CAPÍTULO 3

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Me aproximo de uma senhora cabisbaixa e a pergunto onde fica o hospital mais próximo daqui, ela não responde apenas aponta com seu dedo enrugado de tanta velhice para a direção norte.

Agradeci e segui meu caminho a procura de cura e de justiça.

O sol já vem se despedindo e mais um dia tende a terminar, quanto mais eu caminho mais sede de justiça eu tenho. Helena tirou de mim a pessoa que mais amava, Murilo se deixou ser levado e meus pais? Se é que da pra denomina-los assim verão meus livros em cada vitrine que passarem e se arrependerão de tudo isto.

Sinto o cheiro de macarrão e logo me aparece um sorriso de saudade no rosto, de olhos fechados recordo do macarrão que minha mãe fazia para mim ao molho madeira com seus dons de culinária, quando eu, mamãe, papai e Samuel éramos felizes.

Ah Samuel, que saudade de você irmão! Meu pequeno menino de sete aninhos que por minha culpa não esta mais aqui, mamãe estava na cozinha e papai trabalhando e eu estava ali para tomar conta de Samuel, todavia, não fiz isto direito quando não vi que ele havia saído para rua.

Só lembrei dele quando ouvi o impacto, olhei para todos os lados e não o achei então, saí para rua quando vi... ele deitado no meio da rua depois de ter sido atropelado por um carro ao andar de bicicleta a qual não sabia se equilibrar direito.

Dês daquele dia, mamãe nunca mais foi a mesma comigo, papai tentava esquecer e não colocar a culpa em mim, perante ao acontecimento mamãe decidiu me colocar em um colégio interno.

Mas isso agora não tem tanta importância como na época em que ocorreu.

Estava exausta de tanto caminhar quando aos sons dos passarinhos me atenho ao hospital que se encontra quase em minha frente.

O que se passa dentro de mim é uma mistura de tudo; Medo, raiva, força de vontade. Tudo ao mesmo estante. Com um suspiro encorajador forço-me a entrar, aquele hospital estava um caos, médicos correndo para um lado, enfermeiros para o outro e muita gente angustiada chorando de dor...foi apavorante, nunca tinha visto algo deste tamanho. A minha esquerda estava o balcão de informações, perguntei a funcionária:

- Licença? Você sabe me informar se aqui tem tratamento para Leucemia? - Por ser um hospital menos favorecido fiquei em dúvida.

- A senhora pode aguardar aí que o médico lhe atenderá quando puder.

- Obrigada...eu acho! - Me dei por conta que eu precisava urgente de tratamento pois minhas mãos estavam arroxeadas e sentia uma pressão no lado esquerdo do peito.

Não conseguia respirar direito, fiquei alguns segundos com muita falta de ar mas depois não conseguia enxergar direito,estava me sufocando,naquele momento pensei que tudo tinha acabado.

Rapidamente se aglomerou muita gente ao meu redor, senti alguém me puxar fui colocada em uma maca e desde então não lembro.

Eu estou morta, estou morta, estou morta...- Não conseguia falar, nem pensar apenas dizia isso enquanto me rebatia na cama tentando escapar dos supostos monstros que apenas eu via. Gritando, meu desespero aumenta quando muitas pessoas começam a me segurar na cama, não sabia mais o que era real.

Quando recobrei a consciência estava ainda muito zonza devido a alta dose de medicamento que me foi aplicado. Recordo de chamar por Murilo enquanto chorava de dor em meu peito.

Chorando me perguntava o porque de tudo aquilo estar acontecendo comigo, logo eu que apenas queria ter uma família e ser escritora...nada mais.

Conseguia enxergar com a visão turva o médico entrando e vindo em minha direção.

-Doutor, doutor, me ajuda, ta doendo,ta doendo muito. - Resmungava no mesmo momento em que pressionava minha mão direita em meu peito tentando parar aquela dor.

- É assim mesmo, tente relaxar pensar em outra coisa, daqui a pouco você irá adormecer. Isabel, correto? 21 anos? e portadora de Leucemia?

