10) Verdadeiros monstros

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   As mesmas pessoas que nos salvaram nos fizeram entrar no prédio, uma dessas pessoas era uma mulher loira de olhos bem azuis, lembravam-me da última vez que estive em uma praia, vi o mar. A mulher empurrou Rick contra a parede apontando uma pistola para sua cara.

— Desgraçado! Vamos morrer por sua causa! — gritou feito louca.

Por um instante congelei, pensei que ela fosse atirar e acabar com a única pessoa que estava me mantendo segura agora, segurei a manga da camiseta de Glenn chamando sua atenção.

— Faça alguma coisa! — disse assustada.

— Andrea para! Ele tem uma criança! Está assustando ela!

Andrea notou minha presença, as palavras de Glenn fizeram pensar que era filha do Rick, ela respirou fundo tentando acalmar os nervos e então se afastou, ainda desesperada ela pôs as mãos na cabeça mesmo segurando a pistola, estava completamente desequilibrada.

— Vamos todos morrer! Vamos todos morrer! — dizia repetidamente.

Rick encarou o outro homem confuso, ele explicou que ela estava assim por causa dos tiros, do som alto que atraía os mortos, coisa que já tínhamos conhecimento mas o uso da arma foi necessário, não tinha outro caminho principalmente pela quantidade de mortos.

O prédio em que estávamos era de uma loja de roupas, as paredes da frente eram feitas de vidro para mostrar os objetos a venda, eles batiam forte ansiosos por nossa carne e aquele som traziam à tona memórias que me aterrorizavam, a história parecia se repetir, a forma como batiam no vidro da mesma forma como os mortos do mercado onde Hilary fora mordida.

Mais tiros começaram a soar do telhado do prédio, Andrea seguiu para lá e nós fizemos o mesmo pois o vídeo que até então impedia os mortos de nos pegar começara a ceder. Quando chegamos ao telhado encontramos mais pessoas, impacientes e discutindo dois homens começaram a brigar em meio a toda a discussão, permaneci calada e com uma das mãos no coldre pronta para puxar minha arma a qualquer momento, os outros lhe chamavam por Dixon e T-dog, como um bom xerife, Rick tentara parar a discussão se metendo entre eles mas acabou por levar um soco no meio da cara, ele caiu no chão.

O ajudei a levantar enquanto os outros tentavam resolver seus problemas, Dixon estava descontrolado dizia para votarem enquanto balançava sua arma para todos os lados, Rick conseguiu tomar a arma dele acertando-o com o lado oposto.

— Parem de discutir. Isso é inútil agora. Sei que estão assustados todos aqui estamos. — ele dizia, me senti aliviada — Não podemos lutar assim entre nós. Nossa luta é com os mortos.

Engoli em seco, observando cada um concordar com suas palavras, não apenas por usar o uniforme de xerife mas também porque suas palavras não estavam erradas, mas isto era o oposto do que havia aprendido, o mundo agora era dos mortos? Ou podíamos toma-lo de volta?

Rick tirou uma algema do cinto e acabou por prender Dixon em um cano ali mesmo no terraço.

— Você é só um policial! Não pode fazer isso. — Dixon dizia tentando se soltar.

— Tudo que eu sou agora é apenas um homem, procurando por sua esposa e filho, e se alguém tentar se meter comigo ou com ela, — apontou para mim — vai ter que se entender comigo.

Me senti segura, percebi que ele era diferente, agora sabia se proteger e me proteger. Senti um trovejar nos céus, estava escurecendo e não porque chegaria a noite, sentei-me ao lado de Glenn e as outras pessoas pareceram se acalmar.

— Ei, você está bem? — ele perguntou, assenti fazendo-o rir.

— Por que está rindo? — perguntei confusa.

— Acho que você não é muito de falar, não é? — disse me fazendo sorrir — Então, o Rick é seu pai?

— E-ele cuida de mim.

— Entendi.

— Onde está sua família?

— Acho que... morreram.

— Sinto muito, tudo isso aconteceu e acho que muitas pessoas perderam muitos parentes. — ele dizia tentando me reconfortar.

Estava mais prestando atenção no homem preso que não parava de falar um segundo.

— Ele é sempre um idiota assim?

— É, eu acho que infelizmente os mortos não pegam esse tipo de gente. — Glenn disse e ambos rimos.

Ele me deixou assim que pediram para checar o beco, uma das únicas saídas seguras era pelo esgoto foi o que ele dissera e o que eles resolveram fazer. Era escuro, úmido e provavelmente haviam mortos, mas menos que na cidade, eu confiava em Glenn e me trazia segurança saber que agora era ele quem estava no comando.

Voltei para a loja aonde Rick e Andrea também estavam, para encarar os mortos que tentavam entrar, era questão de tempo até o vidro ceder e enquanto Glenn pensava em uma forma segura de nos tirar de lá tínhamos que apenas esperar.

Andrea tentava dialogar com Rick mesmo depois de colocar uma arma em seu rosto, adultos, tentava se desculpar, ao menos não estava mais tão assustadora quanto antes, ela sorriu e tentar aproximar-se se mim.

— Desculpa por mais cedo, aquilo foi... assustador eu imagino. — aceitei suas desculpas e então ela virou-se para Rick — É sua filha? Qual é o nome dela?

— Trinity. Ela é mais uma parceira. — disse fazendo-me sorrir.

— É um nome muito bonito.

Como disse, questão de tempo, os vidros começaram a partir e com a mão em minha arma afastei-me, Glenn surgiu na porta dos fundos bem há tempo.

— Encontraram uma saída? — Rick perguntou.

— Ainda não!

Voltamos ao terraço, em algum momento surgiu a ideia de camuflar-se entre os mortos usando seu couro podre, Rick e mais duas pessoas foram para fora do prédio e retornaram com mortos, usamos as roupas da loja por cima das nossas como uma fantasia para que pudesse cobrir elas de sangue e partes do corpo que uma vez já fora humano. Rick usou um machado para abrir o estômago de um dos mortos, mas antes, verificou seus bolsos, encontrou uma carteira com os documentos do morto e decidiu ler para mostrar como uma vez já foram pessoas como nós.

— Esse é Wayne Turner, ele é da Geórgia e nasceu em 1989, tinha 28 dólares no bolso quando morreu, e a foto de uma garota bonita. — dizia.

As vezes vejo mortos apenas como monstros que querem me machucar, aprendi da pior forma, mas ser lembrada de que já foram pessoas simples como nós, foi importante. Foi quando pensei: Hilary uma vez me ensinara que existem monstros nos quais devemos temer, e eles não estão mortos, eles caminham e agem como nós, mas Rick não é um deles ele é bom, poderia ser meu pai se quisesse, não cheguei a conhecê-lo de qualquer forma.

SOLITÁRIA I, The Walking DeadOnde histórias criam vida. Descubra agora