Capítulo 3

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Voltei à escola e o resto do ano foi cansativo. Eu tinha pesadelos com o Sombra da noite constantemente e Jeniffer ficou preocupada.

__Isadora, você precisa conversar com a Irmã Margarida sobre esses pesadelos.

__Eu estou bem Jeniffer, eu só estou preocupada com a tia Josi. Nós não conversamos muito, mas eu gosto dela.

Novembro era o mês de aniversário da tia Josi, ela completaria oitenta e cinco anos no dia quinze, e pedi a Madre Superiora para visitá-la; ela me permitiu um final de semana, pois estávamos no período de provas finais. Eu finalmente terminaria meus estudos e não tinha a mínima ideia do que fazer depois. Nunca pensei muito nisso, Jeniffer dizia que seria advogada e do jeito que gostava de falar, acredito que será bem sucedida na profissão, mas eu... eu não sei o que quero fazer.

Saí da escola na sexta pela manhã e peguei o ônibus até a cidade de Vale do Luar e de lá peguei outro para Bosque Profundo. Era o final da tarde e estava quente, abafado, tempo louco – pensei – em plena primavera e esse calorão. Caminhei em direção à chácara da tia Josi com minha mochila nas costas, não quis incomodar seu Nestor, tenho certeza que se tivesse telefonado, ele viria me buscar, mas eu posso caminhar, não era comum encontrar carros pela estrada poeirenta e dei graças a Deus por isso. Eu estava com uma jaqueta sobre a camiseta e a tirei, guardando-a na mochila, o jeans e o tênis esquentavam meu corpo me deixando tonta. Logo encontrei as margens do bosque e segui pela sombra, o que refrescou sensivelmente o ar ao meu redor. O som de pássaros na mata era reconfortante e pensei que seria tão bom seguir até o lago e tomar um banho antes de chegar em casa, por isso desviei do meu caminho e me embreei pelo bosque. Cheguei ao lago e retirei os tênis, a camiseta e o jeans e mergulhei na água fresca. Fiquei alguns minutos boiando na superfície do lago, até que tive a sensação de que alguém me observava, quando me ergui ouvi um barulho de alguém mergulhando, procurei por todos os lados, mas não vi ninguém. De repente fiquei com medo e sai da água, me vesti e voltei a estrada, não queria que Renata soubesse que estive no bosque antes de chegar em casa.

Caminhei rápido no fim de tarde e quando percebi já estava diante da casa da tia Josi, dei a volta no quintal e observei as luzes da cozinha acesas. Começava a escurecer e o bosque cintilava com os vagalumes em sua dança nupcial. Ouvi um ruído e olhei em direção ao bosque e um vulto se moveu, dei alguns passos em direção à escuridão pesando a possibilidade de entrar no bosque ou não, decidi entrar em casa.

__Isadora! – a enfermeira me olhou com curiosidade e espanto. __O que faz aqui?

__É aniversário da tia Josi, eu pensei em vê-la.

__Por que não telefonou? Eu poderia pedir ao Senhor Nestor para ir buscá-la.

__Não é tão longe assim. – eu disse depositando minha mochila no chão da cozinha. __Tia Josi está bem?

__Está no quarto. – ela olhou em direção ao quarto no final do corredor. __Ela tem estado muito frágil, às vezes conversa com ninguém.

__Como? – perguntei intrigada.

__Ela fica olhando para a janela e falando com alguém que não está ali.

__Tem certeza que não há ninguém?

__É claro que tenho. – eu não a deixo sozinha se estiver acordada. __Eu perguntei com quem ela falava, mas...

__Ela disse o quê?

__Ela disse que falava com as fadas.

__Ah! – eu não soube o que dizer, então fui em direção as escadas.

Sombra da NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora