Remember Me

chapter three - não acho que ele iria embora sem você

"Se você ouvir uma voz dizendo 'não faça', isso significa que você deve fazê-lo, acima de tudo. A voz vai se calar" — Vincent Van Gogh.

A luz do sol caiu sob suas pálpebras como um pequeno incômodo e Harry queria ignorá-la, porque ele sabia que manhãs como aquela demorariam muito para voltarem a acontecer. Mas não há como fingir que não acordou e ignorar o mundo, desejando que as coisas sejam diferentes. Então ele desperta devagar, mexendo os pés e os ombros, apertando a mão de Louis levemente antes de abrir os olhos.

Ele levanta a cabeça enquanto tenta acostumar-se com a claridade, a primeira coisa que vê, é sua mão e a de Louis, unidas como devem ser. Os dois passaram a noite assim e mesmo estando todo dolorido, Harry não trocaria aquilo por nada. Louis está bem e ao seu lado, é fácil ver beleza no mundo dessa forma.

Com uma mão apoiada no queixo e a outra entrelaçada, Harry observa o sono tranquilo por alguns minutos, antes de encarar o girassol ligeiramente murcho do outro lado da cama, ao menos Louis não se lembra do jardim deles, de modo que não ficará bravo por Harry ter pedido para arrancarem a flor.

Quem a trouxera fora Liam, no dia anterior, a pedido de Harry. Desde o momento em que soube do acidente, Harry foi para o hospital e não saiu mais de lá, de modo que não poderia ir buscar o girassol, ainda mais com a mãe de Louis querendo arrancá-lo do quarto.

A situação com a mãe de Louis já estava tensa desde sua chegada um dia depois do acidente. Viera direto do aeroporto e exigindo ficar no quarto de maneira grosseira, tratara assim metade do hospital. Harry tentou colocar-se no lugar dela para não ser rude, mas era difícil e ele pode ter falhado vez ou outra.

Pelo amor de Deus, Louis era seu marido, seu melhor amigo e o amor de sua vida, Harry não queria correr o risco de estar longe quando ele acordasse. Não ligava se a mãe dele ficava no quarto ou não, mas, à noite, apenas um poderia dormir com Louis, e Harry não abriria mão disso.

Um ruído baixo ressoa pelo quarto quando a porta é lentamente aberta. Seu corpo fica tenso e ele fecha os olhos desejando que não seja ela. Há tantas coisas que Harry poderia desejar agora, mas ele apenas quer alguns minutos a mais ao lado de Louis.

— Precisamos conversar. A respeito da casa.

Sua voz soa cansada e Harry está relutante em olhar para ela. Céus, ele estava esperando por isso. Louis precisa ficar em sua casa, familiarizando-se com sua vida que esqueceu, mas essa casa também é a de Harry, e nada ali pertence apenas a uma pessoa. Pelo amor de todas as coisas belas, Harry é a casa de Louis.

Com passos pesados ele deixa o quarto, olhando uma última vez para trás e puxando as mangas de sua blusa até o cotovelo e abaixando-as logo em seguida.

— Tirei suas coisas da casa. Você tem um apartamento no centro, certo? Suas coisas chegarão lá depois do almoço — diz Johannah assim que Harry fecha a porta. — Não me entenda mal, meu bem, é tudo pelo bem de Louis. Além do mais, você nem pode dizer nada mesmo...

Certo, Harry não pode contar tudo a Louis, sua memória não pode ficar viciada, com falsas lembranças que são criações baseadas no que terceiros disseram, o médico dissera isso. E tudo bem, Harry dará o tempo e espaço que Louis precisa, mas expulsá-lo de casa está passando dos limites.

— O apartamento é nosso, assim como a casa — diz Harry por trás de dentes cerrados. — E eu entendo que não posso ficar lá, quer dizer, não entendo, mas não vou brigar a respeito disso, você apenas poderia ter me avisado antes.

— Você teria dito não.

— Mas você estaria, ao menos, sendo educada. — Ele afasta-se da porta e dá dois passos em direção a ela. — Não vai funcionar, você pode tentar me afastar de Louis e mesmo que ele nunca se lembre de mim, nós ainda ficaremos juntos.