13) Deixados para trás

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  O céu já não estava mais o mesmo de quando Rick nos deixara em plena tarde, agora ficava cada vez mais escuro e frio e todos voltaram a reunir-se em volta da fogueira como na noite anterior, o jantar era o peixe que Shane nos ensinara a limpar logo cedo, um jantar de verdade.

— Está bom? — Lori perguntou assenti com minha boca cheia, ela riu.

— Obrigada por cuidarem de mim — disse assim que terminei de comer.

— Obrigada por traze-lo de volta.

Não era mentira, talvez Rick não tivesse a chance de reencontrar a família se eu não tivesse acertado aquele morto sem pernas. De repente grunhidos vieram da mata e os mortos interferiram nossa conversa invadindo o acampamento.

— Se protejam!

Lori pegou o Carl e correu em direção ao trailer, Shane começou a atirar nos mortos junto de Andrea e outros que também estavam armados, alcancei minha arma no coldre mas Lori puxou meu braço tão forte que deixei minha arma cair, e alguém acabou chutando-a para longe.

— Não! — gritei, era a arma de James, a única coisa que sobrara de lembrança.

— Nós temos que ir! — Lori gritara fazendo-me estremecer.

Ela e Carol me puxaram para trás tentando proteger dos mortos como Carl e Sophia, passei entre elas e Shane antes que ele pudesse me alcançar, peguei minha arma no chão e atirei em um dos mortos que caiu em cima de mim.

— Trinity! Shane ajuda ela! — Lori gritou ele veio até mim nervoso e atirou no morto que se aproximava, tirou o corpo de cima e me puxou.

— Para o trailer! Agora! — gritou para mim e voltou a atirar — Todos vocês!

  Mesmo recuando continuei à atirar ao lado dele, não errava um tiro, Shane até se pegou apreciando minhas habilidades. Rick finalmente chegou ao acampamento ajudando a matar todos os mortos que apareciam pela frente, assim, o caos acabou e Carl saiu do trailer para abraça-lo, parei para recuperar o fôlego.

— Mandou bem garota. — Shane disse.

Assenti como forma de agradecimento e fui sentar-me nos degraus do trailer, Ed havia morrido e a irmã de Andrea tinha sido mordida, ela gritava alto como se a irmã fosse o motivo de viver e agora todos sabíamos o que teria que acontecer, quem é mordido não dura muito mais tempo, e se torna um deles, estavam todos muito assustados e eu apenas tentava me manter calma, estava confusa, talvez um pouco insegura e preocupada por ser a primeira vez em um grupo, começara a pensar que eles não eram assim tão estáveis.

 O outro dia começou silencioso, sem risadas, sem piadas, nem mesmo o Sol decidira aparecer, mesmo cedo já estávamos todos de pé com muito trabalho para fazer, Andrea ainda não sairá de perto do corpo da irmã, com medo do que os outros poderiam fazer, Daryl, Glenn e T-dog conferiam se os mortos estavam realmente mortos, os juntando para queimar logo depois, com exceção das pessoas que estavam conosco antes, elas seriam enterradas, caminhei pelo acampamento observando cada um de longe, fui encontrar Carl e Sophia perto do lago, sentei-me ao lado deles.

— Será que eles sentem? — Carl perguntou encarando a água calma.

— O que? — disse confusa tirando meu canivete do bolso.

— Os mortos. Será que eles sentem dor?

— Sinceramente espero que sim. Eles merecem sofrer por tudo que fazem. — respondi limpando o canivete.

— Eu espero que não. — Sophia disse chateada.

— Por que não?

— A irmã da Andrea foi mordida, eu não quero que ela sofra.

— Ela tem que morrer — respondi séria.

— Talvez não. Talvez exista outro jeito.

— Não existe, — disse antes que ela pudesse falar algo mais, olhei para Carl que não parecia convencido — eles estão mortos está bem? Estão mortos e se pensar diferente disso... pode acabar morrendo também.

 Voltei para o acampamento pisando forte no chão, os corpos dos mortos já haviam todos sendo cremados e agora estava na hora do enterro, todos estavam juntos, vê-los de luto fazia-me pensar em minha família, se estivessem realmente mortos não teria força para cavar três covas perfeitas para enterra-los, ao menos consegui cremar Hilary. Tentei segurar o máximo para não soluçar, meu rosto queimava e a sensação de segurar as lágrimas era ainda pior do que deixa-las sair, depois do enterro peguei minha mochila com as poucas coisas que tinha, Shane decidiu que devíamos deixar o acampamento, procurar por outro lugar, um mais calmo.

Alguns nos deixaram, não aguentaram continuar, não pensaram que era seguro, não sabia se era o certo se separar e mal os conhecia para uma despedida, partimos para um lugar chamado C.C.D. aonde Rick disse que seria seguro, eu n mesmo sabia o que a sigla significava. No meio do caminho o trailer teve um problema nos impedindo de continuar, uma das pessoa havia sido mordida, um homem chamado Jim, ele foi deixado para trás, como deixei Hilary. Quando partimos encostei a cabeça no vidro do carro e fiquei observando o caminho, pude ver Rick olhando pelo retrovisor, apenas verificando, queria poder saber o que estava pensando, queria que me dissesse que tudo ia ficar bem, virei-me para o lado e acabei adormecendo.

— Chegamos! Trinity acorda! — Carl dizia me empurrando.

Descemos do carro e haviam muitos mortos logo atrás de nós, com a mão sob a arma apertei o passo em direção a entrada do prédio, mal conseguia respirar o cheiro era horrível, comparado a morte, Rick forçou a porta com Shane e Daryl, sabiam que não tinha volta.

— Droga para onde vamos?! — Carol dizia abraçando a filha firme.

  Todos estavam a ponto de desistir, não havia mais para onde ir, estávamos todos cansados e meus olhos mal se aguentavam abertos, Carol me puxara para ficar junto da filha, Sophia sentira minha mão tremer e a segurou como se dissesse: tudo bem, você não está sozinha.

— Rick. Temos que ir. Não podemos ficar aqui. — Daryl dissera preocupado com os mortos.

Quando decidimos finalmente ir embora a porta se abriu e uma luz veio veio de dentro quase me cegando, a luz da esperança. Mas estávamos realmente salvos?

SOLITÁRIA I, The Walking DeadOnde histórias criam vida. Descubra agora