#8 Lembranças Esquecidas

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Uma família comum, não tão normal, pelas inúmeras palhaçadas, mas uma família feliz como todas as outras. Que compartilham momentos de tristeza, de alegria, brincadeiras sem sentido algum, de passeios pelo parque, tudo isto de tantos outros. Porém, toda essa vivência mudou em apenas uma noite

...

O pai chega tarde, com um perfume incomum impregnado em sua roupa. Seria somente uma impressão de sua mulher? Talvez.
Mas isso continuou ocorrendo, à cada noite um cheiro diferente. Até que ela decidiu perguntar
- Amor, que cheiro é esse em sua camisa? -o marido nada disse, apenas entrou direto no banheiro, já que ele não queria lhe responder, resolveu achar respostas por si só. Pegou seu celular e abriu nas mensagens, onde foi chamada sua atenção à mais recente: "Amanhã nos encontraremos no mesmo hotel?" Jéssica Ângela
Abriu seu histórico, ainda não acreditando: "Continue comigo, e explique para sua mulher que não à quer mais" Melissa Lao
- Basta -fala caindo em lágrimas

Ao pensar demasiado no assunto, decide deixar em oculto, pois ainda ama seu marido, para deixá-lo ir tão fácil, faria de tudo para recuperar seu amor, sem falar no seu filho, que ainda muito pequeno, pode ter problemas com a separação dos pais

Mas quem dera fosse tão fácil

Cada dia se tornava mais difícil, principalmente as inúmeras brigas constantes dentro da casa, estas que atormentavam o garoto trancado em seu quarto. Sua mãe começou a beber, assim também a fumar, sem contar com as vezes que entrava no banheiro para tomar drogas que à fizesse esquecer seus problemas. Seu pai continuava à traí-la bem na sua frente, sem se importar com seus sentimentos. O garoto, mesmo sem entender muito bem, tinha noção do que se passava alí

Mais noites atormentadas, mais estas sem dormir, cochilar na escola não era uma novidade. Sua mãe a lhe buscar todas as vezes sem vontade, como se ele nunca estivesse existindo, o garoto à se sentir solitário, nunca mais saíra alguma palavra de sua boca, apenas o silêncio constante, não se lembrava mais como era sorrir, apenas só lhe era lembrado o gesto de tapar os ouvidos, para tentar ter paz

O escuro do quarto, lhe servia como uma prisão, somente saíra para comer, ir para a escola e tomar banho, esse era seu dia a dia. As vezes quando olhava pela janela, via crianças se divertindo com seus pais, sim, sentia inveja de suas vidas, algumas vezes via pais ensinando para seus filhos à andar de bicicleta, sempre quis aprender à andar, porém nunca teve coragem de pedir, mas ele estava determinado à mudar isso, no dia seguinte seria seu aniversário de nove anos, uma chance perfeita para tal

No outro dia, tudo estava preparado, quando voltasse da escola, faria o pedido, considerando que seu pai não iria trabalhar esse dia, quando chegou na porta de casa, respirou fundo antes de entrar, porém ele não estava, somente a casa vazia, sua mãe fecha a porta atrás de si e corre para ao banheiro, o garoto solta um suspiro pesado sentando em uma cadeira perto deste. Ao ouvir a porta ser aberta, levanta rapidamente
- Mãe -força o seu maior sorriso- sabe que dia é hoje? -qual é a criança que não se anima com seu aniversário
- Quinta-feira? -responde friamente
- Não mãe! Um dia especial! -insiste
- O dia em que seu pai vai parar de me trair? -seu sorriso desaparece de seu rosto
- Mãe! -grita começando a criar lágrimas nos cantos de seus olhos
- O que é, pirralho chato! Já tenho muitos problemas para resolver!
- Mãe, mãe, mãe!
- Cala a boca! -lhe dá um tapa na cara, fazendo o garoto cair no chão
Ele apenas se levanta e volta para o seu quarto, ao fechar a porta deste, se desmancha em lágrimas, quase que se afogando em tais, aliás, belo presente de aniversário em?

...

No dia seguinte em sua escola, ouviu uma certa conversa de seus colegas de classe, sobre um filme de um garoto que matou toda a sua família enquanto dormia. Neste momento algo despertou dentro dele.

...

E novamente, estava tudo preparado, mas desta vez não para ter uma atividade em família, em busca de tentar acabar com os problemas. Que tal colocar em prática o que aprendeu em sala?
Separou sangue de baiacu numa seringa, álcool e fósforos
Na hora da janta aplicou discretamente o sangue de baiacu na comida
E de 3:05 da manhã, lá estava ele, seus pais paralisados lado à lado enquanto queimava a casa e a cama de casal em que estavam deitados. Finalmente em paz.

...

Uma garota um pouco mais alta que ele se aproxima
- Oi, meu nome é Lenny Corall, tenho 13 anos, e vou trabalhar aqui à partir de hoje, prazer em conhecer -fala estendendo a mão
- Nick Black, 10 anos...porque trabalha aqui se é ainda tão pequena?
L- Meu pai era dono do orfanato, mas quando ele morreu, disse que quando eu completasse 13 anos deveria já começar à trabalhar
N- E sua mãe?
L- Não cheguei a conhecer
N- Hum...

A pequena trabalhadora que sempre pega em seu pé, e o tira de seu descanso
L- Você quer brincar? -fala apontando para as outras crianças correndo pelo pátio
N- ...não
L- ...você não brinca? Porque?
N- Não tenho o direito
L- Hã? Toda criança tem direito de brincar...sabe andar de bicicleta? -ele a olha e ela dá um sorriso
N- Não...
L- Quer que eu lhe ensine? -Nick dá um pequeno sorriso, primeiro sorriso depois de anos sem lembrar de como o fazer surgir
N- Sim

L- Tá escutando? -fala deitando ao seu lado, também olhando para a lua
N- O que?
L- O som das cigarras
N- ...não ouço nada
L- Tente escutar o último som que seus ouvidos são capazes de ouvir, bem lá no fundo, um barulho agudo à criar uma bela melodia, sabia que quando elas fazem esse som, estão prestes à morrer?
N- Não...ah, ouvi! -ela dá um sorriso
L- Não disse...parou...testemunhamos a morte de uma cigarra!
N- Haha

Off

Silencioso Vazio Sem FundoOnde histórias criam vida. Descubra agora