quarenta e quatro

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HARRY

Duas semanas.

Duas semanas se passaram desde o réveillon. Duas semanas se passaram desde que falei para Margaret ir embora.

A chuva insana que persistiu durante esse tempo todo talvez tenha me ajudado a entender o que aconteceu e colocar meu pensamentos em ordem.

Talvez, por causa da teimosia dos dois, tivemos contato zero durante esse curto tempo. Eu não mandei mensagens, ela não mandou mensagens ou me ligou, absolutamente nada. Silêncio.

Nesse tempo, também tentei achar o porquê dela ter mantido aquele trabalho em segredo. Quer dizer, aquilo era uma ótima oportunidade para alguém que acabara de sair da faculdade, mesmo que ela tenha muito talento para capturar as imagens mais perfeitas, ainda não teve tempo de mostrá-lo.

Porque ela simplesmente não podia ter dito? Eu com certeza ficaria feliz, na verdade, estou feliz por ela, mesmo que por causa dessa viagem talvez fiquemos separados mas eu não ligo para isso. Aquele era o sonho dela.

Se ela tivesse me contado antes, com certeza não estaríamos nesse cenário caótico. Porque Maggie sempre complica as coisas?

Também descobri tudo sobre a amizade dela com o Zayn, até a parte que ela não se lembra e o moreno me prometeu de pés juntos que nada sério houvera acontecido. Foi um outro mau entendido.

Como eu queria socar a cara daquele
cara loiro que se referiu a Zayn como o namorado dela. A mídia teria amado isso.

Porque ela simplesmente não podia ter confiado em mim?

Nos primeiros dias eu fiquei enfurecido, com raiva mas depois de criar um buraco na parede do meu quarto e ter que ir para o pronto-socorro por causa da dor insana que estava sentindo na minha mão, passou.

No outro dia, ainda com muita dor na minha mão principalmente no pulso, fiquei de repouso, talvez tenha sido um pouco dramático porém passar o dia enterrado nos cobertores, comendo sorvete e vendo The Notebook parecia uma ótima opção.

Não foi uma ótima opção.

Na metade do filme, a cana começou a parecer grande demais e fria demais, o quarto estava quieto, sem Margaret me abraçando ou falando  a cada cinco minutos como aquele filme era clichê demais.

Odeio ter me viciado totalmente dela. Odeio me ter deixado ficar tão de dependente dela.

Por total egoísmo meu, decido ir em seu apartamento pois não aguento ficar mais um dia sem saber como ela está ou o que está fazendo.

Estou tão apaixonado por Maggie que se ela dizer "me desculpe, H", já é suficiente.

Antes de pegar meu carro e ir ao seu apartamento, decido parar em uma floricultura para comprar um buquê, por mais clichê que isso seja e opto por rosas vermelhas. E assim que dou o dinheiro para o caixa, já consigo ouvir a sua voz meio sonolenta dizendo se aquilo era um trocadilho por causa de seu nome, afirmando que não tinha necessidade alguma de eu fazer aquilo.

Por sorte, consigo estacionar meu carro em frente ao seu prédio, impossibilitando desfazer o lindo buquê em minhas mãos. Como ainda está cedo, para Maggie é claro, não me importo muito com o que estou vestindo, meu cabelo estava preso em um coque baixo, um gorro azul, uma calça de moletom e uma sweater preto.

Subo as escadas pulando alguns degraus, sem conseguir conter a minha ansiedade de vê-la, Margaret iria me matar se eu a acordasse contudo não estou preocupado com isso agora.

Bato na porta uma vez porém Maggie não responde, talvez ela esteja dormido. Bato mais uma vez e ainda nada. Mais uma vez e ainda sem resposta. Será que ela saiu?

Lá pela sexta vez que estava batendo na porta com a minha mão boa, percebo que a mesma está destrancada.

- Maggie? Amor?- Chamo-a, porém é em vão pois o apartamento está vazio. Não vazio no sentido de ela não estar aqui mas vazio no sentindo que não ter móveis, com excessão da pequena mesa de jantar, dos armários da cozinha e a mesa de centro.

Demoro um pouco para entender o que está acontecendo, porque a porta estava destrancada? Ou porque seus móveis desapareceram? Ela foi assaltada? Ou pior, ela está machucada?

Deixo o buquê na bancada da cozinha que também continua lá, notando que existe um envelope branco com um H enorme.

Balanço a minha cabeça, negando a inevitável verdade que agora estava martelando na minha cabeça. Pego o envelope, tomando todo o cuidado possível para não amassa-lo.

Então eu leio.

Leio cada palavra ali escrita, com toda atenção possível e não preciso chegar no final do segundo parágrafo para sentir algumas lágrimas se formarem. E quando chego no final, desisto de lutar contra elas, deixando-as tomarem conta da minhas bochechas.

Então eu leio de novo.
E de novo.
E de novo.

Procuro, naquela imensidão de palavras, o trecho que diz que tudo isso é uma brincadeira de mau gosto. Mas obviamente não acho.

Então eu leio de novo.
E de novo.
E de novo.

Cada vez que meus olhos percorrem por aquelas palavras, meu coração se aperta mais um pouco, ficando mais lento, quase parando.

Leio pelo menos mais cinco vezes até decidir ir embora, tão tão irônico, guardando a carta novamente no envelope e colocando-a no meu bolso. Mesmo que o caminho para meu carro seja ridiculamente curto, deixo as gotas de chuva me atingirem. Jogo o buquê na primeira lixeira que vejo e nem me importo quando algum dos ramos ficam para fora, caindo em uma poça qualquer.

Margaret se foi.
E com ela, meu coração.

the downfall [+hes]Onde histórias criam vida. Descubra agora