Capítulo 8

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PRIMEIRAMENTE ME PERDOEEEEM A DEMORA <3
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Jonathan


Ir dormir em um lugar e acordar em outro, te dá medo. Como se você fosse um recém nascido, alguém que não sabe se defender. Como se sua impotência lhe corroesse todos os ossos e lhe tirasse os sentidos.

Eu me encontrava em um lugar cheio de espelhos. Para onde eu olhava, em qualquer direção, havia um espelho. E eu me vi pela primeira vez em dias.

Os olhos de outro tom, a cor mais pálida, o porte físico mais severo. A altura maior e as feições mais finas e parecidas com a de meu pai. Eu me encarei pasmo.

Eu sou uma réplica de Piper, só que masculina.

Pensei comigo mesmo. A única diferença era que a boca da quase gêmea era fina, e a minha cheia. O pânico invadia meu coração, era como se eu estivesse preso.

Eu já havia ouvido falar sobre aquilo. Sobre tudo aquilo. Minha mãe, nunca deu um pio sobre... mas meu pai? Ele falava sempre.

No começo pensei que era invenção as histórias que ele me contava para dormir quando era pequeno. Mas então eu cresci, e nada mudou. Apenas o modo como ele contava.

Agora eu era capaz de ver a dor em seu olhar, de ver o desespero, a agonia e o sangue. "Muito sangue derramado" , ele me dissera uma vez. "Uma guerra inevitável em um mundo a muito perdido", ele começava a contar. "Onde todos que são bons morrem", ele sempre terminava com essa frase. Era como se ele quisesse me dizer para fugir, para guardar meus instintos, para desistir de tudo para eu não ter que pagar o preço.

"Tudo de novo, tem um preço. Tudo que somos tem seu lado sombrio. Somos feitos de luz e breu, basta você escolher por qual caminho seguir", ele me contou na manhã do dia fatídico, antes de eu ir estudar.

Ele sempre, mesmo que de forma sutil ou direta, tocava no assunto.

Quando chovia e as ruas se alagavam e as janelas batiam umas contra as outras, ele ficava calado. Sentado na sala, de frente a janela. O vento frio lhe batendo contra o rosto duro e severo.

  A tempestade o deixava triste, pesaroso, como se sua alma fosse arrancada um pouquinho mais a cada trovoada.

"Um rosto que foi moldado por dor e crueldade", me dissera ele um dia quando ousei perguntar-lhe porque ser tão sério, quando eu só via motivos para sorrir.

Eu costumava o chamar de louco, por não entender que eu, seu único filho, havia crescido e que não achava tão mais interessante suas histórias fictícias.

Bem que eu queria continuar achando que eram fictícias.

Meus pensamentos excluíram essa palavra no momento daquele dia, em que um ar frio contorceu meus ossos, e em que me virei para encarar uma garota gritando desesperada.

Piper Carvalho, antiga patricinha insuportável que todos odiavam e amavam e seguiam, estava gritando. Eu pisquei para ver se era real e em questão de segundos, era eu me debatendo e me segurando para não gritar.

Homens de pretos com expressões assassinas e malignas estampadas no rosto, riam e debochavam da garota que antes era quem debochava. Ela parecia cansada, sem forças. Inútil ali, no monte de músculos brutais.

VioletaOnde histórias criam vida. Descubra agora