Violeta

Capítulo 3

Beatriz na mídia, boa leitura!
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-Eu sei que você tem muitas perguntas, mas, enquanto você não tomar um banho e lavar esse cabelo, elas não serão respondidas. Sua roupa vai estar em cima da cama.

Eu assenti e comecei a andar em direção à porta que ele havia me deixado. Olhei para trás e vi que Héctor estava de braços cruzados e virado de costas, como se fosse aguardar ali, revirei os olhos e entrei de uma vez no cômodo. Eu queria ter dado de cara com um quarto incomum para poder chamá-los de loucos, mas não, tudo estava perfeitamente decorado. Os móveis em seus lugares certos, o aroma da casa cheirava a menta, como seu dono. Agora eu podia perceber, aquele era o quarto de Héctor, a cama de casal posta no centro de tudo, quadros de animais ferozes estavam expostos e uma foto dele sorrindo estava na parede lateral. Era como se ele fosse normal, o que de verdade, ele não era.

Parei de observar o quarto alheio e fui em busca da porta que levaria para o banheiro, entrei no mesmo e me olhei no espelho. Quase tive um surto ao reparar na cor dos meus olhos, o preto estava ficando claro, e tomando um tom cinza...? Não. Cinza não, violeta. Um roxo profundo. Mas... como? Será que a melanina dos meus olhos... não, para isso teria que ter cirurgia e não me lembro de ter passado por nenhum processo deste.

Coloquei as mãos na cabeça, eu estava muito confusa, mas a banheira ali na frente estava muito chamativa. Pensei no tempo em que banho era uma coisa rápida, que eu tinha todos os dias, porque sempre acordava tarde e sempre me atrasava. Nunca tinha tempo para comer também, entre várias outras coisas.

Olhei para a torneira da banheira e, sem pensar duas vezes, a abri. Deixei que a água corresse e comecei a me despir, mas dessa vez, não me escondi do espelho, me olhei e me conformei com o quão doente eu estava.

Eu não tinha mais seios e minha cintura estava como aquelas que queremos mas que só algumas tem sorte de ter, porém estava funda, roxos demarcavam minha pressa em chegar na escola a pé, eu saia batendo em tudo até que me machucava. Em conclusão, eu estava horrível, e eu tinha que começar a me cuidar. O que quer que aquele lugar fosse, talvez fosse um começo. Ou talvez fosse apenas mais uma enrascada. Porém, não tem como eu descobrir se é o certo sem nem ao menos tentar.

Entrei na banheira, e me abaixei até ter a cabeça submersa na água, esvaziei minha mente e parei de pensar. O mundo não era tão ruim quando fazíamos o possível para melhorá-lo, e eu não estava fazendo isso, eu estava deixando tudo de bom que eu tinha me ser levado, eu acho que não passava mais que um fantasma para minhas irmãs, e meu pai nem devia me reconhecer. Eu tinha chance de ser melhor, voltar a ser quem eu era, mas só se eu tentasse.

Me levantei e respirei calma e profundamente, me ensaboei e lavei meu cabelo, colocando em minha cabeça a imagem da menina que ganhava todos os bailes escolares, e que tinha uma fila de pretendentes na porta de casa, na garota que ia beber com as amigas e chapava até cair e não se lembrar de nada. Eu queria fazer amizades, Elis e Aline pareciam boa opção, eram como eu... cheias de cicatrizes do tempo e do sofrimento, sorrisos na cara e ótimas ameaçadoras. Bastava fazer algo que as fizessem gostar de mim.

Saí da banheira, após lavar meus cabelos, e me sentia mais leve, olhei pros meus braços e decidi que só faltava uma depilação decente em todas as minhas áreas com cabelos, e aí sim, eu estaria em ótimas condições. Ao sair do banheiro, não me olhei no espelho porque agora eu não era a menina assustada que tinha se olhado ali antes de entrar na banheir, eu era a menina que queria melhorar. E eu ia ser essa menina.

De toalha no cabelo e envolta do corpo, olhei ao redor procurando por roupas, e eu as achei. Um manequim estava ali e nele havia um conjunto de peças íntimas junto com uma blusa e calças.