Capítulo 5: Sofrimento Prolongado

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Cheguei em casa às 17:07, exatamente, eu era bem pontual e estava evitando o máximo possível ficar longe de minha mãe num dia tão especial, tanto pra ela, quanto pra mim.
-MÃEEEE, CONSEGUI UM EMPREGO - Abri a porta animadamente, já dando a notícia boa do dia
-Meu filho, que coisa ótima, estou muito orgulhosa - Falou animada, mas percebi que não estava tão feliz, ela havia piorado.
-Mãe, você tomou seu remédio?
-Aquele remédio tem gosto amargo, é horrível - Falou com cara de birra, achei engraçado a situação, quem diria que um dia os papéis se inverteriam?
-Vou pagar seu tratamento - Despejei na lata.
-Nããoo meu filho, junte e compre alguma coisa pra você, estou ótima, não está vendo?
-Não, mãe, eu vou pagar, você querendo ou não - Falei com cara séria, querendo deixar bem claro que não adiantaria tentar me convencer de outra coisa.
-Teimoso igual o seu avô - Falou com cara de taxo
-E, automaticamente, igual a você - Falei com riso no rosto, o que fez ela rir também, mas fracamente.
-Mas você tem certeza que vai conseguir pagar?
-Ainda não sei, mas qualquer coisa, a gente pega um empréstimo no banco, mas agora vou subir pra jogar vídeo-game.
Subi e fui jogar uns jogos que eu ainda não havia testado, após jogar decidi ligar pra Carla, pra contar a novidade, a ficha ainda nem tinha caído pra mim, talvez ela me desse um choque de realidade:
-Alô?
-Carla, eu ainda num tô acreditando
-AI-MEU-DEUS - Falou pausadamente - VOCÊ CONSEGUIU UM BOY E AGORA ESTÃO CASADOS?
-Oi?
-PARABÉNS PELO EMPREGO MIGOOOOOO, VEM PRA CÁ E TRÁS SUA MÃE PRA GENTE COMEMORAR COM PIZZA.
-Não sei se minha mãe tem dinheiro pra pizza
-Tudo por conta da casa
-Vou falar com ela, que horas?
-Lá pras nove da noite
-Mas sua família é rica, eles comem pizza?
-Já esqueceu que dinheiro não é tudo pra eles?
-É, verdade, só que nunca se sabe né? Dieta, alimentos lights e dights
-Ai, cala a boca e vai se arrumar que já é oito e meia
-Grossa que só por Deus
-Te amo, até daqui a pouco.
Desligou, peguei meu celular e guardei no bolso, desci até a cozinha e falei para minha mãe:
-Mãe, vamos comemorar meu novo emprego na casa da Carla?
-Ah meu filho, eu estou cansada, eu iria incomodar com minha cara de sono lá
-Senhorita Emília, não zoa com a minha cara - Falei em tom mandão, fazendo-a rir, mas logo voltei ao tom de criança pidona - Por favor, por favorzinho, vamos comigo.
-Filho, eu estou muito cansada, pode ir, leve a sua chave e quando voltar não terá problemas - Percebi que não ia conseguir convencê-la e pensei comigo mesmo: Mas um dia tão especial quanto esse não pode passar em branco, eu vou, mesmo com aperto no coração por deixar minha mãe aqui sozinha.

-Volto mais tarde, viu mãe?
-Pode deixar filho, e divirta-se.
-Beijo, te amo
-Também te amo
E fui em direção à casa de Carla, estava frio e as ruas muito escuras, o céu estava com uma pequena lua, bem distante, branca, cortada de baixo para cima, parecia um chapéu.
Voltei minha atenção para a rua e percebi que tinha dois homens andando atrás de mim, rindo e conversando, pareciam estar bêbados, então, dobrando a esquina, aparece uma moto com dois homens de capacete, eles vem em minha direção, mas param um pouco atrás de mim, olho para trás e vejo os homens assaltando os dois bêbados que apenas riem e se apoiam um no outro. Começo a correr e chego na casa de Carla todo descabelado.
-QUANTO TEMPO DONA EMÍ... - Carla me olhou assustada ao abrir completamente a porta - Cadê a dona Emília? O quê aconteceu com você?
-Deixa eu... entrar - Falei sem fôlego.
-Entra, mas o que aconteceu? - Estava ficando mais tensa, e derrepente gritou: - JESSIEEE, trás uma água com açúcar, ou melhor, duas.
Apenas ouvi ao longe o: É PRA JÁ
Então Carla sentou-se ao meu lado e perguntou denovo:
-Vai me falar o que aconteceu ou eu vou ter que te ameaçar com uma faca?
-Calma, deixa.... eu recuperar... o fôlego - Relaxei um pouco e comecei a contar:
-Eu estava vindo pra cá sozinho, pois minha mãe estava meio cansada e não pode vir, aí no meio do caminho, quando eu tava passando numa rua deserta, apareceu dois caras bêbados atrás de mim, e uma moto apareceu na esquina e veio na minha direção, nessa hora eu já tava morrendo de medo, acho que não passava uma agulha no meu cu, de tão apertado que ele tava, aí ela parou um pouco atrás de mim, e caras começaram a roubar os bêbados, aí eu corri e cheguei aqui.
-Nossa, você tá bem mesmo? Não fizeram nada com você mesmo?
-Tô sim, mamãe - Falei com sarcasmo revirando os olhos.
-Nunca mais me preucupo com você
-Pode até tentar, quero ver conseguir
-Quengo Corno! - Ri com o xingamento
-Apolo você apareceu - Sr. Carlos apareceu na sala - Cadê sua mãe?
-Não pode vir
-Ah que pena, tantos anos que não vemos dona Emília, ela sumiu.
-Pois é - A campanhinha tocou.
-Parece que a pizza chegou
Depois de rir muito e conversar, botar o papo em dia, me despedi de Seu Carlos e Dona Cátia com um abraço e de Carla com um beijo no rosto.
Chegando em casa, entrei e vi minha mãe jogada no chão desacordada...

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