• Aurora Saviñón na mídia •
Dulce María
– Por que deixou a tia Any e a tia Mai lá? – ouço Aurora perguntar após alguns segundos.
A encarei e voltei a atenção a pista tentando controlar as malditas lágrimas.
– Eu só fiquei nervosa. Elas vão conseguir voltar de qualquer jeito. – sussurrei deixando as lágrimas caírem livremente.
– Ah mãe, não precisa chorar tá bom? Eu só fui ver o Mike correr. – Aurora disse pela décima vez em apenas três minutos que estamos nesse carro.
Quem me dera se pudesse contá-la o motivo das minhas lágrimas. Mas ela nunca me perdoaria por mentir. Agora mais do que nunca preciso que Miguel volte.
Miguel é meu marido. Estamos casados a dez anos e Aurora o considera seu pai. Sim, eu disse a ela que ele era seu pai. Pra falar a verdade, ele que quis registrá-la com seu nome depois que nos casamos. Mesmo Aurora não tendo nada a haver com ele. Ela até me perguntou uma vez se era adotada por conta do miguel não ter nada a ver com ela. Chorou e tudo. Demorei uns dois dias pra explicar tudinho pra ela e lhe convencer que éramos de fato, seus pais.
Miguel viaja a trabalho duas vezes por mês. E, pelas minhas contas, em três dias ele estaria de volta. Ele é deputado e por conta disso, precisa ficar sempre viajando. Eu sinto sua falta mas entendendo que é o trabalho dele.
– Me conte Aurora, por quê brigou justo naquele lugar? Eu já não te falei que lá é perigoso?
Ela juntou as sobrancelhas e deu de ombros.
– Falou não.
– Tô falando agora. – respondi lhe encarando rapidamente e voltando o olhar para a pista. – Raxa não é lugar pra você, princesinha.
– Quantas vezes eu vou ter que dizer que eu não sou mais criança pra me tratar assim? – ela pergunta e sinto indignação em sua voz.
– Pra mim você é e sempre vai ser.
Sinto o olhar dela me queimar, apenas continuei encarando a pista a minha frente.
– A senhora não me entende. Nunca me entendeu. Aposto que prefere o trabalho ao invés da sua filha. – ouço ela sussurrar.
Lhe encarei, vê-la sussurrar aquilo sem olhar pra mim doeu e a vontade de chorar me invadiu por inteiro.
– Você está errada. – sussurrei pegando em sua mão. – Eu amo você. Mais que tudo nesse mundo.
– Quando meu pai volta? – ela pergunta tirando sua mão da minha e ignorando totalmente tudo o que falei.
– Daqui três dias. – respondi lhe encarando esperando um sorriso seu mas não obtive.
– Que bom. – ela diz por fim encarando a janela.
Apenas suspirei e dentre alguns minutos estávamos em casa. Assim que abri a porta, ela já saiu correndo.
– Parada aí mocinha. – falei jogando minha bolsa no sofá. Aurora se virou e cruzou os braços.
– Sem celular e sem computador, já sei. – ela diz suspirando.
– Sem televisão também. – falei e ela logo arregalou os olhos. – Incluindo a Netflix. Ah e claro, da escola pra casa. Nada de festa e nem de raxa. E nem de Mike. Aliás, preciso que seu pai converse com esse garoto e com os pais dele. Mai precisa saber o que o filho anda aprontando.