Era um dia bonito. Um dia sorridente, porque te faz pensar que o Sol usa Colgate e resolve sorrir, cegando tudo e todos. Não que o Sol tenha dentes, ele não tem. Também não tem como escovar os dentes, sem mãos nem braços nem pés nem... O ponto é que fazia muito sol. Vejo esse casal, sentado no galho de uma árvore. A luz passava pelas folhas e batia neles, como se fosse um holofote particular. Pareciam infinitamente felizes, como se nada estivesse errado no mundo. Deve ser estranho ter alguém que te ame tanto. Alguém que te abrace com tanta segurança que você sabe que não é um sonho. Olhei para meus tênis surrados com aqueles pensamentos em mente. De meu banco frio de cimento, sentia a falta do Sol, da luz, da afirmação de que não estava sozinha. É engraçado como consigo sentir felicidade pelo próximo e logo depois uma melancolia por mim mesma.
Bem, não é como uma tristeza, está mais para um sentimento de que o mundo está te deixando para trás, lentamente. Você fica flutuando em uma piscina sem fundo, sabendo que não tem ninguém para te tirar de lá. Também não é tristeza, não realmente. O mais peculiar é que não é o fato de não ser amado que dói, mas sinto o de não amar, de saber que não sente o mesmo. Talvez seja algo como dividir o coração partido daquele que te ama, mesmo sabendo que você não sente o mesmo. Incomoda estar tão isolada, sem realmente estar. Você pode ter amigos. Pode ter família. Dinheiro. Tudo. Ainda sentiria esse vazio, como uma mensagem de voz corrompida, para sempre presa na garganta, pronta para sair.
As vezes sinto vontade de ter alguém para me importar. Alguém... alguém. Todos reclamam que sentimentos doem, mas é como reclamar que dor de barriga por comer de mais é horrível. Pelo menos você sente. Me dizem que é uma fase, e eu acredito. Ou pelo menos tento. Verdade, sou dramática, mas quem não é? Digo, tudo depende de como está o dia. Ou pelo menos dizem os astrólogos, misticos e outros que sabem de muitas coisas inexplicáveis. Acho.
Talvez um dia eu encontre alguém. Ou algo. Talvez um dia eu não precise escrever sobre isso. Talvez. Tal... vez. Talvez...?
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Contos de uma vida nem um pouco banal
HumorTodo mundo fala que a vida deles é tão normal e entediante que dá até sono, mas, como diz minha mãe, eu não sou todo mundo. Bem, na verdade, não é como se eu fosse agente do governo sabe? Também não sou dessas que vai para lugares perigosos nem faz...