3 meses depois

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Sehun entrou no seu apartamento. Largou as chaves e seus pertences na poltrona e olhou todo aquele espaço vaziu, iluminado pela luz cinzenta da tarde chuvosa que vinha da janelam. Estava tudo cinza.

Seu peito doía, mas ele já estava se acostumando. Logo, aquela dor se iria por completo, finalmente. Talvez, se ele tentasse não pensar, só mais um pouquinho. Se ele aumentasse as horas de plantão, quem sabe? Se você foca toda a sua atenção em algo, a sua vontade acaba sendo satisfeita uma hora, não é isso que dizem?

Esticou os braços para cima e pode ouvir todos os ossos estralarem. Movimentou o pescoço para os lados, e pode ouvir os mesmos barulhos.

Quem ele queria enganar? Aquela dor estava presente já havia três meses. E por que? Ele já não havia sofrido o suficiente? Ele já não havia ajudado gente o bastante?

Aparentemente, não. Sehun não sabia mais o que fazer, ele queria que a vida tivesse um pouco mais de misericórdia, mas não acreditava que realmente a merecia. Devia ter feito alguma coisa terrível em algum outro tempo.

"Ou talvez, eu só esteja sendo dramático."

Mas, nesse dia, havia perdido uma criança. Estava tudo tão a flor da pele. Ele só queria saber o motivo de tanta dor e só isso, naquele dia e em todos os dias dos 3 meses que se passaram.

Sehun não era de se exaltar, mesmo na mais crítica das situações. Lembrava repetidamente da primeira vez que perdera um paciente. Aquela jovem tinha toda a vida pela frente, mas está morta agora.

E a vez que perdera Jongin não deixava seu cérebro.

As vozes não silenciavam da sua cabeça, nem a preocupação e nervosismo. Ele estava tão cansado. Não dormia direito desde aquele dia, estava esperando cair de exaustão logo para poder descansar de uma vez.

Sehun estava no chão, mas não sabia como tinha parado lá. Ele puxava a raiz dos cabelos e seu corpo se movimentava sozinho para a frente e para traz. Ele queria arrancar seus olhos.

Nesses três meses ele não havia bebido, se proibira. Não tinha se deixado levar para drogas. Tentava, mais que tudo, afastar a proposta de suicídio de sí.

Jongin lutou contra tudo aquilo durante sua vida, ele não o perdoaria se Sehun desistisse.

Por outro lado, Jongin dizia que o amava. Ele entenderia.

Mas Jongin não estava mais lá, ele não tinha mais nada a ver com sua vida.

-Porra, - Sehun riu irônico, por entre as lágrimas - tem tudo a ver com ele.

Ele nem percebeiu que tinha começado a chorar, e não chorava havia anos. Ele nem se permitiu derramar lágrimas quando o moreno se foi. E isso causou raiva. Raiva por ter se deixado cativar, raiva por todos os "eu te amo", raiva por todas as transas e todos os carinhos. Sehun morria de raiva por, mesmo depois de tudo que tinha vivido juntos, Jongin tivesse ido embora.

Ele precisava quebrar algo, precisava expor sua bagunça interior, ele precisava, pela primeira vez, que os outros vissem como estava dentro de seu ser.

Sehun se levantou e jogou o primeiro vaso que viu para o outro lado da sala. Os copos começaram a atravessar o ar. Para uma pessoa que sempre preferiu o silêncio, o som de tudo quebrando estava soando como música.

Pegou uma faca na gaveta da cozinha e começou a rasgar os sofás. Ele fez questão de chutar cada maldita tela daquele apartamento. Os pratos, as tigelas, faziam uma obra de arte colorida e pontiaguda no piso. Seu corpo necessitava daquilo e ele se permitiu, pela primeira vez na vida. Então, correu até o banheiro da suíte. Olhou para as paredes. Aquele banheiro, cheio de vidro e espelhos. O banheiro que o moreno havia dito ser o mais bonito que vira na vida.

Ele olhou para o vidro que o refletia, e o encarou. Havia um homem, e Sehun não se espantou, não sentiu nada. Ele tinha a pele suada e o cabelo apontava para todas as direções, o rosto estava inchado e corado por conta das lágrimas e do esforço. A camisa estava meio aberta. Se esse homem chegasse no hospital, os médicos o conteriam na maca, e só o liberariam quando tivessem certeza de que não estava em condições de fazer uma besteira.

Ele decidiu que não tinha medo do homem. E se deu conta de que ele era seu interior contido todo o tempo. Ele, então, socou o espelho na sua frente com toda a sua força, e os cacos se espalharam.

Sangue escorria por todo seu punho. Vermelho e quente. Descia até seu cotovelo e pingava no chão, junto aos cacos. Era só isso que faltava na sua imagem interior retratada pelo caos que causara, um pouco do calor do sangue, mas só um pouco, pois o resto tinha que ser exatamente daquela forma, frio e pontiagudo.

Sehun olhou para o chão, olhou para a luz branca no teto e fechou os olhos. Suspirou. Pôde sentir seus músculos relaxando pela primeira vez em muito tempo. Não sentia o punho machucado, ou melhor, o sentia, tão presente e leve quanto todo o resto do corpo. Talvez até mais.

Ele não sabia quanto tempo havia ficado com os olhos fechados em um estado de torpor. Os abriu, e o sangue no chão havia duplicado, seu braço estava dormente. Saiu da suíte tomando cuidado para não pisar na bagunça e foi para o banheiro central.

Tirou as roupas, lavou o corpo, fez um curativo que cobriu toda a mão direita.

Depois, consciente de toda zona que havia transformado parte da sua casa, fez como todas as noites anteriores e deitou na sua cama.

Porém, diferente das outras noites, Oh Sehun dormiu.

~
Qjwjwbjeenjw eu gosto desse capítulo, acho que ele tem um marco importante. Primeiro capítulo de "depois"

Eu não acho que essa fic vá dar certo porque é confuso de acompanhar, mas vida que segue né

O que será que aconteceu com Kim Jongin? Ele morreu? Ele foi embora? Tá difícil o negócio aí

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⏰ Última atualização: Oct 30, 2017 ⏰

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