Capítulo 6

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"Oh meu Deus, Suellen." Quase solto um grito ao ver que ela se encontra na cozinha, na cadeira, a comer bolachas de chocolate. Esta lança um sorriso assim que me vê. Sempre achei Suellen muito esperta para a idade, mas isto deixou-me surpresa.

Suellen pegou numa bolacha e apontou esta na minha direção. "Queres uma?" Ela pergunta. "Eu dou-te mana." Mostrei um sorriso, verdadeiro, e peguei na bolacha que Suellen continha na palma da sua pequena mão.

"Mana, posso ir para onde todos os meninos vão?" Arqueio uma sobrancelha.

"Um.. jardim de infância?" Pergunto. Suellen sorri. "Claro." Preciso do dinheiro do meu pai para a inscrever lá, mas vou tratar disso o mais depressa possível, até porque não posso ir procurar emprego com uma criança atrás de mim. Pensando bem, não sei porque não tive esta ideia mais cedo. Com ela num jardim de infância sinto-me mais descansada, por não ter um fardo atrás de mim a cada passo que dou.

Vai ser complicado falar com o meu pai. Para além do seu mau humor permanente, ele nunca está em casa. Raramente o vejo, está sempre nos seus negócios. Basicamente quando acordo antes das nove ainda encontro o meu pai, como ontem. Negócios os dele, que "são o nosso pão." . O meu pai quer salientar sempre que dá a maior parte de sobrevivência para esta casa, mesmo sabendo que toda a gente percebeu a ideia.

"Achas que o pai deixa?" Suellen acorda-me com a sua voz suave e infantil.

"Claro que sim. É para o teu bem." Sinto um arrepio por hesitar mentalmente. Talvez não seja boa ideia assegurar-lhe de coisas que, provavelmente, nunca chegarão a acontecer. Mas, com o sorriso desta é impossível não aceitar.

"Mana." Sue chama-me, e eu viro a cara na sua direção. "Fica aqui em casa hoje."

Eu não posso, tenho que procurar emprego para um dia teres uma vida feliz e sem problemas.

"Okay." Reviro os olhos por não dizer o que queria. Eu quero um emprego, mas quero fazê-la feliz ao mesmo tempo. Não lhe posso fazer muitas vontades, não quero que Suellen se habitue. Já para não tocar no assunto de que ela é uma criança e ainda não precisa de se preocupar tanto, eu acho.

Mas precisas de te preocupar tu, o meu sunconsciente alerta-me e eu tremo.

***

Cansada de fazer zapping, e farta de estar em casa, levantei-me do sofá e dirigi-me à cozinha, encontrando Suellen a desenhar qualquer coisa.

"O que é isso?" Pergunto, assustando-a. Sei que ela se assustou, porque desviou o lápis para a direita, provocando um desiquilibrio do desenho.

"Desculpa querida." Peço desculpas. Suellen esconde o desenho, provavelmente para não ver.

"Ainda falta, espera aqui." Ela sorri.

Após alguns - longos - minutos, Suellen vira o desenho ao contrário e senta-se de lado na cadeira. Quero mesmo ver o que contém aquele desenho. A curiosidade está mesmo a matar-me por dentro.

"Pronta?" Ela pergunta e eu assinto, com a cabeça.

Suellen finalmente mostra o desenho. Está bem desenhado, para a idade desta, embora sejam rabiscos. O desenho aparentava uma menina pequena, que suponho ser ela, e uma senhora. Essa senhora tinha cabelos ruivos curtos. Estavam as duas de mãos dadas, muito juntas uma da outra. Pergunto-me quem é a senhora. Deve ser uma das invenções de Suellen com certeza.

"Está muito bonito Suellen. Quem é esta senhora?" Decido perguntar.

"Tive um sonho com ela." Sue sorri, com os seus dentes, ainda em construção.

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