Capítulo 3

19 4 0
                                    

Mateus

Estou tão animado que solto uma risada nervosa. Então o destino existe mesmo, afinal de contas, e ele ainda por cima quer que a gente se encontre. Ele acaba de jogar a roqueirinha no meu colo no lugar mais inacreditável possível.

-Sério, o que você está fazendo aqui? Veio a trabalho? – Ela me dá um abraço e se encaixa perfeitamente, como se tivesse nascido para estar nos meus braços, e como se eu tivesse nascido para abraçá-la.

Minha resposta é automática, ainda que um pouco constrangedora.

-Sim, me mandaram ficar de babá de uma riquinha mimada. Coisa de gente famosa, que acha que não pode ir até a esquina sozinha. Talvez você saiba do que estou falando quando gravar seu CD. E você?

Enquanto falo, percebo que seu corpo fica tenso. Ela se solta dos meus braços e responde, séria:

-Eu estou hospedada aqui.

-Mas e o hostel? – Pergunto, surpreso. Eu sou lerdo para caramba, mesmo. A roqueirinha toma o caminho da porta e diz, sobre o ombro:

-Vamos acabar logo com isso e visitar essa porcaria de Pão de Açúcar.

E só então a ficha cai.

Ainda passo um bom tempo parado, perplexo, enquanto a minha roqueirinha linda se transforma em patricinha mimada e pergunta, a voz alguns tons acima do normal:

-Onde está a droga do carro?!

Sabe quando você passa muito tempo esperando por algo e, quando ele chega, é uma completa decepção e você percebe que não é nada daquilo que queria? Não esperei tanto tempo assim, havíamos nos conhecido na noite passada, mas o nosso encontro tinha parecido tão certo. Ela era o tipo de garota com quem eu poderia conversar pelo resto da vida, cuja companhia nunca me cansaria, não alguém que ficava dando faniquito no meio da calçada por causa de um carro, que me deixava quarenta minutos esperando na recepção e que, principalmente, mentia para mim. Mal nos conhecemos e ela já era uma tremenda mentira.

Tereza não demorou a parar na frente do hotel. Provavelmente havia ficado plantada tanto tempo ali nos esperando que a mandaram tirar o carro e parar em outro lugar. Ela desceu, profissional, e abriu a porta para a patricinha. Ia sentar na frente, mas aquela menina me devia um monte de respostas.

-Então seu nome é Lily – Eu falo, quando me sento ao lado dela. – Não custava me dizer.

Ela fica alguns segundos em silêncio, parece estar querendo fazer o jogo do mudinho. Por fim, responde:

-Na verdade, custava, sim. Não queria ser reconhecida. É que eu não posso ir até a esquina sozinha, como você falou, e estava em um bar de karaokê – Ela diz, cheia de sarcasmo.

-O hostel fazia parte do disfarce?

-Foi improvisação. Você quis me levar em casa e procurei o endereço de um hostel na hora, no celular.

Cara, a menina é mentirosa diplomada. Tereza acompanha a nossa conversa pelo espelho retrovisor, tensa. Ela não devia estar esperando que um estagiário promovido a babá falasse daquele jeito com uma cliente, ainda que Lily esteja longe de ser celebridade. Não costumo acompanhar revistas nem notícias de famosos, no máximo os próximos CDs e shows das bandas que curto. Nunca imaginaria que aquela menina da noite anterior seria filha da Malu Lewknor e se transformaria num monstro na manhã seguinte.

-E o português?

-Não aprendi português instantaneamente para me disfarçar, Mateus... É esse o seu nome? Minha mãe é brasileira, português é minha segunda língua. E pare de fazer gênero que você também mentiu para mim.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Oct 15, 2017 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Descobrindo Você [Degustação]Onde histórias criam vida. Descubra agora