Colocando o plano em ação

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O meu dia começou particularmente agitado hoje (como se isso fosse novidade, não é mesmo?), Chara acordou bem cedo dizendo que hoje minha fuga seria executada com sucesso e ela está bem agitada, pode ser tanto pela oportunidade de mostrar que seu plano é bom ou ela ingeriu muito açúcar, oque é muito provável vindo dela. Logo ela termina de arrumar sua cama e sai do quarto toda saltitante, mas eu fiquei por aqui mesmo já que ainda tenho muito oque arrumar. Minhas coisas estavam todas bagunçadas, sapatos espalhados pelo quarto, roupas penduradas em todos os lugares possíveis... Ai ai, e lá vou eu arrumar oque eu chamo de "furacão Betty".

Demorou um pouco mas consegui por cada coisa em seu devido lugar, logo depois disso fui até o espelho do banheiro para pentear o cabelo, que por sinal estava horrível, pra que ter cachos quando se pode ter um ninho. Mal comecei a pentear e senti um calafrio estranho, como se eu estivesse sendo observada. Olhei em volta, mas não haviam ninguém no quarto além de mim. Já um pouco assustada com aquela súbita sensação larguei o pente e antes de sair do banheiro me encarei no espelho lembrando da menina que vi atrás do portão em meu pesadelo, nesse curto período de distração o espelho refletiu um vulto preto logo atrás de mim no corredor que leva ao banheiro onde eu estava, ao me virar não encontrei nada onde o vulto deveria estar. A essa altura do campeonato meu coração já batia aceleradamente descompassado.

- Chara?- eu realmente espero que seja ela me pregando uma de suas peças, mas não ouvi ninguém entrar no quarto...- isso não é engraçado!

Saí pelo corredor e fui avançando até me encontar no centro do quarto, entre as duas camas. Ouvi alguns passos fortes ecoarem no piso de madeira como se estivessem vindo em minha direção e uma risada baixa porém sinistra que me arrepiou. Congelei onde estava, mas os passos pararam e ninguém veio. Fiquei um bom tempo parada no meio do quarto encarando o corredor até que a parte do meu cérebro que não estava paralisada pelo medo reagiu e corri para fora do quarto sem olhar para trás.

Cheguei na área principal com o coração batendo forte, tudo estava deserto, oque é estranho se formos pensar que o lugar está sempre lotado. Fiquei em silêncio tentando ouvir qualquer som que me ajudasse a encontrar alguém e acabei ouvindo sons de cadeira arrastando no refeitório, sem pensar duas vezes voltei a correr. Ao chegar mais perto do refeitório ouvi vozes e os gritos que são normais no hospício Sunrise, oque foi um alívio. Ao entrar no local e me sentado em uma das mesa vi Chara me observar com curiosidade e se aproximar, com um leve sorriso no rosto.

- Ei, por que essa cara? Parece que viu um fantasma!- disse ela rindo discretamente- Por que me olha assim? Falei alguma coisa errada ou tá com dor de barriga?

- Há há há, muito engraçado.- respondi meio emburrada- Você nunca leva nada a sério?

Ela me encarou com a cabeça levemente inclinada.

-E por que deveria? Se eu fosse levar tudo que me acontece a sério eu realmente ficaria doida.- ela ficou pensativa por um instante e murmurou baixinho- E você não pode reclamar das minhas gracinhas, pois não tem a família que eu tenho, oque é uma sorte grande...

Família, um assunto delicado para nós duas. Sei que é melhor não perguntar nada, pois a única vez que tentei entender eu e ela tivemos um pequeno... Ah, desentendimento, que prefiro que não se repita. Porque, digamos de passagem, Chara tem um lado meio violento e assustador que pode ser perigoso tanto para quem está a sua volta quanto para ela mesma. Depois de ficarmos um tempo em silêncio Chara volta a falar:

Estadia no Circo da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora