Dulce María
— Você não devia ter feito aquilo Dulce! Não devia. — Ucker gritou quando chegamos ao seu apartamento.
Como se já não bastasse a sua grosseria no carro a caminho pra cá.
— Por que não? Eles me humilharam na frente de todos! — gritei jogando minha bolsa no sofá.
Christopher estava me encarando como nunca havia encarado antes em três anos de namoro.
— Isso não justifica. — sussurrou desviando seu olhar do meu. — É a minha família.
— Eu não queria ter feito aquilo, eu não queria ter explodido daquele jeito. — choraminguei. — Eles me odeiam. Eu sempre aguentei calada por você, mas hoje, ao ver eles dizerem na minha cara que eu não sou "a mulher certa pra você" me destruiu.
— Você não entende? Eles são complicados. Desde quando começamos a namorar. Mas eu sei que eles vão ceder. Ou iriam, porque depois do que você fez hoje, não garanto que tenham mudado de concepção a seu respeito.
Ucker bufou e bagunçou os cabelos voltando a me encarar. Sentir seu olhar decepcionado sobre mim, me fez recuar.
— Quem tem que entender é você Christopher. Eles nunca vão me aceitar, e você sabe disso. — falei passando a mão no meu rosto. — Ora, que família aceitaria seu único filho herdeiro casar-se com uma bolsista filha de pais separados?
— Falando assim até soa como se minha família fosse egoísta, egocêntrica, sem coração.
— E eu estou falando alguma mentira? — brandei me arrependendo no segundo seguinte ao ver seu olhar de raiva, novamente.
Um silêncio agoniante pairou sobre a sala e foi quebrado minutos depois por Ucker.
— Nós somos muito jovens. Eles devem ter medo de cometermos alguma atrocidade. Eles têm medo que algo de errado aconteça sem estar nos nossos planos, tipo um filho, sei lá.
Engoli em seco e suspirei devagar, desviando nossos olhares.
— Faça me favor, Christopher. — Resmunguei indo beber um pouco de água. Precisava acalmar os ânimos. Nós dois precisávamos.
— Dul, acabamos de completar dezoito anos. Acabamos de entrar na faculdade, e eu só tenho esse apartamento. Eles se preocupam com o meu futuro. — Ouço Ucker dizer atrás de mim. Me engasguei no mesmo instante.
— Está querendo dizer que eu vou atrapalhar o seu futuro? É isso, Christopher?
Ele arregalou os olhos.
— Não...é claro que não, Dulce. — falou se aproximando.
— Foi isso que insinuou. — resmunguei.
Eu sabia o que vinha a seguir mas não queria acreditar que nosso amor chegaria nisso.
No começo do meu relacionamento com Christopher, eu fui conhecer sua família. E de cara, eles não gostaram de mim. Me lembro que fiquei muito mal, até cheguei a pensar em acabar tudo com ele pois acreditava que daria tudo errado, afinal, éramos tão novos. Mas ele mesmo me convenceu que o apoio da família não fazia diferença na nossa vida. E então chegamos até aqui. Três anos.