Dia de mudança e todos nós nos preparando. Acabava o espetáculo e os meninos se organizavam e tudo começava a se encaixar.
No dia seguinte arrumamos o ônibus para não quebrar nada e ficávamos na espera. Durante a tarde eu e minha irmã saíamos para o lado de fora, pois o momento de partida já estava próximo.
_Pega água, Lizandra._pediu minha irmã.
Fui no ônibus pegar água.
Voltei e me encostei na lanchonete, tentando achar uma sombra. Geremias se aproximou, lindo, como sempre.
_Meu "fofonildo" mais lindo do mundo._falou olhando para meu sobrinho, fazendo carinha fofa e voz chata.
_Lizandra minha filha o que é isso nesse rosto? Pelo o amor de Deus, isso é mesmo uma espinha? Que coisa horrorosa._fez uma expressão de nojo e veio de encontro ao meu queixo. _Toma vergonha nessa sua cara, porca.
_Não vai espremer, Geremias._gritei.
_Ah, eu vou sim.
_Cara, deixa minha espinha.
_Eu vou espremer sim, que não vou deixar você com esse negócio ridículo no rosto.
_A espinha é minha e você não vai espremer nada aí. Se eu quisesse espremer eu mesma tinha feito isso.
_Para de drama e tira a mão do rosto. Você escolhe, por bem ou por mal.
_Tá bom! Agora vai devagar que essa porra tá doendo.
Ele veio com suas mãos possuídas para espremer a minha espinha. Ficou bem pertinho do meu rosto e eu sentir a sua respiração, seu corpo sobre o meu. Meu olho começou a lacrimejar.
_Tá chorando? Me deixe viu Lizandra.
_Eu não estou chorando.
Finalmente espremeu a espinha.
_Caralho, que mão do demônio! É por isso que não gosto de deixar você espremer minhas espinhas, porque você acaba comigo, com essas mãos possuídas.
_Credo, que nojo! Olha isso que saiu de dentro da sua espinha, sua porca._começou a passear a mão pelo meu rosto._Seu rosto tá podre de espinha, mas eu vou dar um jeito agora.
_Chega Gere.
_Vou espremer sim, anda logo.
_Porraaa...
Ele começou a espremer mais espinha e meu olho se enchia de lágrimas. As mãos dele era muito pesada e ele não tinha pena. Ele espremeu a maioria das minhas espinhas e meu rosto ficou sangrando.
O irmão do meu cunhado estava do nosso lado e Geremias com a psicose dele por espinha, decidiu espremer as espinhas do cunhado da minha irmã.
_Não Geremias, não._falou Nane.
_Fica quieto ou eu te arrebento.
_Porra Geremias.
Gere deu um empurrão nele.
_Ainda acha que eu estou espremendo essas suas espinhas ridícula, Nane.
_Você com essa sua mão pesada._Nane gritou choramingando.
_Por isso você não namora. Estou sendo um primo legal e ajudando você arranjar uma namorada e fica com drama, Seu ridículo._gritou Gere.
Ficaram os dois disputando e Geremias batendo em Nane. Coitado, sofria na mão de Geremias.
_Pronto, Nane. Agora sim, as meninas vão te querer.
_Esse Geremias não presta._falou minha irmã.
Já estava na hora de ir. Geremias ia ficar no terreno olhando metade do que ficava e iria na próxima viagem. Entrei no carro com minha irmã.
_Quer ficar com ele?_perguntou minha irmã.
_Não.
_Por que ?
_Por nada._respondi olhando ele de longe _Ele fica sozinho, coitado.
_Fica com ele menina.
_Não, tenho vergonha. Deixa para a próxima.
_Menina besta.
Eu queria ficar, mas eu tinha um grande defeito de deixar as coisas para depois. Estava louca para fazer companhia a ele, mas o medo do que iam achar me matava.
_Gereee.. _gritei alto. _Vem aqui, corre.
Ele veio.
_ Oi?
Dei meu celular junto com o fone para ele.
_Toma para você ficar escutando música.
_Ah, eu quero mesmo. Obrigada, Lizz!
