A armadilha

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  Fui lentamente até a grade que estava em volta do circo e observei, encantada, o tamanho do lugar. Daria para conter um prédio de três andares dentro daquela lona. Eu sinceramente pensei em pular aquela grade, mas com a perna daquela maneira, a última coisa que eu queria era me causar mais ferimentos. Fui lentamente dando a volta procurando uma entrada, um portão ou algo assim.

  Ao chegar em um certo ponto onde havia algumas folhas de palmeira jogadas, encontrei um buraco pequeno na grade que dava pra dentro da propriedade. Olhei a minha volta e joguei a mochila por cima da grade entrando, com um pouco de dificuldade, pela apertada abertura em seguida.

  Aquela abertura dava direto para uma parte do terreno do  circo onde ficavam os caminhões e "trailers" possivelmente onde os artistas ficavam, porém não avistei ninguém no local. O silêncio era estranho aos meus ouvidos, pois um circo é um lugar onde estamos acostumados a ouvir músicas e risos, sentir cheiro de pipoca... Mas não havia simplesmente nada. Fui em direção a minha mochila que havia caído mais distante do que imaginei e percebi que ao lado dos caminhões também haviam jaulas. Algumas vazias, mas outras deixavam escapar grunhidos e relinchos fracos. Me aproximei de uma delas, mas não conseguia enxergar o animal que lá estava, pois a jaula era completamente fechada com apenas um respiradouro no alto. Senti pena do animal que estava preso daquela maneira, mas eu não podia fazer nada. Percebi que a minha volta a escuridão começava a se alastrar.

  O sol estava se pondo rapidamente.

  Voltei para o lugar onde estavam os caminhões e fiquei tentada a chamar por alguém, mas algo dentro de mim me alertava "fique em silêncio, não chame atenção para você. Algo não está certo". Resolvi ouvir oque minha mente dizia e comecei a procurar um lugar para me "esconder" afim de passar a noite naquele local com a proteção que a grade me proporcionava de qualquer ser ou animal que estivesse do lado de fora da propriedade. Mas mal sabia eu que o verdadeiro perigo se encontrava no mesmo terreno que eu.

  Me enfiei em um espaço entre algumas caixas e um caminhão, que parecia estar quebrado, de forma que se eu deitasse no chão eu conseguiria enxergar por debaixo do caminhão se algo desse as caras por aqui. Fiquei tentada a acender uma fogueira, mas desisti da ideia ao lembrar que eu tinha de ser discreta.

  A escuridão da noite logo desceu sobre a paisagem deixando apenas a fraca luz da lua a mostra. Estava tudo em um silêncio morto, nada se mexia. Os animais nas jaulas estavam em um silêncio completo, como se não existissem. Me deitei sobre a minha blusa que eu havia esticado no chão e encarei a escuridão que se abateu sobre o circo me lembrando do ser feito de sombras que me seguiu... Nesse momento lembrei de algo um pouco aleatório, mas que depois de um tempo acabei entendendo o porque de eu ter lembrado esse detalhe: O "homem das sombras" usava uma roupa peculiar: gravata borboleta, sapatos de ponta longa, suspensórios... Um palhaço.

  Ao entender o significado daquela lembrança, com um calafrio, percebi que aquela grade não me dava mais tanta sensação de segurança. E se aquele "palhaço" for desse circo? O problema era que eu não podia me arriscar tanto ao ponto de sair andando novamente na escuridão da floresta, agora sabendo o tipo de perigos que ela esconde. Decidi continuar acampada entre as caixas e sair o mais rápido possível pela manhã. Acabei adormecendo depois de um tempo deitada, mas logo voltei a acordar com uma súbita sensação de perigo.

Abri os olhos rapidamente mas não me levantei, não ousei me mexer. Algo estava muito errado naquele lugar, não era apenas uma teoria. A sensação de perigo que se espalhava pelo ar agora era quase palpável. Percebi, olhando por debaixo do caminhão, que agora havia uma luz acesa vindo da parte da frente do circo. Ouvi passos rápidos. Por um momento pensei que vinham de algum lugar as minhas costas, mas logo vi em meio a escuridão a silhueta de alguém que correu bem a minha frente em direção a luz e logo sumiu ao virar para detrás de uma jaula. Me levantei com um salto já me sentindo um pouco desesperada. Respirei fundo tentando retomar a calma, peguei minha mochila e andei, silenciosamente, até a frente do caminhão o qual eu estava perto. Olhei em direção a entrada do circo buscando algum indício de movimento. Dou dois passos a frente e a mesma silhueta de antes corre do local onde ela havia entrado indo agora em direção a entrada do circo. Meu corpo congela e meus músculos não obedecem meus comandos, apenas observo aquela movimentação até que o dono daquela silhueta se coloca de frente a entrada do circo sendo banhada pela luz que sai do lugar. Observo aquilo que, em estatura, me lembrava uma criança e acabo por notar que um capuz cobre o seu rosto que está virado na direção em que estou parada. Ela bate o pé direito no chão agitadamente, como se estivesse com pressa e faz um movimento com a mão indicando que eu me aproximasse. Me sinto impelida a me aproximar, mas continuo parada por um longo tempo onde eu apenas encarei a "criança" e ela intensificava o movimento continuando a me chamar. Meu corpo finalmente responde ao meus comandos e dou alguns passos calculados indo em direção a aquela criança, que dá uma leve risada seguida de um pulinho alegre e entra no circo.

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⏰ Última atualização: Aug 25, 2018 ⏰

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