Eu não tive reação alguma, eu estava sozinha, sempre tive problemas com a solidão, sempre tive medo dela. E agora? Estou refém dela sem salvador.
Se ao menos meus pais estivessem aqui...
A dor começou novamente, não conseguia respirar, porque diabos ela começa do nada com tanta força? Minha visão ficou embaçada novamente e tudo se repete. Me rebatia na cama de forma voraz para ver se aquilo passava, estou morrendo lentamente...
Em questão de segundos, já dava para notar a silhueta das pessoas ao meu redor, porque ninguém fazia essa dor parar? Me espetaram uma agulha que ao passar de dois a cinco segundos já havia adormecido. Ainda conseguia escutar meus pensamentos gritando por socorro...mas ninguém me ouvia.
Sentia uma sonolência tão leve me levando ao inconsciente. Naquele dia sonhei com meus pais, estávamos todos reunidos em volta de uma mesa de jantar rústica como o gosto de mamãe optava. Cantarolávamos uma antiga canção de Beatles que hoje não me recordo o nome.
- Onde estou? - Ao abrir meus olhos daquele doce sonho, indago a alguém que nem sabia se estava perto de mim.
- Estamos indo ao hospital local de Stanford para dar início ao seu tratamento Isabel.
Aquela voz não me soava estranha, por algum motivo não conseguia enxergar direito, talvez o efeito da medicação que me adormeceu ainda esteja em meu organismo.
- Quem é? - Com uma voz baixa e rouca indago o ser que me calou a dúvida.
- Durma Isabel, durma!
- Não quero dormir, preciso levantar; Me deixe levantar. - Com um tom amentrodador ressalto minha fala sobrepondo a do homem que tentava argumentar comigo enquanto me segurava com certa força na cama.
- Sou eu filha, comporte-se para o seu bem, por favor. - Como assim? Papai? Estou sonhando não é possível.
Imensamente feliz permito que uma lágrima role por minha face por pura felicidade enquanto meus lábios contornam meu rosto em forma de um sorriso doce e confortável.
- Papai, onde está mamãe? - Como eu queria que ela estivesse ali também.
- Está em casa filha, agora não é hora disso menina, descanse. - Ordenou o marrento homem.
Por algum motivo comecei a despejar todas minhas angústias para ele;
- PAPAI, me separei de Murilo ele me traiu, como ele pôde fazer isto comigo? Sempre o amei tanto... - Falando rapidamente confundia as palavras de tão afobada que estava por tê-lo comigo.
- Isabel! Estamos chegando. - Retrucou.
Ele queria que eu calasse a boca mas era impossível diante dele.Senti uma pressão ao descer a terra firme.
Com minha visão já normalizada pude ver papai encostado em uma poltrona cochilando. Olhei para todos os lados e me dei por conta que estava em um helicóptero.
Estávamos aterrissando quando um rapaz,acredito que seria um enfermeiro ou alguém do hospital que veio em minha direção desatando os cintos de segurança de minha maca.- Moço, moço, tô apertada sabe! - Sim eu estava com uma tremenda vontade de fazer xixi. Envergonhada, falo ao mesmo tempo que desvio o olhar para disfarçar minha timidez.
- Já vamos desembarcar Srta. Isabel. - O moço educado me devolveu a palavra.
As portas do helicóptero se abrem e lá vou eu, perder meus cabelos... Mas isto não é o que me desanima, Murilo...deveria estar aqui agora segurando minha mão e falando que tudo ficaria bem. Será que ele não me quis mais por conta da minha doença? Eu estou ficando paranoica, melhor pensar em outra coisa como por exemplo, meus livros.
Tantos rascunhos em meus armários, em meu computador, estou entusiasmada para dar vidas a eles. O recente livro que estou começando se chama " Rochas Amarguradas" se trata de duas garotas que pelo pai ter falecido precisam enfrentar o mundo sozinhas apenas uma com a outra. Que resumo ruim que acabei de fazer sobre ele mas em algum momento vou dar forma a ele.
