Apenas relampejos, isso é tudo que posso ver a minha volta. Uma porta de ferro negro, uma chave prata no chão, uma luz pálida e uma risada arrepiante... tudo em uma repetição infinita como as voltas de um carrossel.
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Acordo com um barulho de galho estalando, por um momento não lembro onde estou por isso demoro um pouco para me acalmar. Olho em volta do cômodo onde me encontro e deixo meu olhar vagar melancólicamente até pousar em uma caixa que parecia deslocada naquele cenário. Totalmente branca sem nenhum sinal de poeira, exatamente o contrário de qualquer outro objeto do lugar. Encaro a caixa com desconfiança, não me lembro de ter visto ela quando cheguei no local durante a noite.Me levanto e vou até o lugar onde ela se encontra e observo todos os seus lados, mas não encontro nada de estranho. Abro a caixa lentamente, com medo de que algo pulasse para fora. Me espantei com oque encontrei dentro dela. No interior da caixa havia uns poucos suprimentos, duas barras de cereal, uma garrafa d'água, algodão e esparadrapo. Encarei o conteúdo da caixa, peguei uma das barrinhas e procurei a validade. A data da validade ainda estava muito longe de passar. Não tem como essa caixa estar aqui a muito tempo. Me levantei um pouco espantada e olhei em volta novamente, não havia sinais de que alguém estivesse usando aquele local como moradia, nenhuma pegada na poeira além das minhas. Foi então que notei que havia uma luz a mais no quarto, a janela estava aberta. Me aproximei dela.
- Como...? Eu a havia fechado, eu lembro...- olhei através da janela e não encontrei nada a não ser a floresta escura a minha volta.
Olhei novamente para a caixa e ouvi minha barriga roncar. A barrinha que eu segurava derrepente se tornou um pouco mais chamativa. Segurei ela com mais força e a guardei no bolso da minha blusa. A fome era grande mas eu não podia deixar de desconfiar daquela caixa. Peguei oque sobrou na caixa e guardei na minha bolsa. Me dirigi novamente para a janela, observando em volta. Me empolerei na base da janela e rapidamente pulei para fora da cabana.
---------------------Fui me afastando aos poucos procurando a continuação da trilha a qual eu segui. A encontrei a leste da entrada da cabana e continuei seguindo pelo caminho silencioso. Agora que o sol iluminava um pouco o caminho, ficava mais fácil se acalmar enquanto andava e o silêncio agora era quebrado pelo canto distante de um pássaro. Depois de quase uma hora andando eu acabei parando em baixo de uma árvore e me sentei para descansar. Coloquei a mão no colo e senti a barra de cereal em meu bolso, eu estava com muita fome a essa altura, então acabei pegando ela do bolso e a fiquei encarando.
- Como você pode pensar em comer algo que nem sabe de onde veio, Betty?- perguntei para mim mesma- Se bem que se eu não comer agora irei acabar morrendo de fome...
A encarei por mais um tempo até que não aguentei e a abri. Comi rapidamente mal sentindo o gosto, pensei em deixar um pedaço para depois mas acabei deixando a ideia de lado e comi a outra metade. Peguei a garrafa d'água de dentro da minha mochila e bebi um pouco. Fiquei brincando distraidamente com a tampa da garrafa, pensando em tudo oque aconteceu: os pesadelos, a minha fuga do hospício, essa floresta silenciosa...
Fiquei tão absorta em meus pensamentos que demorei a perceber que alguma coisa estava errada. O pássaro havia parado de cantar e o silêncio reinaria novamente se não houvesse um ruído de passos entre as árvores a minha frente... Me levantei com um salto quase derrubando a garrafa que estava em minhas mãos. Meu corpo estava tenso, meus sentidos em alerta. Senti uma presença estranha em algum lugar atrás de mim, me virei mas não consegui ver ninguém. Fui saindo da trilha aos poucos e me embrenhando na mata. Guardei a garrafa na bolsa e me abaixei entre a grama alta ainda ouvindo os passos sem dono. Ouvi uma respiração alta e um leve grunhido, levantei um pouco a cabeça para olhar o outro lado da trilha e o que vi quase me fez gritar.
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Estadia no Circo da Morte
Misterio / SuspensoPode parecer louco oque eu vou falar, mas estou fugindo de um hospício. Há muito tempo venho sendo assombrada por um ventríloco em meus sonhos e hoje ele voltou a aparecer para mim, só que dessa vez, eu estava acordada. Este livro conta a história...