Ele saiu e eu fiquei olhando o carro saindo do lugar e perdendo ele de vista. Meu interior chorava, porque presenciar aquela cena estava cortando o meu coração. Talvez seja uma besteira minha, mas eu realmente fiquei chateada, por querer ficar, poder ficar e não ter ficado.
Seguimos viagem.《...》
Chegamos na cidade onde o circo ia armar. E era aquela coisa, crianças gritando "o circo chegou" ou "olha o circo". Às vezes eu me irritava, mas eram crianças e eu também já fui criança. Seguimos para o terreno e chegando lá, foram organizando cada ônibus/triler no seu lugar. E novamente o ônibus de Gere tinha ficado longe do meu. O pessoal voltou para pegar o restante das coisas que tinha ficado, e Gere, lógico. Era mais ou menos 16:30 quando chegamos. Minha irmã foi para cozinha, e eu fui arrumar o ônibus dela e ficar com meu sobrinho.
Já era noite e eu tive a ideia de arrumar o quarto de Gere. No fundo eu estava morrendo de vergonha, mas se eu queria arrumar, eu tinha que arrumar.
_Vou arrumar o quarto de Gere.
_Vai mesmo._respondeu minha irmã.
_Uia amor, como ela tá. _meu cunhado falou com voz de palhaço. Na verdade ele era palhaço.
_Arrumar o quarto, normal.
_Vocês tá namorando não é? _perguntou meu cunhado balançando a cabeça e tentando me convencer.
_Não! Somos amigos, só isso.
_Quem nunca viu amizade entre "rola" e "busseta" ?
Olhei para ele assustada.
_A gente não namora, somos amigos, normal._respondi meio espantada ainda.
_E tu fica no quarto dele fazendo o que mesmo?
_Conversando!
_Duvido! Sou homem e sei que uma mulher não vai ficar dentro de um quarto com um homem e não vai acontecer nada.
_Eu fico no quarto com ele e não acontece exatamente nada. Se tivesse acontecido alguma coisa eu falaria, por que eu iria esconder?
_Por que Geremias talvez tenha pedido para não comentar nada.
_A gente não tem nada, além de uma amizade.
_Geremias é "viado" , isso sim.
Geremias por ter um jeito meio afeminado era apontado e julgado. Mas era aquele jeito diferente dele que me incentivava a ser eu. Eu fiquei horrorizada com cada palavra que saiu da boca do meu cunhado. Não achei certo a atitude dele e muito menos a forma que ele usou as palavras. Muitas pessoas apontavam para Gere, na plateia mesmo, muitos gritavam "viado". E eu não me sentia bem com aquilo.
Eu me sentir péssima naquele momento.
Suspirei e sair em direção do quarto de Gere. Entrei, e Nane estava deitado na sua cama. Peguei vassoura e empurrei a porta do quarto, mas não estava muito bagunçado. Mesmo assim arrumei as roupas dele, coloquei tudo no lugar.
_Olha para "sonsiane" arrumando o quarto do namoradinho._falou Nane sorrindo.
_Namorado não, amigo.
_Tá bom, acredito.
Abrir o balde de merenda de Gere e tinha bolinhos, eu ,lindamente, peguei um para eu comer.
_Eu quero também._pediu Nane.
_Não conte a ele que eu peguei.
_Se você não dividir eu conto.
Dei um pedaço para ele.
_Valeu sonsiane.
_Ele nem vai sentir falta, e mesmo assim, se ele souber que foi eu que peguei nem vai se importar.
_Geremias é ruim, é um sacrifício para ele me dar um biscoito.
_Comigo ele não é assim, porque eu sou linda e especial. _tirei sarro da cara dele.
_Olha para essa sonsiane.
_Agora deixa eu ir.
_Vai lá.
Fechei a porta do quarto e sair.
_Já terminou? _minha irmã me olhou.
_Não estava bagunçado. Eu ainda roubei um bolinho de Gere e dividir com Nane.
_Vocês é triste.
_Joga um cheirinho lá no quarto de Gere, toma.
Peguei e sair novamente em direção do quarto de Gere.