Estava tão mergulhada em meus livros que não percebi que já estava dentro do hospital, "acordei" quando uma enfermeira espetou-me uma injeção.
- Está tudo bem, moça? - Perguntou-me sorridente.
- Está sim, obrigada. - respondi devolvendo o sorriso.
Dei-me por conta que meu pai não estava ali;
- Enfermeira, você sabe do meu pai? - Estava preocupada
- Não se preocupa, ele informou-me que foi ao banheiro e já voltará. Licença. - Disse ao sair andando pois já havia terminado pelo momento.
Me sentia feliz, talvez pelo meu pai? Não sei, mas me sentia capaz de vencer aquela doença maldita que me tirou meus livros, meu noivo. Mas não tirará minha vida.
Procurei pensar em coisas boas quando papai adentra a porta do quarto com uma sacola.
- O que é? - Digo curiosa.
- Algo que você vai gostar, foi sua mãe que mandou. - Disse retirando lentamente o objeto da sacola.
Minha reação foi somente;
- Mamãe está aqui? - Surpresa, indago.
- Não filha, ela apenas me entregou isto antes de sair, tome, pegue. - Papai chegou perto a cama e colocou o objeto em minha mão.
- O que é isto? - Se tratava de um ursinho de pelúcia com o símbolo da Medicina, fiquei triste muito triste mas resolvi tentar ignorar e não deixar papai perceber.
- Gostou filha? - Ele estava tão contente que não pude dizer outra coisa.
- Claro, papai... - Impulsionei um sorriso tentando disfarçar o mal gosto de mamãe.
A enfermeira adentra o quarto;
- Vamos começar o tratamento? - Apoiou suas mãos na minha cama.
- Ah sim, podemos começar.
Me sentia vulnerável a tudo aquilo, não sei me expressar direito agora, porém posso dizer que naquele instante parecia que tudo estava incompreensível.
Nunca fui o tipo de pessoa que reclama de tudo e todos, na verdade sempre fui positiva e esperançosa, entretanto, após a morte de meu irmão comecei a me culpar e isto me fez digamos que, a apodrecer por dentro.
Quando pequena recordo-me de tentar ajudar todos os cachorros abandonados da rua, sempre quis ajudar todo mundo e ser benéfica para alguém/algo.Hoje, não consigo mais ser assim. Ainda mais depois de tudo que aconteceu comigo nos últimos meses, estou me afastando de mim mesma, nem sei se isso fez sentido!
Fiquei observando a moça, colocar-me as sondas, cateteres etc.
Quando a mesma fala;- Tinha um moço aí procurando por você, disse que seu pai tinha o avisado. - Dizia enquanto atentamente inseria o cateter.
Com minha testa franzida, a pergunto se ele já foi embora.
- Não, está na sala de espera aguardando por respostas.
Estou desconfiada, preciso descobrir, algo não me cheira bem sobre Helena e Murilo.
Desde sempre Murilo provava fidelidade porque agora ele me daria as costas?Eu o amo, mas eu amo a mim mesma também e isto interfere em tanta coisa.
Apoiei minha mão direita na testa passando uma imagem de preocupação.
Papai ainda estava ali, roncando para falar a verdade!
Estou feliz, quer dizer.. nem tanto.Preciso de uma cerveja bem gelada, para falar a verdade, preciso de muitas coisas.
A enfermeira acaba seu trabalho pelo momento e quando a mesma se vira de costas para dar início a outro procedimento em outro paciente, peço-lhe que chame Murilo, nem que seja por dez minutos, preciso falar com ele.
Após alguns minutos, ele entra na sala com aquele maldito sorriso.
- Como você está? Digo, como se sente? - Todo atrapalhado me questiona.
- Estou bem, tirando a parte amorosa.
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Incertezas {EM REVISÃO]
RomanceA jovem Isabel Ramos Vasconcellos, de 23 anos, tem tudo: Uma vida estável, livros a serem publicados, olhos instigantes e um romance a um passo de se tornar casamento com o alto e charmoso Murilo. Os dois possuem algo diferenciado, Um belo amor que...