Crónicas Sem Suscesso

Looping I

Tudo começou em 2052 com a descoberta do tecido neural sintético. Então começaram a produzir dispositivos de armazenamento a partir desse tecido, tipo pendrives de cérebro. Não demorou muito pra um filho da puta ter a brilhante de enfiar isso na  cabeça das pessoas. E então, surgiram os implantes intraneurais.

- Ai vem os androides, vovô?

- Vai com calma piralho, você pediu pra mim contar essa merda, agora senta a bunda e escuta!

Todo mudo queria um desses quando era moda. Mas e lógico, como um bom fodido, minha mãe dizia que explodia a cabeça. A moda ainda era raspar os lados da cabeça, so que se você não tivesse a cicatriz na nuca você era um merda .

Em 2063 foi tudo pro caralho, a cidade server destruída por um meteoro gigante e tudo que estava salvo na nuvem se perdeu, isso fez todo mundo ser obrigado a comprar essa merda. Ate a identidade já era digital, ninguém comprava comida, pegava um ónibus ou transava se na não tivesse um implante. Serio, ninguém te dava chance se não tivesse uma cicatriz na nuca.

Na primeira vez que tive dinheiro para comprar um, já tinham inventado um implante ocular e auditivo. Eu não Tinha grana nem pro Modelo normal, quanto mais pro recém lançado. Acabei comprando de segunda mão o implante usado de um velho chinês maluco que morreu. Como obviamente fiz um implante clandestino, algumas memórias do velho vieram junto por causa dos pedaços de cérebro. Mas era o que eu tinha, pelo menos os miolos do velho trouxeram umas lembranças bem interessantes da esposa dele sem roupa.
Passei muitos anos com aquele implante...

-Quando chegaram os androides, vovô? - interrompeu o garoto

- já mandei esperar garoto!  Mas que droga! Se perguntar eu não falo mais nada.

- tudo bem vovô...

Onde eu estava?... Aaah lembrei, já tinham se passado dez anos, com tempo você precisava apagar algumas coisas desnecessárias para poder guardar mais. Tipo as fotos dos natais em família, lembranças das vezes que suas tias te fizeram passar vergonha ou das barangas que já pegou. Mas eu decidi que era hora de um upgrade, agora eu já era programador na kokuwary e tinha dinheiro pra isso. Fui numa clínica e peguei um modelo novo, de 512 petabytes, quatro vez o anterio, com implante audio-visual e conecção direta com a internet global. Infelizmente, ou não, os pedaços do cérebro do asiático se fundiram com o meu, ou seja a "suzy" - tive que dar um nome depois de um tempo - ainda tava pelada na minha cabeça.

Mas agora eu podia guarda tudo o que quisesse. Filmes inteiros, a trilogia de senhor dos anéis e O hobbt juntas, tudo ali, e eu não precisava nem assistir, todas as cenas estavam na minha cabeça. Se as pessoas ainda fizessem testes por escrito isso seria bem útil. Eu sabia todas as curiosidades do mundo, datas, números, nomes, fisionomias, tudo, sobre qualquer assunto, graças a conxão com a internet . Toda a informação do mundo a Meia dúzia de movimentos oculares de distancia.

Por um tempo eu era a novidade, o cara legal. Mas logo, qualquer idiota sabia sobre qualquer assunto. O mundo se tornou um lugar chato, não existia mais novidade, todo mundo sabia de tudo que estava na rede. So uma coisa salvava os dialogos e fazia a conversar com alguém valer a pena, as informações pessoais. Viagens, situações constrangedoras da infância histórias ode você se da mau. Tipo as fotos do natal em família e histórias engraçadas que eu apaguei. Me tornei um fracassado tagarela.

- e o que você fez vovô?

Eu tentei relembrar a porra memorias para te-las de novo, mas não era possível. Eu sabia que havia uma memoria, sabia que alguma coisa tinha acontecido, mas não me lembrava, nem nem fundendo, de como tinha acontecido. Quando se apaga uma memoria não e como se ela nunca tivesse existido, você sabe que ela existe sabe que estava ali mas não esta mais, simplesmente um grande vazio. Você e apenas um grande monte der merda, com a cabeça cheia de coisas que os outro botaram lá. So mais um na grande consciência coletiva, quase que vegetante.
 
  Outono dê 78, eu estava voltando pra casa depois de ser demitido. Por se considerado " procrastinador e petulante" - palavras do chefe - Isso e o que se ganham depois de enrolar duas semanas pra digitar um softwer e depois mandar seu chefe ir se foder. Nesses cinco anos, não lembro de nenhum dialogo maior do que minutos antes de ser chutado da kokuwary.

Eu não tinha mais nada pra fazer, a não se beber ate meu seguro desemprego acabar. Então fui pro Bastard's, bar mais próximo do trabalho. Apesar do nome, as pessoas la sempre pareceram bêbadas felizes, e na pior da hipóteses eu ia ficar só bêbado.

Depois de tomar umas seis ou vinte  cervejas, e ser rejeitado, ate da amiga baranga da moça mais feia do bar, eu decidi parar de tentar. Foi ai que vi o filho da puta do meu velho amigo Richard, ele era o cara mais feio que eu já tinha conhecido, mas estava em um terno caro, rodeado de gostosas e pagando a rodada pra todas que mostrassem os peitos.

Depois de contemplar uns cinco belos pares de peitos, decidi ir falar com ele, afinal sempre fomos chegados. E antes que eu desse o quinto passo na direção dele ele me viu, e me gritou. Apesar de estar pagando toda aquela bebida ele ainde estava sobrio. Me perguntou sobre como ia a vida, e todas essas coisas que ninguem quer saber realmente.

  Quando perguntei como ele estava conseguindo bancar todas aquelas gostosas ele disse que tava trabalhando em um emprego novo, que não podia falar o que era, mas pagava muito bem. Então eu dei a boa nova pra ele, contei do chute que levei e de como era bom estar fora de la.

  Cara, ele ficou mais feliz do que eu, pagou uma rodada do whisky mais antigo do Bar pra todo mundo. Tirou do bolso um cartão de prostituta e escreveu um enderesso. Ric disse que se eu quisse um emprego os patrões dele estavam prescisando de um programador. Ele pagou a comanda e se despediu - amanhã 8 horas, não se atraze nem se adiante - saiu do bar chamou um aero-taxi e partiu.

E eu fiquei la, sem entender nada. Uma hora depois de ser demitido ja tinha outra proposta de emprego. Eu não era um cara sortudo, sabia que ia me fuder. Mas o que eu tinha a perder?