma rotina para qualquer estudante. O diretor havia vindo em nossa sala nos últimos minutos da aula para avisar que uma aluna nova chegaria, e com aquele mesmo papo de: A tratem bem, sejam convidativos, façam-a se sentir em casa. A fofoca então começou. Carne nova, essa era uma típica noticia que iria rolar por meses e meses. Assim que o diretor saiu da sala Camila se virou para mim, com aquele olhar analisador.

-O que foi? - Perguntei sem saber o motivo do seu olhar.

-Nada! -Me disse dando os ombros e virando-se para frente. -Só que...-Ela me olhou novamente. -Enquanto todas estão tentando imaginar como séra a a aluna nova você está ai perdida em pensamentos.

-Mila, você não acha que eu tenho coisas melhores para me preocupar?

-Dinah, já mandei você parar com isso! -Ela olhou em direção a lista. -Eu posso pelo menos ver o que tem escrito nela? Ou não?

-Você tem certeza que quer ver? Ainda não está pronta! -Ela tentou pegar o papel mas eu fui mais rápida. -Não seja curiosa Karla Camila! -Ela me olhou rindo, e me jogou um olhar de: "Não se preocupe, ainda vejo essa lista."

***

O sábado acabou, assim como a semana também, dando lugar ao amanhecer do domingo ensolarado, e hoje começa minha semana dolorosa de tratamento. Era a rotina mais tediosa de todas, dizem que é para o meu bem, mas eu sei que ela só está fazendo minha morte ser mais lenta. Ás seis da manhã, como de costumo minha mãe  me deu um beijo na cabeça e diz que está na hora de acorda. Me arrumo e seguimos para o hospital em um silêncio sufocante. Assim que entramos já podemos notar os mesmos rostos -ás vezes novos rostos sofridos- sentamos cada um na solidão, esperando a sua vez para começar o tratamento, minha ficha foi a número nove, isso quer dizer não terei que esperar tanto. Pouco a pouco as pessoas vão embora, outras chegam e assim por diante, até chegar a minha vez.

A Lista (Norminah)Onde histórias criam vida. Descubra agora