_Tu aqui de novo sonsiane.
_Colocar um cheirinho aqui para Gere dormir bem e feliz.
_Tu não presta.
Dei uma risadinha e voltei para meu ônibus.
Fui ler a um livro.
Minha irmã estava lavando a louça, quando Geremias surgiu na porta.
_Lizandra, seu celular.
_Ah sim.
Levantei e fui pegar.
_Obrigado, ele me serviu muito.
_Por nada.
_Coloca para carregar porque descarregou. Eu fiquei escutando música e vendo suas fotos, porque não sou obrigado a nada.
Dei um sorriso.
_Imaginei que ele iria voltar sem carga.
Ele saiu e não demorou muito, voltou de novo.
_Foram no meu quarto.
Eu e minha irmã caiu na gargalhada.
_Foi eu.
_Sabia! Tá tudo bonitinho lá, um cheiro bom. Mas meu quarto nem bagunça muito, não é?
_É, não tava muito bagunçado. Só algumas roupas que estava pelo chão.
_Obrigada Lizz._sorriu para mim, com expressão de gratidão.
_Eu ainda roubei um bolinho teu, e eu peguei mesmo.
_Tem nada não, você pode. E nada mais justo, não é mesmo?
Eu olhei para ele e fiz um gesto concordando.
_Vou aqui, depois a gente se ver.
_Tá bom.
Já era tarde, hora de dormir. Amanhã era um novo dia.
Eu acordei e todos já tinha despertado, ou seja, os homens. Já estavam armando o circo.
Arrumei o ônibus da minha irmã e fui assistir TV.
Durante a tarde minha irmã foi dormir com meu sobrinho e
eu fui sentar na porta do ônibus da minha e Geremias estava de frente para mim.
_Lizandra, Lizandra._gritou ele.
Olhei para ele e sorrir, pois estava cantando e dançando.
_Meu fechamento é você Lizandra.
Não conseguia segurar o riso.
_A sua presença me deu onda, Lizz.
_Você é ridículo.
_Estou aqui me declarando e você fala que sou ridículo? Meu "pau" te ama Lizandra.
Eu não conseguia parar de rir, só isso.
Ele começou a descer até o chão, fazendo passinho de funk e eu não aguentava. Ele me fazia tão bem. Arrancava meu sorriso com facilidade e isso era ótimo.
Por muito tempo da minha vida eu me escondi, mas ele me dava a liberdade de eu ser o que eu quisesse, ser o que sempre fui. Eu estava tão bem e fazia tempo que eu não me sentia mais assim. Estava feliz e em paz comigo mesma e ele fez isso por mim. Me perguntei como isso era possível, mas parei de procurar respostas e comecei a viver aquele momento que Deus tinha me proporcionado. Eu estava vivendo uma das melhores fases da minha vida e eu comecei a agradecer por ter demorado tanto tempo. Todo tempo é precioso e devemos agradecer por cada segundo que passa devagar e nunca se apressar em relação a nossa vida. Porque de uma coisa eu tenho certeza, tudo acontece no momento certo, quando tem que acontecer. Nada chega em nossa vida na hora errada, é sempre no momento certo, no tempo correto e é necessário paciência consigo e com os minutos. Agradeço a Deus por ter cruzado os nossos caminhos, ao univeso por ter colaborado para esse encontro. Eu estava apaixonada, mas eu negava para mim mesma isso. Eu sentia algo muito forte, mas eu insistia em dizer que não era nada, apenas um amor de amigo. Só sei que eu sentia, sentia demais, mas não queria falar para os demais. Eu continuava acreditando que era um sentimento amigável, quando na verdade já tinha passado dos limites. Coloquei em minha cabeça que ele era um bom amigo, que me fazia bem, apenas isso e nada mais.
《...》

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Inabalável
Roman d'amourO fundo da escuridão era meu lar, a solidão minha bela companheira, facas eram lançadas, insônia pousava. Ali estava eu, vivendo uma catástrofe e um caos constante. A vida causou danos e me deu uma bela de uma rasteira. Vivi durante anos em um mun...