Lágrimas de Sangue

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Faz menos de um ano que Baltazar foi abraçado, cerca de 5 mêses. Ele ainda tem um pouco de dificuldade em se alimentar, embora a sensação de vitae descendo pela sua garganta seja comparavel com a de um orgasmo, a lembrança de o que ele está consumindo o faz sentir nojo de si mesmo e de toda a situação que ele está vivendo.

É um dia de semana comum de agosto, Baltazar acorda um pouco depois do Sol se por, dentro do cano desativado não haviam brechas para a luz solar entrar, o que fazia daquele lugar um perfeito esconderijo. Ele se levanta de uma pilha de panos rasgados que usa como cama e vai para fora do cano, onde pode observar as luzes da grande São Paulo iluminando toda a cidade, tornando a presença de um Sol dispensável. Ele se cobre com o capuz de um casaco da Adidas meio rasgado que ele havia achado boiando em uma poça de sujeira, e vai para o canto do córrego, onde pode ver parte da movimentação da ponte.

-Nada, como sempre... - Deixou escapar pelos seus lábios enquanto observava a ponte. Se seu estômago ainda funcionasse, ele iria estar roncando agora, mas a única coisa que Baltazar sente é sua Besta estando faminta e o instigando a procurar algum desavisado que esteja em seu caminho. Saindo de seu esconderijo, Marcondes vê Baltazar com um olhar perdido para cima e chega perto dele.

Marcondes

-Com fome? Ela não vai passar se você só ficar ai esperando alguém aparecer

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-Com fome? Ela não vai passar se você só ficar ai esperando alguém aparecer.

-Eu acho que vou fazer uma visita hoje... - Baltazar fala sem tirar os olhos da ponte, e da pequena figura felina que aparece em sua beirada, que rapidamente toma o caminho para baixo da ponte, e para os pés de seu dono.

-Denovo, já é a terceira vez esse mês, eles podem desconfiar se virem um esquisitão cercando a casa deles. E além do mais, você pode dar a má sorte de encontrar um daqueles malditos do Sabá, essa cidade tá infestada deles...

-É só tomar cuidado, ir pelas sombras... - ele fala enquanto acaricia o pelo sarnento de Charlie.

-Bem, faça a merda que quiser então, mas não venha me pedir ajuda se algo der errado. Mas vá pelas galerias, é mais seguro.

-Certo...

Baltazar entrou dentro do cano em direção às galerias e antes que prosseguisse pegou uma faca de cozinha que mantinha para segurança e partiu esgôto adentro com Charlie logo atrás. Acima de sua cabeça ouvia a movimentação da cidade e como ela era viva durante a noite. Ao chegar em uma área onde o espaço acima era de um beco, ele podeouvir o que pareciam ser gritos abafados e uma voz masculina falando:

-Fica quieta porra! Se não eu meto essa faca na sua garganta pra aprender a ficar quietinha.

Curioso, Baltazar subiu um boeiro próximo e ao levantar a tampa do boeiro viu um homem na casa dos seus 40 anos segurando contra a parede uma garota que não parecia tão madura, uns 16 anos ele pensou. Ele saiu devagar e silenciosamnte do boeiro e usou sua Ofuscação para se mover pelas sombras até chegar atrás do agressor. E então sem pensar duas vezes partiu para cima do agressor e mordeu nuca e sugando seu sangue, o suficiente para que saciasse sua fome e não matasse o agressor. Ao parar de se alimentar, Baltazar viu a garota na sua frente, parada e em choque de ver tal aberração que era Baltazar. Baltazar apenas colocou seu indicador na frente de sua boca e falou:

Shhhh... você não me viu aqui... - e então lambeu a ferida que seus dentes haviam feito, assim fechando os vestigios de seu ataque e voltando rapidamente para as sombras e se ofuscando nas mesmas. Ele esperou a garota sair do local, e após alguns segundos desnorteada com a visão, ela saiu dali com um passo rápido, e Baltazar olhou com desprezo para o agressor enfraquecido pelo ataque, e entrou novamente no boeiro.

Após algum tempo andando, finalmente chegou no local de sua antiga residência, uma casa localizada em Moema de dois andares com pintura externa branca. Ao subir em uma árvore ali próxima, pode ver do segundo andar o quarto de sua filha com as luzes acesas, e Verônica junto de algumas amigas fazendo uma festa do pijama. Não fazia muito tempo que Baltazar havia "visitado" sua filha, mas quando a viu pensou a mesma coisa que pensava todas as vezes que a via.

Verônica

-Como você cresceu

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-Como você cresceu... - falou para sim mesmo e para Charlie em uma voz baixinha e com tom de choro, e lágrimas de sangue cairam no tronco da árvore e pingaram na grama. Charlie vendo seu dono e mestre chorando, começou a roçar e a ronronar para confortá-lo. Baltazar em uma descarga de emoção extendeu sua mão na direção da janela, mal percebendo que sua mão havia deixado o manto de sobras que encobria sua presença, uma das amigas de Verônica pareceu notar e de um grito falando:

-Monstro! Monstro! - E percebendo isso, Baltazar rapidamente colocou sua mão no lugar e desceu a árvore ainda ofuscado e partiu dali, com lágrimas de sangue escorrendo de seu horrendo rosto.

Baltazar partiu rapidamente para os esgotos e por fim para seu esconderijo, onde sentou na beira do córrego e enxugou suas lágrimas rubras de seu rosto. Charlie continuou o reconfortando, mas em vão. E por fim, teve um deslumbre da luz da manhã chegando, e junto com isso uma sensação de impotência.

-Mais uma noite nessa vida amaldiçoada... - Ele falou acariciando Charlie, e depois entrando dentro de seu esconderijo, para mais uma vez se esconder nas sombras e continuar vivendo sua não-vida amaldiçoada pela eternidade. 

Baltazar - NosferatuOnde histórias criam vida. Descubra agora