Quando Você Menos Espera...

Capítulo 1: Denovo Isso?

Acordei com o despertador, sem a menor vontade de ir para a escola, aquele lugar onde as pessoas fingem ser o que não são, vidas perfeitas, famílias perfeitas, férias perfeitas, acham que enganam alguém com sorrisos falsos e abraços que mal encostam uns nos outros, isso me fazia sentir pena deles, e claro que essa não era a pior parte, eu era bolsista, e por isso me tratavam com nojo e repugnância, me zoavam por ser o mais pobre da escola, eu não me considerava pobre, apenas não tinha a mesma condição financeira que aquele bando de metidinhos e patricinhas.
Me levantei olhando para o chão, encarando meus pés, algo estava errado, tudo estava errado, mas não me deixava abater, muito menos me faria de coitadinho, vamos lá, de volta ao inferno...
Tomei um banho rápido e fiz minhas higienes matinais, puis minha roupa e desci a escada, na cozinha fiz meu café e o de minha mãe, peguei uma folha de meu caderno e escrevi um bilhete para ela, olhei no meu celular, MEU DEUS, HOJE É DIA 10/02, É O ANIVERSÁRIO DELA. Desejei parabéns e me desculpei umas mil vezes por não poder ficar com ela nesse dia especial. Olhei a hora: Merda, eu estou muito atrasado, peguei minha mochila, dei uma conferida rápida e corri para a escola.
Ventava muito, pelo visto iria pegar uma baita chuva na hora da saída, estava andando na calçada olhando para o chão quando um papel bateu na minha testa, ah filha da puta. Peguei o papel e tinha uns garranchos, tentei ler enquanto andava, o que me rendeu um tombo numa possa de água e lama da chuva de óntem. Me levantei, guardei o papel no bolso, olhei para o céu e pensei:

QUE DIA MARAVILHOSO, SERÁ QUE TEM COMO FICAR PIOR?

Não sei porque pergunto isso se sei que sim, tudo está ruim, mas dá pra piorar e muuuito, principalmente estudando onde eu estudo.
Cheguei no portão da escola e vi Carla, minha melhor amiga, cheguei perto e a cumprimentei com um beijo no rosto, ela logo foi falando:
-Meu Deus, o que aconteceu com você?
-Caí numa possa de lama, mas vamos entrar, tá muito frio aqui fora e o portão já vai fechar...
-Calma que eu vou alí na minha casa rapidinho pegar uma troca de roupa sua
-Não precisa, vamos entrar logo - Eu estava morrendo de frio, mas sabia que ela não desistiria da ideia de buscar uma troca de roupa minha na casa dela que era ali do lado da escola.
-Tá, vai entrando, eu já volto
-Teimosa pra caramba você em... Vou pra sala, tenta não chegar atrasada.
Entrei na escola, escola linda, muito bonita mesmo, de gente rica sabe? Ás vezes até eu me assusto com a beleza dessa escola, Carla era riquinha, mas era a menina mais simples que eu conhecia, isso que me encantou nela, tinha um jeito de moleque e não ligava pra o que os outros pensavam, eu tentava ser igual ela, não me importar com o que os outros falavam e pensavam, entrei na sala e fui para minha carteira, a última do canto, vi a Kiara na primeira carteira cercada do seu grupinho de paty's piranhas da escola, fazia bullying com todo mundo e saía impune por ser filha do diretor, e do seu lado, Rennan, o famosinho arrogante da escola, Kiara e Rennan eram perfeitos um pro outro, isso me dava ânsia de vômito, fui pro fundo e me sentei, todos me olhavam como se tivesse caído numa possa de lama, talvez porque eu realmente caí numa possa de lama e estejam com o dobro de nojo agora, logo depois chegou Carla, com uma troca de roupas na mão conversando com o professor, veio até o fundo e me entregou a troca de roupas, todos nos olhavam como se fossemos um casal, talvez parecessemos um, já ouvimos milhões de vezes no intervalo comentários do tipo: "Eu acho ela muito rica pra ele", "Será que ela é quem compra as roupas dele", "Aposto que é ela quem paga o sorvete kkkkk". Adivinha o que ela falava em todas as vezes que ouvíamos esse tipo de comentários?

-Que tal vocês cuidarem da vida vocês? Se vocês não tem do que cuidar, comprem um gato, ridículos

Ah, como eu idolatrava ela, ninguém respondia, afinal ela tinha total razão e eu amava ela, mas como amiga, claro, ela me defendia das pessoas, afinal eu era tímido pra responder.
No intervalo eu e Carla percebemos que nossos outros amigos não vieram, Júlio e Fernanda, Júlio tinha dinheiro também, assim como Fernanda, mas tinha problemas familiares que apenas nós três sabíamos, Fernanda já trabalhava e dava duro para pagar a escola sozinha, mas ninguém a zoava pois sabiam o quanto seus pais eram poderosos, o pai dela era prefeito da cidade e a mãe, uma advogada renomada, Fernanda era a mais fechada dentre nós, não sabíamos porque, mas ela era a mais rica da escola, sabíamos que o pai dela tinha rendimento suficiente para dar o celular que ela quisesse todo dia, me perdi nos pensamentos enquanto Carla me chamava:
-POLO, POLO CARALHO, ME RESPONDE
-OOOOOIII, QUE FOI?
-Olha aquilo alí
Olhei e percebi que se tratava de um antigo "amigo" nosso brigando com um outro garoto
-Ai caramba, cadê alguém pra separá-los, eles vão acabar se matando
Então num impulso Apolo puxa quem ele vê como Renato (seu antigo "amigo") e um outro moleque puxa Rennan, que começa a gritar:
-Me solta, me solta filho da puta, eu vou arregaçar com a cara desse arrombado
-Arrombado? Eu acho que o arrombado aqui não sou eu Rennan...
-Vai se fuder seu desgraçado, aaaaah - Rennan consegue se soltar e parte para cima de Renato que desvia, fazendo Rennan me acertar sem querer:
-Sai do meio, pobre viadinho do caralho
Meu sangue subiu a cabeça e percebi que estava a ponto de fazer uma loucura, pulei em cima de Rennan e o derrubei, ia dar um soco em seu olho, mas então percebi que eu sairia sem razão e decidi apenas dizer:
-Cala a boca caralho, não mexe comigo.
O inspetor chega me vendo com a mão fechada apontada para o rosto de Rennan "indefeso" no chão.
Mas por quê ele não se defendeu de mim?