PRÓLOGO

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Não espere que nada venha com o tempo, eu esperei e só me veio dor. Eu esperei ganhar algo, mas só perdi. Agora não espero, vou atrás do que o tempo me tirou. Ande com os pés e não com a cabeça, caso contrário nem se lembrará quem és, quem dirá do que quer. Meu pseudônimo é Androide, sei que me perdi e estou muito longe de casa, mas estou melhor do que esses que acham que estão protegidos. Não sou assassina, sou uma exterminadora profissional. Assassinos sujam as mãos com sangue por nada, um exterminador suja a alma por um grande motivo. Seja qual for o mal, vou extermina-lo.

***

O vento jorrava agressivamente naquela madrugada. O frio era mais rigoroso que eu julgava ser possível em pleno verão. Julguei muitas coisas, mas todas foram erradas. Achava ser só mais uma noite fria do ano, era mesmo uma reviravolta do tempo.

Enquanto perambulava pelos becos da cidade, o vento me trouxera algo curioso, acertando em cheio no meu rosto. Um jornal voava com o vento, só o li a primeira página por estar falando de mim.

"Um alto índice de mortes tem preocupado os cidadãos por toda a Região. Um assassino tem se escondido na noite e está atacando seus alvos um por um. Um mistério saber qual seu objetivo, mas o temor se espalha por cada rua da cidade. Seja lá quem for, a autoridade está atrás - de como ficou conhecido, o Homem das trevas." - Tornei a soltar o jornal para que o vento pudesse leva-lo o mais longe possível.

Continuei sem rumo, até ouvir algo estranho alguns quarteirões de distância. Com armas em mãos, fui em direção ao barulho que ouvia. Minha visão não era nítida, até eu me aproximar. Um garotinho estava agachado com mãos a tapar o rosto, abafando o choro. Seu carrinho estava quebrado e largado não muito longe do mesmo. Se fosse em qualquer outro lugar, com qualquer outra pessoa, seria totalmente comum. Mas, era comigo. Comigo, onde tudo nada era normal.

Apoiei a arma na cabeça do garoto e dei um leve empurrão, - crianças não saem a noite sozinhos e param no meio da rua para chorar por brinquedos quebrados. Não sozinhos. - O garoto logo transformou seu choro em risadas, seu jeitinho inofensivo transformou-se em movimentos agressivos. Com um chute preciso e com força acima do nível de qualquer criança, acertou-me a barriga, fazendo-me cair de joelhos e contrair de dor. Sem muito a perder, segurou meu pescoço e apertou.

- Hora de ser, o que nasceu para ser... Homem das Trevas. - Sua voz não era nada doce como de uma criança, era áspera, pior que de um adulto.

Com uma única ideia de me livrar daquela mão forte, ergui uma das armas até a barriga do garoto e puxei o gatilho, sem dó. O mesmo fez uma cara de espanto ao ouvir o disparo agudo da arma e sentir seu corpo sendo perfurado por um pequeno metal, capaz de causar grandes danos.  Abaixou a cabeça lentamente até o local atingido, viu seu corpo expelir sangue feito água. Com mais ódio apertou meu pescoço. Estava sem forças, nunca tinha ficado sem respirar por tanto tempo - era algo claro que precisaria de um treinamento. Se fosse possível eu me livrar daquele inseto. Meu braço se rendeu, e o mundo começara a ficar escuro para mim. Ainda pude ver quando o garoto, que já não era mais tão jovem, tornou a me olhar cheio de ódio. Seu sorriso maléfico era notável naquela madrugada quase escura. Senti cada osso de meu pescoço rachar, sem forças para gritar, imaginei meu fim. Mas, não iria sozinha para o lugar que os outros falavam, o 'Além'. Aquele meu assassino iria comigo, vi o fim dele, assim que cuspiu seu sangue e seus olhos não tinham mais vida. Ele era um assassino e eu uma exterminadora. Éramos diferentes, mas no fim, acabamos por iguais. Não morremos no mesmo instante, morremos apenas na mesma madrugada. Eu, novamente fui mais forte do que precisava ser. Vi meu assassino cair, sua forte mão bater no chão. Foi então, que o vento, enfim se aquietou. Tudo foi em questão de segundos, torturante o suficiente. Tudo que servi e defendi, já não fazia mais sentido. Ao amanhecer eu e meu assassino, seríamos vítimas do Homem das Trevas, que jamais saberiam que sempre foi Mulher das Trevas.

Nunca cheguei a imaginar como seria meu fim. Não sabia que se quer eu tinha pontos fracos, mas minha maior fraqueza era ser imortal.

Me vi morrer aos poucos, mas jamais imaginei que não fosse realmente o fim.

X-Men - Fim de Um LegadoOnde histórias criam vida. Descubra agora