•○ Chapter 5 - Consultas ○•

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   O garoto girou a chave na fechadura, recolhendo os envelopes, que se encontravam na caixa de correio. Deparou-se com as contas que já estava tão acostumado, uma revista de moda (que obviamente fora para a pessoa errada) e uma carta de seus pais. Perguntou-se se poderia queimar a carta ou devolvê-la com a revista, mas então percebeu que isso só pioraria a situação, e resolveu manter aquele pedaço de papel ofensivo (sem contar que não sabia qual de suas vizinhas era a remetente daquela revista, já que não conversava com ninguém de seu prédio por pura preguiça, desânimo e ansiedade).

   Suspirou pesadamente, trancando a caixa de correio de seu apartamento, e virou-se para subir as escadas. Naquele momento, resolveu evitar o elevador não só pela sua fobia, mas também porque o transporte era mais rápido, e quanto mais tempo ele levasse para chegar ao seu apartamento, mais levaria para ler a carta, e ele aprovava intensamente tal pensamento.

   Degrau por degrau, a respiração já falha e as pernas pesadas, ele finalmente alcançou seu andar, caminhando até seu apartamento. Girou a chave novamente e adentrou o recinto, tirando seus sapatos e largando suas chaves sobre o móvel da televisão. O baixinho suspirou pesadamente pela segunda vez e tratou de buscar uma caneta e folhas de papel para calcular a quantia que gastaria com suas contas e o quanto poderia gastar com compras naquele mês; recebia uma certa ajuda de sua mãe com seu apartamento, fazia alguns bicos numa boate nos fins de semana e tinha quarenta por cento de bolsa em sua faculdade, mas ainda assim precisava ser cauteloso com seu dinheiro, já que não dispunha de todos os benefícios de seus pais, embora preferisse sua vida de tal forma a ser o garoto de ouro da família.

   Passou algumas horas assim, terminou de assistir um anime, preparou um rápido lamen quando seu estômago passou a doer e então, só depois de comer metade do alimento, finalmente tomou coragem para abrir a maldita carta. Rasgou o envelope e desdobrou o papel, examinando-o bem antes de ler o conteúdo. Só de olhar por cima, reconheceu a caligrafia de sua mãe, o hangul bonito e caprichado e o papel aparentemente caro. Ele suspirou novamente. É claro que seu pai não se daria ao trabalho de escrever uma carta para si. No fundo, ele nem estava surpreso. Sem mais delongas, reuniu toda a coragem que possuía em seu corpo e pôs-se a ler as palavras de sua progenitora.

   “Olá, querido
   Eu sei que receber uma carta de nós nesse momento não parece a melhor ideiado  do mundo, mas precisamos esclarecer as contas, sim? Seu pai e eu agradeceríamos muito se você pudesse ler esta carta com atenção e depois pensar nela com muito carinho, tudo bem? É de extrema importância.

   Entendo que tenha saído extremamente chateado de casa depois da sua última visita, creio que da mesma forma que seu pai tenha ficado, mas peço que deixe isto para lá. Eu conversei bastante com ele e nós resolvemos ouvir o que tem para falar de uma vez por todas e deixar esta discussão de lado. Creio que você também não aguenta mais esta situação chata, certo? Então entramos em contato com o doutor Kim, um profissional jovem e qualificado que tem todas as características necessárias para te ajudar. Dê uma chance para ele, certo? Tenho certeza que ele pode te ajudar com todos os seus problemas de identidade.

   Nós te amamos muito, querido, mesmo que você não acredite em nós às vezes. Quando o tratamento estiver completo, saiba que será bem-vindo de volta para casa, sim? Seu pai e eu pagaremos por tudo. Mas, se soubermos que não compareceu às sessões, seremos obrigados a cortar todos os vínculos que mantemos contigo, isso inclui sua participação no testamento de seu pai e a ajuda financeira com seu apartamento. Peço que considere bem essas opções e escolha o melhor para você. Quando isso ocorrer, será nosso filho de novo.

   As consultas serão todas as terças, no período da tarde. As informações do psicólogo estão no cartão que mandei junto à carta.

Clichê ◇ kth + mygOnde histórias criam vida. Descubra agora