Capítulo 2

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Mateus

Não acredito que perdi a hora. Ontem cheguei em casa de madrugada, e a adrenalina do encontro com a roqueirinha misteriosa do hostel e mais a descarga elétrica do nosso beijo não me deixaram dormir. Passei o maior tempão na cama, pensando como poderia fazer para vê-la de novo. Estaria o dia inteiro preso com a patricinha, e se ela fizesse check-out enquanto isso e eu nunca mais a visse? Pensei em de repente mandar um amigo para lá para ter certeza que ela não fosse embora antes de eu me liberar, mas estava tarde demais para ligar para alguém e acabei pegando no sono duas horas antes do horário marcado no alarme. Que eu não ouvi.

Acordo vinte minutos antes da hora que o carro da agência deveria chegar. Mal tenho tempo de jogar uma água no corpo, me vestir e saio comendo o café da manhã. Chego à calçada e encontro uma coroa alta vestindo um terno, os cabelos grisalhos presos em um coque. Ela me estende a mão:

-Bom dia, sou Tereza. Vou ser sua motorista essa semana.

-Ei, gosto disso.

É legal, vai. Ter uma "motorista da semana". Tudo bem que o terno dela deve ser mais caro que o meu.

Entro no banco traseiro, meio sem graça. Mas ela disse que era minha motorista, então talvez eu devesse me sentar ali mesmo. Me pergunto se consigo fazer amizade com a Tereza o suficiente para que ela vá ao hostel pedir para a roqueira me esperar. Enquanto isso, dou uma olhada na programação do dia. É chata para caramba. Pão de Açúcar, almoço em uma churrascaria rodízio, passeio no shopping. Certeza que, se a patricinha fosse homem, a enfiariam em um show de mulatas.

-Você sempre faz isso? – Pergunto para Tereza.

-Turismo com os famosinhos? Sempre. Toda hora tem alguém para entreter. Normalmente são RPs que fazem isso, devem ter te chamado porque a garota é nova e você tem essa carinha bonita.

Me olho no espelho retrovisor. Estou cheio de olheiras e não tive tempo nem de fazer a barba. Devia ter aparecido assim na frente da Vanessa, de repente ela mudava de ideia.

-Então é um trabalho legal? Tipo, que não dão a um estagiário?

-Não que eu saiba.

Estou até me sentindo um pouco melhor, quando me dou conta de algo que não consta do programa.

-Ei, aqui não diz que horas devo deixá-la no hotel.

-Não tem hora, você está à disposição dela. Se ela quiser virar, você vira junto.

-Mas... – Caramba, como vou ao hostel assim?! – Mas eu não posso ficar dia e noite por conta da patricinha, eu estudo!

-Conselho – Ela me encara pelo retrovisor. – Está na empresa que quer? Quer ter futuro nela? Então não questione, aceite. Vão empurrar todo tipo de roubada para você, e você obedece com um "sim, senhor" e um sorriso.

(Se for o destino, médio da EMI, a gente vai se ver de novo)

Talvez eu devesse aceitar que o destino não quer que nos vejamos novamente. Guardá-la como uma lembrança incrível e focar na patricinha. Com sorte, ela é muda, me libera cedo e eu ainda ganho uns pontos com a chefe.

***

Lily

-Mamãe, por que você está fazendo isso comigo?!

-Não é punição, Lily – A voz da minha mãe, calma, chega pelo tablet. Mamãe está no seu "modo convencimento". A pessoa a ser convencida, claro, sou eu. Mas ela que tire o cavalinho da chuva, porque eu estou possessa. – Pense bem. Você está sozinha e não conhece a cidade. Agora tem alguém para te mostrar e fazer companhia. Não é muito melhor?

Descobrindo Você [Degustação]Onde histórias criam vida. Descubra agora