- Sim...senhor. - estava com muita dor, mal conseguia responde-lo.

- Sra. Isabel, temos alguém para entrarmos em contato, precisamos de informações sobre você para sabermos o que fazer.

Me virei de lado me apoiando em meu braço direito para tentar lhe dar uma resposta.

- Mu-r-ilo, ex noivo! - Quase não consegui.

Perante a ocasião, eu estava com muito medo, precisava dele... eu o amava, infelizmente.

Devo ter dormido por três a quatro horas pois tive a sensação de sono pesado. Olhei para todos os lados rapidamente, não acreditava no que via. Murilo estava sentado numa cadeira ao lado de minha cama segurando minha mão esquerda, não me julgue mas eu fiquei feliz, imensamente feliz por vê-lo ali,entretanto, ao me lembrar daquele beijo me subiu uma raiva, um ódio que tirei a mão dele da minha bruscamente que o fiz acordar.

Murilo assustou-se devido a minha brutalidade;

- Isabel, precisamos conversar!- Ele estava angustiado demais, nunca o vi de tal forma.

- Conversar Murilo? Conversar do papel de trouxa que eu fiz? do beijo que tu deu naquela descompensada? Me poupe e se poupe também.

Antes de que qualquer palavra saltasse de sua boca eu o impedi dizendo:

- Só dei seu nome para o doutor porque é a única pessoa que me veio em mente no meio de tanta dor que eu estava sentindo!

Ele retrucou de tal forma que me assustei

- Como é? Isabel você está sendo injusta comigo, aquela dissimulada da Helena me beijou a força! Eu nunca teria coragem de trair você. Eu te amo.

- Vai embora Murilo, eu já estou bem melhor. Daqui uns dias nós conversamos.

Murilo se aproximou de mim com um semblante tão triste que tocou meu coração mas eu não podia simplesmente ignorar o que aconteceu.

- Vou deixar um dinheiro pra você ir pra casa, não vai caminhando nessa situação.

Confesso ter sido um pouco rude, pois sem gradecer me virei para o lado contrário de Murilo esperando a sua saída.

Fiquei pensando no que Murilo me disse, ele nunca teve o perfil de traidor mas traiu...

No momento em que uma lágrima fria escorria por minha face, noto que o médico está a entrar em meu quarto e me ajeito na cama.

- Sra. Isabel? se sente melhor?

- Depende doutor, fisicamente ou emocionalmente?- Digo com um tom de deboche.

- precisamos falar primeiro de seu físico e depois se quiser falaremos do emocional. - O médico sério nem se quer se comove.

- Enfim doutor, me diz logo o que precisa ser dito. - Nunca estive tão apreensiva.

- Seu estado é crítico Isabel, a leucemia está mais grave, isso notamos ao ver suas alucinações, seus surtos, mas ao pegarmos o resultado do exame ficamos chocados. - Eu realmente detesto as pausas que os médicos dão antes de falar.

- Bom, a sua Leucemia se encaixava no grupo das agudas, porém, agora ela se tornou de alguma forma crônica. Nós médicos não encontramos respostas para este acontecimento. No início da doença, as células leucêmicas ainda conseguem fazer algum trabalho dos glóbulos brancos normais. Mas neste estágio não são mais capazes de realizarem suas funções.

- Tá doutor, eu vou morrer?- Eu já sentia um "Sim" saindo da boca do doutor.

- Não, mas para isso o seu tratamento será extremamente rigoroso, você perderá seu cabelo, suas unhas ficarão muito fracas, tudo ficará com imunidade baixa para que os aminoácidos consigam atingir as células cancerígenas. Você será transferida para o hospital local de sua cidade natal e lá você ficará internada em tempo indeterminado.

- Se tiver como piorar pode me dizer! - Estava com raiva, não merecia aquilo que estava acontecendo comigo.

- Você será imediatamente transferida para o hospital que tiver mais recursos para seu tratamento. - Boa Sorte, e força. Disse o senhor dando as costas para mim e se retirando do quarto.

Incertezas {EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora