Estou neste momento sentada no banco do avião com o meu irmão gémeo à minha esquerda, à janela, e a minha mãe à minha direita. Ambos dormiam, o Fábio tinha a sua cabeça apoiada no meu ombro. A minha mãe também dormia com a cabeça para trás encostada ao banco. Tinha os fones nos meus ouvidos e ouvia a Wonderwall dos Oasis. E porquê? Porque esta era a música preferida do meu pai. Ele estava sempre a cantá-la. Enquanto trabalhava, enquanto cozinhava, enquanto tratava do jardim, de que a minha mãe tanto gostava, para a agradar e no final do dia arrancava uma rosa vermelha de dava-lhe terminando com um beijo apaixonado. Adorava ver aqueles momentos, ver os meus pais apaixonados e saber que nada os iria separar, era simplesmente a melhor coisa do mundo. Ao lembrar todos estes momentos, um lágrima escorreu pela minha bochecha e não conseguindo trava-las, mais rolavam pela minha cara. É neste momentos que damos mais valor quanto perdemos alguém. E é nestas situações, que nos lembramos dos mais pequenos detalhes que no momento não achamos relevantes, nos momentos que até os gritos de dava quando ele me assustava e o quanto ele ria da minha cara. São estes momentos que quero relembrar. Vou sempre relembrar o meu pai com uma pessoa feliz, com sentido de humor, humilde. Ele tinha sempre as palavras certas para me dizer nos momentos menos bons, os abraços que me dava, as vezes que se deitava comigo até eu adormecer, as história que ele contava a mim e ao Fábio quando éramos crianças. Vou sempre lembrar disso.
Quando dei por mim estava a soluçar e senti uns braços à minha volta e encostei a minha cabeça no seu ombro. Só pelo toque soube que era o Fábio.
"Shhhh. Está tudo bem, não chores." Reconfortou-me embora conseguisse perceber que a sua voz estava trémula.
"Eu tenho tantas saudades do pai." – disse entre soluços.
"Eu sei, eu também tenho muitas saudades dele. Mas de certeza que ele não quer que fiques assim. Ele quer que te animes, que sorrias e que lembres apenas as coisas boas."
"Eu sei Fábio. Mas eu não me conformo, porque é que lhe tinha que acontecer uma coisa destas? Logo a ele que era a melhor pessoa do mundo?" disse enquanto limpava as lágrimas que não paravam de cair.
"Eu também não. Mas agora temos que seguir em frente, era isso que ele queria."
"Eu nunca mais vou ser a mesma. Uma parte de mim morreu naquele dia com ele." Chorei.
"Não digas isso, não é isso que ele quer." Suspirou. "Lembras-te quando estávamos todos sentados no sofá e o pai fez-nos prometer que iríamos ser felizes acontece-se o que acontecer?" Assenti. " Então pronto é isso que vamos todos fazer. Não queres cumprir a promessa que lhe fizes-te?"
"Claro que sim, ma..." Interrompeu-me.
"Mas nada. Vamos fazer o que ele queria, ele só quer o que é melhor para nós. Lembras-te das vezes em que ele dizia que iríamos encontrar alguém que nos ame e nos faça felizes? Lembras-te quando ele disse que iríamos ter filhos fantásticos como nós éramos para ele?" Assenti "Não acreditas nele?"
"É claro que acredito." Suspirei " Mas não estou preparada para deixar o pai depois de 16 anos. Nós só estivemos com ele 16 anos. É muito cedo para ele ir." Chorei ainda mais no seu ombro. Senti algumas lágrimas a baterem na minha cara. Ele não disse mais nada, apenas me fez festas no meu cabelo até que adormeci e adivinhem com quem sonhei? É verdade, sonhei com o meu pai da vez em que fomos ao cinema. São estas pequenas coisas que vou sempre lembrar.
"Ana, querida acorda." Pela voz reconheci que era a minha mãe que me chamava. Devagarinho comecei a abrir os meus olhos mas fechei-os no instante seguinte devido à luz que passava pela janela do avião. "Querida, já chegámos a Londres." Disse sorrindo levemente. Sei que ela também está a passar por um momento muito difícil, quer dizer, todos estamos. Ela perdeu o marido, perdeu a pessoa que amava e sei que nunca mais vai amar tanto alguém como amava o meu pai. Com isto não quero dizer que não quero que ela encontre mais alguém, porque quero, ela merece ser feliz e sei que o meu pai também quer que isso aconteça. Nunca ninguém vai ocupar o lugar do meu pai, mas quero que ela encontre alguém que a faça fazer especial e amada como o meu pai a fazia. Mas apenas daqui a alguns anos. "Ana? Ana? Ana?" Abanou-me.
"Desculpa mãe." Olhei para o lado e fiz uma cara confusa. "Onde está o Fábio?" A minha mãe ia responder mais foi interrompida.
"Já com saudades minhas, maninha?" Sorriu.
"Claro que sim mano." Levantei-me de repente e abracei-o bem forte. "Eu adoro-te mano" Enterrei a minha cabeça no seu pescoço.
"Eu também Ana, eu também." Abraçou-me ainda mais forte.
"Quem me dera que o vosso pai pudesse ver isto." Disse a minha mãe com uma voz trémula, limpando uma lágrima que lhe caiu pela bochecha.
"Oh mãe." Disse e eu e o Fábio abraçámo-la. Ficámos assim durante um bocado.
"Bem, chega de choros, temos que ir meninos." Disse a minha mãe quebrando o abraço e levantando-se. Seguimo-la, fomos buscar as nossas malas e seguimos para o carro. A minha mãe conduzia, o Fábio ia ao seu lado ouvindo música e eu estava nos bancos de trás a olhar pela janela. As casas são diferentes das que estou habituada a ver em Portugal, mas são lindas. Havia bastantes espaços verdes em que se via crianças a brincarem com os seus pais. Sorri ao ver aquele cenário e ao lembrar-me de quando eu e o Fábio nos divertíamos no parque com os meus pais. Passamos por muitos prédios, só se viam pessoas apressadas de um lado para o outro, tendo que bater nas outras pessoas para passarem sem sequer olharem para trás. Porque eram assim? O que eu aprendi com isto tudo é que a vida são dois dias. Temos que aproveitar todos os momentos com quem mais gostamos, porque tudo o que é bom acaba depressa.
Chegámos ao nosso destino. Saímos do carro e vimos uma casa linda. Tinha em jardim lindo para a minha mãe plantar as suas flores, tinha primeiro andar e uma varanda que suponho que seja para um dos quartos. Sem mais demoras, entrámos e começámos a explorar a casa. Adorei. As minhas suspeitas estavam certas, aquela varanda era de um quarto que agora era meu. Depois de explorarmos toda a casa, sentámo-nos no sofá para descansarmos um pouco.
Tenho esperanças de que esta nova etapa da nossa vida, vai ser melhor do que esperava.
Espero que gostem :)
Votem e comentem :)
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An Unexpected Love (Zayn Malik) Completo
Ficção AdolescenteSabem aqueles momentos em que tudo está bem e no segundo seguinte tudo desmorona? Pois eu sei bem de qual é a sensação. Estou a passar por esse momento agora. Num minuto tudo estava bem e a seguir temos que mudar a nossa vida para que as más lembran...