Capítulo 1

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Quando cheguei à casa da tia avó Josi, pensei que fosse a casa dos sete anões da Branca de Neve, eu tinha dez anos e meus pais estavam mortos, um acidente de carro. Eu estava sozinha, sem ninguém que pudesse cuidar de mim, a não ser uma tia avó que vivia isolada em uma casa nas montanhas. Era um chalé de madeira, estilo suíço, pintado de branco e com as madeiras escuras, janelas também com madeira escura e jardineiras com flores coloridas, a casa tinha dois andares (se considerarmos o sótão), um telhado de telhas velhas e gastas, um jardim magnífico e nos fundos havia um bosque; para mim, era uma casa de conto de fadas, mas tia Josi era mais parecida com a bruxa má que uma fada, ela era muito velha e com uma expressão de desagrado constante.

Lembro que ela me recebeu com carinho, mas com um certo distanciamento, eu era a neta de sua irmã mais velha e ela, por alguma razão que eu desconhecia, havia se distanciado da família, então se tornar minha guardiã legal, não foi a melhor coisa que aconteceu em sua vida.

Meu quarto era localizado no sótão, em meio às coisas antigas dos meus bisavós, mas era agradável, foi também o quarto de vovó e de minha tia antes que seus pais morressem e ela se mudasse para o quarto no andar de baixo. Acordar de manhã e ver a luz entrando pelo vitral da báscula circular, voltada para o jardim de frente; era como ser transportada para um lugar mágico, eu adorei meu quarto no instante em que entrei nele. Havia também uma janela do outro lado, uma janela de verdade que ficava voltada para os fundos da casa.

Minha cama ficava no meio do quarto, com a cabeceira encostada à parede, era coberta por uma colcha de retalhos colorida, muito antiga. Sob a cama pendia um móbile de fadas e borboletas que brilhavam quando a luz incidia sobre eles. Chegar em casa depois de tanto tempo na escola sempre me deixava feliz, pois eu os veria novamente, meus amigos encantados do bosque. Sim, isso mesmo, eu estudava em um colégio interno e só passava as férias de verão com tia Josi; e sim, eu podia vê-los, as criaturas mágicas do bosque.

Eu acabara de chegar à casa da tia Josi e ainda sofria pela morte dos meus pais e brincar no jardim me distraía. Coisas estranhas haviam acontecido e eu ainda não entendia muito bem. Tia Josi sempre falava para eu não me afastar da casa, que o bosque não era seguro, mas ele me atraía. Um dia eu vi uma borboleta muito bonita, grande e luminosa, ela pairou sobre mim por alguns segundos e voou para o bosque, não pensei duas vezes, corri ao seu encalço, percorri uma longa distância bosque adentro e me deparei com um lago, mas a borboleta havia desaparecido. O lago ficava escondido por uma encosta de um lado, por onde descia uma cascata branca e espumante, e pelo bosque do outro.

Eu parei às margens do lago e me sentei sobre um tronco coberto de musgo e orelhas de pau. Observar o lago era embriagador, o brilho refletido na superfície da água e o zumbido de insetos, era hipnotizante. Admirei meu reflexo no lago, meus cabelos vermelhos e lisos caiam ao redor do meu rosto e meus olhos verdes brilhavam de um modo estranho. Lentamente meus olhos se fecharam, acho que cochilei e quando acordei, elas estavam lá, as fadas! Não era uma borboleta que eu havia seguido, mas uma fada. Quando abri os olhos completamente e me sentei elas se esconderam.

__Não fujam! Por favor. – eu falei e estiquei a mão tentando alcançá-la. Uma delas se aproximou e pousou em meu dedo, acho que prendi a respiração por alguns segundos e então gargalhei. A fada afastou-se alguns centímetros no ar e pairou sobre mim fazendo piruetas. Nunca esquecerei esse momento, perdi a noção do tempo e já escurecia quando percebi uma sombra atrás das árvores, assustei-me e corri para casa. Não me perdi, pois uma das fadas me guiou até o jardim da tia Josi.

__Onde esteve Isadora? – tia Josi me parou ainda na porta com uma colher de pau nas mãos.

__No jardim. – eu menti.

Sombra da NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora